22.12.14

amor


monotipia - cleiri c.

de repente senti uma angústia, o peito apertado, queimando, uma sensação estranha subindo do meio da barriga pro rosto, chegando nos olhos, querendo sair.

não sei se é medo por não saber como agir, o que esperar, por não achar que tenho, que sei, que posso.
medo de me desconectar, te perder, não ter onde me segurar, de não saber de você, não receber sua resposta.

senti ciúmes de cada parte sua, dos seus pensamentos, do seu coração, do seu corpo.

e não cheguei a conclusão alguma.
por mais que eu me determine a certas coisas, não faço ideia de como elas vão acontecer dentro de mim.
não sei o que quero.
mas sei que não consegui imaginar como seriam muitos dias longe de você, e me apeguei tanto a todos os dias que pudemos estar juntos, porque já estava sentindo sua falta.

nem sei se você se deu conta, do exagero.
e tive tanto medo de dizer que te amo, mas sinto, sinto demais.



24.11.14

meio doce, meio bruto

   







terra seca
garoa
sol
vento
água

um passo que tenta ser firme nos pedregulhos
um caminhar pelos pensamentos
que escapa

e nesse jeito de seguir
você passa a compor minhas imagens
texturas e gostos

confundo o fundo do horizonte
com a sensação do toque no seu rosto
como minha mão que escorrega pelas suas costas
e desenha uma montanha, lago, nuvem, riacho

a umidade do ar tem o gosto da sua boca
o entrelaçado das árvores
lembra nossa conversa emaranhada de anseio, vontade e afago

sigo misturando os sentimentos
na transmissão ruidosa dos meus medos

e na conversa mansa
de costas curvas, cadeira de madeira e olhar fosco
tudo se aquietou aqui dentro

a origem dos silêncios todos
do desassossego, do instante, da paciência
desse jeito meio doce, meio bruto

dessa vida contida
que precisa escapar

e quer
numa noite fresca


17.11.14

na minha




dormi pesado
junto dos sonhos cor de madrugada

o corpo moído não parou de doer
não queria levantar
todo errado

padronizado

a textura do travesseiro me fez sentir sua falta

fiquei mais um pouco
só pra sentir o tempo

ilhada: nem bom dia, nem talvez

só pra sair longe
as vezes é assim, nada passa sem rasgar

e no peso de ficar solta
me senti vaga

bambeando na linha fina
das fechaduras
das veias,
do paletó
e do vestido

na bagunça do meu coração
do sangue
da ira
na minha




4.11.14

presente, distante


caderno, 1989, Leonilson

essa saudade que vem brincar de tirar meu rumo
me distrai, encanta, enreda
toma conta dos espaços
abre portas esquecidas
passa suave como vento pela nuca
conta mentiras no meu ouvido
quer ser maior que eu
quer amar a dúvida
se esconde na minha cama
passa ligeira a mão na minha barriga
sente o ar que sai da minha boca
acha graça dos meus sonhos surrealistas

essa saudade
que insiste em ser vontade

essa saudade
que te faz presente
que te faz distante

que não quer saber de sossego
até te absorver


3.11.14

tão frágil como um segundo




na angústia dos sentimentos
recorro à música
à voz doce
carregada de marcas
ao violão
feito de poema
ao amor das mulheres
que não hesitam
sentem
mesmo com medo
mesmo que a vida não deixe
não podem evitar
o desejo irremediável abriga seus corações
ora desgovernando a rotina
ora impulsionando o salto

e tantas noites passam e passam
muitas feitas de sonhos
algumas de sonho realizado
de cena de cinema
de esquete desengonçada
biografia
fotografia
nota
rabisco

deixo logo tudo aberto
solto a força das mãos
fico apenas com o toque suave
deslizando
nas minhas vontades
em cada encontro e despedida

fica
volta
chega
logo
bem


27.10.14

nouvelle vague




se apaixonar
é como ganhar um olhar 
numa cena da nouvelle vague
é como sentir o lençol escorregando 
nos seios de Clarisse 
no quarto do pianista
é como contar em segredo até dez
pra tomar coragem
pegar nas mãos, dar o braço, apertar os olhos
dar risada 
num filme de Truffaut
é estar com o corpo quente 
e sentir frio
com o corpo gelado
suando quente
é querer contar todos os medos 
por medo de perder
é sentir saudades 
antes da despedida
é querer guardar na lembrança
na pele
e no gosto
cada instante

é perder toda prudência
na primeira esquina


* só encontrei a cena em italiano, ela é linda em qualquer idioma...


