12.8.08

"Melhor ajoelhar, pois a pontada aguda nos joelhos era uma distração da terrível quietude. Uma prece. Certo, uma prece: por motivos sentimentais. Deus todo poderoso, lamento ser agora um ateu, mas o senhor leu Nietzsche? Ah, que livro! Deus todo poderoso, vou jogar limpo nesta questão: vou lhe fazer uma proposta: faça de mim um grande escritor e eu voltarei à igreja. E lhe peço, caro Deus, mais um favor: faça minha mãe feliz. Não me importo com o velho; ele tem seu vinho e sua saúde, mas minha mãe se preocupa tanto. Amém."
(ask the dust, john fante, p. 21, tradução roberto mugiatti)

"Deitado em minha cama, pensei sobre eles, observei as bolhas de luz vermelha do Saint Paul Hotel saltarem para dentro e para fora do meu quarto e me senti miserável, pois esta noite agi como eles. Smith, Parker e Jones, eu nunca fora um deles. Ah, Camilla! Quando eu era garoto, lá no Colorado, eram Smith, Parker e Jones que me magoavam com seus nomes horrendos, chamavam-me de carcamano e sebento, e seus filhos me magoavam, assim como eu a magoei esta noite. Magoavam-me tanto que eu jamais poderia me tornar um deles, empuram-me para os livros, empuram-me para dentro de mim mesmo, empurraram-me para fugir daquela cidadezinha do Colorado e às vezes, Camilla, quando vejo seus rostos, eu sinto a mágoa de novo, a velha dor, e às vezes fico feliz por eles estarem aqui, morrendo ao sol, desenraizados, enganados por sua insensibilidade, os mesmos rostos, as mesmas bocas duras e secas, rostos da minha cidade natal, preenchendo o vazio de suas vidas debaixo de um sol abrasador."
(ask the dust, john fante, p. 48/49 tradução Roberto mugiatti)