26.11.11

medida de tempo

e se fosse possível enxergar em meio ao cinza tecidos esvoaçantes
no ritmo da música
acompanhando o toque do piano
as mãos conduzidas pela leveza do som e do vento
movendo-se em gestos leves
delicados
ignorando o tempo que corre
deixando mais um trem passar
fazendo de conta que não existe medida no espaço
correria
medo
ansiedade
pra só ir embora
ficar
deixar ser
naquele momento que é tudo
que é vento travestido de movimento e de som
que é vida porque pode ser apreciada
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hoje é véspera do meu aniversário de 29 anos, o ano já acabou, mas insisti em demorar vagarosamente em cada último dia. no compasso de seu vagar, apegado a um 2011 intenso, aumenta minha ansiedade, o frio na barriga de quem tenta planejar seus dias em vão, futuro? não, falo apenas do amanhã ilusão, amanhã mistério,  surpresa, desafio, incerteza, amanhã presente, é só o que posso desejar esperançosa.

de 25/11/2011

22.11.11

deslocamento

a cada retomada das palavras uma surpresa, procuro papel e caneta como quem procura água na sede, no encontro me deparo com palavras de outros tempos, as vezes de 1 ano, as vezes mais, as vezes menos. esse escrever meio solto em diversos lugares talvez traduza meu jeito de ser tão intensa e tão dispersa, sempre lidando com sentimentos conflitantes, quase sempre distantes da minha realidade.

estava com uma ideia na cabeça sobre como nos parecem as pessoas, como lemos suas personalidades, ações e intenções conforme a situação. se fazemos isso o tempo todo instintivamente, exatamente o oposto tão certo deve acontecer com os outros, lendo e interpretando nossas ações, minhas, através do véu, da atmosfera da situação. qual o problema? nenhum.

assim como venho tentando aprender sobre a impermanência de todas as coisas, mais uma vez me deparo com essa difícil lição, a cada momento com uma aparência e particularidade, mas sempre a mesma, sempre incômoda.

a impermanência das situações, do nosso ser com o outro, hora íntimos, hora estranhos, amigos, rivais, lado à lado, em lados opostos, e não precisa ser assim tão oposto pra já ser diferente, basta estar em outra perspectiva. e o confronto com o desconhecido já começa, tento lembrar de como construí uma relação com essa pessoa, do que fomos um dia, tento resgatar essa história com a esperança de que o novo momento construído, a nova situação em que somos protagonistas, faça sentido. sim, pra mim não é nada fácil mudar, me apego as relações construídas e a cada novo passo no sentido do amanhã me vejo obrigada a desfazer laços e construir outros sentidos, tentando não me perder, tentando ser o que sou mais o que ganhei na troca com o outro que em algum momento esteve tão conectado a mim, sintonizado na mesma vida, na mesma frequência.

e que agora segue seu caminho para outro lado. por que assim é a vida e continuar significa inevitavelmente fazer escolhas, ESCOLHER, certamente meu maior medo é de que ninguém mais escolha o caminho que escolhi, e então terei me esforçado tanto para seguir sozinha.

sabe aquela história de se sentir deslocada e estar sempre do lado ao contrário onde o grupo está. (criar laços deveria ficar mais fácil a medida que o tempo passa?)

culpo sempre o sistema, a correria, a rotina, o tempo que falta enquanto estamos prá lá e prá cá dentro de túneis e de prédios cinzas, mas será que é isso?

será que sigo no sentido do deslocamento assim como o planeta Melancolia em direção à Terra.

são tantas questões o tempo todo e quando me deixo seguir automaticamente na correria das necessidades, de repente, num salto, me deparo com uma cratera, um penhasco, um vazio.