11.10.14

esqueça, deixe pra lá




não quero não
saber de conselho
fui escolhendo sem querer
me perdi
e confundi todas as coisas

quis
procurei
fugi
fui fisgada por essa combinação
de amores

amores doces
brutos
sonhados
amores feitos de dia, suor e correria
feitos de noite, música e toque suave

de gente
de vontade
de mulher, homem, sexo, palavra
olhar, mãos, abraços
gestos, vozes
de devaneio




8.10.14

a parte toda insistência do mundo




o peso da rotina
arrasta o tempo
e quer nos tirar toda chance de sonho, amor, alegria

entre um intervalo e outro
paro de pensar em tudo
faço qualquer coisa torta ou ao contrário
só pra me sentir viva

chego em casa
tranco a porta
me perco na bagunça dos dias
dou uma volta
fujo de compromissos
e de qualquer coisa que não seja noite, dia, tempo, beijo

a parte toda insistência do mundo
só quero conseguir respirar
sentir o corpo
não sentir dor
reencontrar as pessoas
o doce e o azedo
embriagar
perder o medo
fazer amor


5.10.14

na saliva




talvez algum dia
dia sim
dia não
intercalado na cadência do samba

e se quiser
fica mais um pouco
chama
me puxa pelos punhos na sua direção
me deixa nas suas mãos

fala de paixão
de saudade
me aperta contra o peito
como abraço de despedida
como beijo de partida

bagunçando a ordem das coisas
desfazendo sonho
existindo
no cheiro, na pele,
na saliva


2.10.14

sentimentos





algumas músicas chegam
como vento forte carregado de folhas
na oscilação da voz
contam a história de todos os tempos

do tempo que se perdeu
de cor e sangue
alma e dor

cada toque suave e intenso no piano
é feito para nos transportar
e nos romper

a pele negra que brilha
de carne rija
e desejo veemente
transpira rouca sua canção

nos enchendo de uma mistura de angustia e alívio
por experimentar essas sensações
por existir

da fraqueza
nos faz fortes
e de cada nota
nos faz música,
tessitura
e desafogo

27.9.14

a instabilidade de todas as coisas




você ultrapassa todos os limites do exagero
e me faz perder o sentido
do que é real
de quem é você
e de quem sou eu

me confundo com as mensagens
me contradigo
me perco
numa lista infinita de desejos
e em poucos minutos de contato

o sonho é tão grande
é maior que eu!
e inevitavelmente vou me sentindo pouca

me sinto como a espectadora
dos meus filmes favoritos
sentada na primeira fileira
quase tocando cada cena
que passa, passa e passa rente...
dos olhos, das sensações, de mim

...

e vou seguindo
me colocando inteira
chegando aos pedaços
me perdendo nas contradições
do querer e do pertencer

me vejo solta na falta de medida
ora de amor
ora de dúvida
queria não me sentir coisa
objeto distante
sou a alma e a carne feita das necessidades mais comuns
amor, cuidado, desejo

e as vezes volto a me sentir
só como aquela menina
que perdeu seu chão e seu amparo
nos devaneios da vida
e só precisa ser acolhida num abraço
e encostar o rosto num ombro seguro

que inevitavelmente sofre
porque se depara com a instabilidade de todas as coisas



20.9.14

116 dias!


Assembleia 116º dia


nos desacostumamos a sonhar e no começo achamos estranho, mas existem pessoas que passam suas vidas, dias e noites vivendo lutas e experimentando pequenas revoluções, digo pequenas porque esses camaradas sonham grande, muito grande e não vão parar.

por isso mesmo, essas pequenas revoluções causam gigantes transformações nas vidas das pessoas que cruzam seus caminhos!

transformações que nos tiram de uma realidade de exploração e olhos fechados, de uma rotina que macera nossos corpos e nossa vontade de transformar nossas vidas, e toda vida a nossa volta.

essas companheiras e companheiros ignoram qualquer lógica que queiram nos impor e lançam suas forças corajosos, destemidos e incansáveis, nos puxando com a verdade de suas crenças em um mundo mais justo. quando esse fenômeno encontra reflexo no anseio e nos corações de mais e mais pessoas, coisas incríveis acontecem.

uma greve vitoriosa de 116 dias! uma grande batalha vencida, mais um passo no caminhar de um grande sonho, uma vitória política e social, na qual incontáveis pessoas experimentaram a força que possuem em suas existências, acreditando que unidos somos uma classe de trabalhadoras e trabalhadores que podem determinar seus destinos e o futuro de seus filhos.

frente a toda intransigência e falta de respeito nos mantivemos em pé e chegamos até o último dia dessa batalha, com corpos cansados e machucados sim, mas com um orgulho e uma alegria por estar ombro a ombro com tantas companheiras e companheiros valiosos, que fazem transbordar nossos corações e nossa vontade de continuar acreditando que esses sonhos são possíveis.

só posso agradecer por ter a chance de viver esse momento histórico e transformador. e agradecer por ter ao meu lado companheiras e companheiros tão fortes e corajosos!!

é impossível nominar todos, mas faço questão de falar de alguns aqui, eles representam todos os outros.

Amanda, uma amiga que partilhou comigo todos, todos os momentos, desde os medos, dúvidas e incertezas, até as alegrias, superações e grandes surpresas de enxergar que nossos sonhos mais pessoais se entrelaçam com essa história de lutas.

Andrea, ou melhor companheira Guerra, e companheiros Michel, Gustavo e Daniel, amigos nos momentos difíceis e alegres, grandes fortes em todas as passeatas, assembleias e atos, companheiros animados nos momentos de pequenos intervalos que garantiram a alegria e a força para continuar.

Binho, Paulão, Malu, Zé Mario, Décio, Edgar, Ilka, Aninha, Alexandre, Caixa, Ezequiel, Da Zona, Nigéria, Miriam, Luiz, Tadeu, Rildo, Gedeon, Dona Lucia, Elena, Xôxo, Tonho, Fernanda, Adilson, Everaldo, entre tantos, mas tantos mesmo, fortes e bravos companheiros de Prefeitura, que me ensinam tanto desde o meu primeiro dia na USP, e que só por causa deles também, pude construir o caminho para participar dessa grande luta.

Brandão, Diana, Pablito, Gilga, Cleber, Neli, Magno, Bruno Coturri, Solange, Dini, Patrícia, Giovanna, João, Alexandre, André, Babi, Marcelo, Felipe, Luiz, Reinaldo, em nome de tantos outros companheiros, que pude conhecer melhor dentro do SINTUSP - Sindicato dos Trabalhadores da USP, nas reuniões do comando de greve e nas assembleias, onde pessoas de diferentes correntes políticas e independentes se respeitaram a todo momento, dando o justo e verdadeiro espaço para que representantes de todas as Unidades da USP, participassem e levassem a posição se suas reuniões de base, garantindo a enorme força e legitimidade da greve entre todos os trabalhadores.

pessoal dos Movimentos Nossa Classe, Pão e Rosas, Juventude às Ruas, Ler-qi, Metroviários pela Base, Negação da NegaçãoTerritório Livre e Coro de Carcarás, que estiveram presentes todos os dias participando de uma mesma luta, ampliando o debate político e a força do movimento conjunto. Mostrando que é com presença e força nas atividades de todos os dias que se faz uma luta. Nos acampamentos, piquetes, rondas, passeatas, trancaços, cantinho das crianças, debates, seminários, atos, nas vozes e tambores.

é, é uma tarefa realmente impossível falar de todos!!


14.9.14

sentir




vou tentando me concentrar

o tempo traiçoeiro
continua me puxando

guardo escolhas
são poucas as que tenho nas mãos

aquieto meus enganos
deixando para os sonhos os impulsos imediatos

enquanto isso vou seguindo
meio atordoada

ouvindo músicas novas
misturando conversas com poemas

confundindo coisas
esquecendo os emaranhados que criei

desacreditando certezas vindas do medo
e verdades amplificadas da idealização

ainda enredada nas cenas e trilhas
tão encantadoras

lembrando como é
sentir



11.9.14

mulher-rotina


desenho da Ju

quando a confusão se instala
se espalha
dentro, em volta, numa conversa despretensiosa
na tentativa de retomar o ponto de partida

dispara o ponteiro do relógio
arrasta as horas
inverte o dia pela noite
tira o sono
dorme

a confusão vai seguindo misturada
as vezes pesa mais
as vezes vira piada

mentira ligeira
filho, amor, casa, greve, conversa com a diretora
professora, filho, casa
mercado, feira
contas vencidas
poesia, dia
assembleia, passeata
noite, beijo, greve, casa, filho, encontro
corte de ponto
ameaça
ato
pizza, sol, abraço
lava, limpa, guarda
meia suja, chulé
conversa jogada fora
conversa séria
medo, casa, amor, filho
vontade de não fazer nada
vontade de fazer tudo
leva e trás
o ônibus que não passa
semana de provas
dentista
informação
propaganda eleitoral
contradição
a conta de luz dobrou
toda noite falta água
reposição de horas
verdade atropelada
janta atrasada
beijo e abraço de boa noite
encontro
sono
filho
coragem
vontade
cansaço

tudo parece demais

volta,
volta tudo
e recomeça


ps. essa poesia aí de cima tem um tom meio leve, quase de brincadeira, pra mostrar um pouco da minha rotina, tem coisa boa e tem coisa difícil, as vezes é melhor, as vezes dá vontade de fugir, não ter vergonha de assumir isso é parte de um processo importante de reconhecer que nem tudo é tão natural e cor de rosa assim, como nos sonhos de menina que nos querem vender desde tão cedo.

e no encontro com tantas mulheres batalhadoras vai ficando cada vez mais claro o quanto o peso de uma rotina é planejado, o quanto é culturalmente construído e conveniente. são muitas, muitas horas e pensamentos tomados.

aí começa essa conversa de natureza masculina, feminina ou maternal, de que todos tem sua chance e cada um é responsável por seu sucesso, romantismo, religião, família (qual família?), necessidade (de/para quem?) e tantas outras verdades tão convenientes.

quando paramos pra pensar em mulheres com realidades mais duras, com trabalhos ainda mais precários, muitas vezes não se trata mais só de filho em casa sozinho, o que já é angustiante pra uma mãe, é o peso de uma sociedade exploradora caindo em suas costas de todos os jeitos,  é filho sem professor na escola, quando não perseguido e assassinado por policial. tento imaginar o peso da rotina para essas mulheres, é desesperador. não dá pra achar normal.



10.9.14

alguns dias


Liniers_torcido

alguns dias são bons, outros ruins, não gosto de escrever sobre os ruins, mas desde criança foi esse o jeito que aprendi a separá-los de mim, de continuar inteira.

nesses dias mais difíceis sinto uma saudade que vem lá das entranhas, talvez o nome mais correto seja desamparo. é uma sensação de solidão, de abandono, como se estivesse tão solta de tudo, que perdesse meus pais, irmãs, filho e amigos. como se ficasse tão estranha, que não pudesse ser reconhecida, sentida ou vista. me torno invisível.

me torno um fantasma de mim, um espectro de pessoa e dos sonhos que carrego. me torno um corpo pesado que só pode transbordar lágrimas, pesares e tristeza. é um mergulho tão agudo que eu mesma não reconheço o reflexo, me sinto dissolvida nas horas, nos segundos, nas medidas concretas e lógicas que não fazem sentido algum.

me deixo perder por algum tempo, não tenho a menor força para segurar o desmantelamento de cada parte, de cada pensamento, de cada movimento. a dor das lágrimas retidas na garganta é pior. o peso dos olhos úmidos, da tez contraída e da cabeça latejando me prendem e me arrastam, como nos passos certos para um rio profundamente escuro, pardo, bravo.

já estive nesse lugar algumas vezes, já me demorei a sair.

faz um bom tempo tomei em minhas escolhas o caminho dessas sensações. as recaídas são doloridas, são sim. mas tenho a certeza de que são passageiras, são.

passar por cada uma, sentir cada coisa tão forte, de um jeito corajoso e maluco, é me tornar mais forte. é também não perder a capacidade de ter empatia, de olhar a beirada do penhasco, lado a lado, com tantos outros. nunca, nunca vou esquecer, angústia, mesmo essa angústia toda da mais dolorida, nunca vai deixar de ser bom sinal.

sinal de que sou humana, de que posso sentir e arriscar, sinal de que estou aberta, suscetível e entregue. que estou viva.


7.9.14

aqui se respira luta




não podemos comprar o vento não podemos comprar o sol não podemos comprar a chuva não podemos comprar o calor não podemos comprar as nuvens não podemos comprar as cores não podemos comprar nossas alegrias não podemos vender nossas dores são tantas pessoas, verdades, intenções já não somos os mesmos não podemos caminhar de olhos fechados as dores ecoam nos olhos e vozes na terra seca no asfalto queimado na vida pouca as lágrimas umedecem a rachadura livram os caminhos nos unem a alegria encontra espaço nas margens
no povo na revolução os corações ansiosos brincam de fazer poesia firmam suas vontades trocando palavras e sonhos de repente todas as vozes se fundem os gritos dos jovens de trabalhadoras e trabalhadores mesmo os desabafos dos incrédulos toda linguagem se presta se desdobra buscando mostrar que ainda estamos vivos e não estamos dispostos a nos entregar estamos em todos os lugares passamos raspando por seus fuzis e de alguma forma tomamos nosso espaço todo esforço só nos dá mais sede
o pulmão apertado procura o ar aqui se respira luta! ouvindo essa música tão bonita, Latinoamérica, e misturando trechos de conversas, são tantas as histórias. a do atendente, seu João, que veio do Nordeste, dizendo orgulhoso, quem vem do calor de lá está preparado pra tudo nessa vida, e é preciso estar preparado até pras coisas boas quando chegam, saber aproveitar e não perder as estribeiras. da mulher religiosa que crê na luta dos trabalhadores, pela força de Jesus e da nossa união vamos vencer! a do homem calado, que toma coragem de contar sua história num soluço, durante a greve não é marido, genro ou irmão, é companheiro.

da feminista que já sofreu tanto calada e encontrou no grupo mais diverso de mulheres, lésbicas e trans, Pão e Rosas, um espaço para contar suas histórias, ela gosta de falar, lá ela pode falar quanto quiser e ser ouvida. da leitura de Eles Não Usam Black-Tie, com o pessoal do ciclo de Leituras Públicas do TUSP. quando Tião tenta explicar pra Maria que furou a greve não por medo do patrão, mas por medo de encarar que é operário, que seu ganha pão é feito de greve e de luta, que a sua vida será como a de seus pais e de sua CLASSE. preferindo acreditar na chance de uma riqueza efêmera, abandona os seus. Maria manda ele embora, não vai junto mesmo com o filho no colo. a mãe de Tião chora emocionada, na peça e na vida. "O nosso amor é mais gostoso Nossa saudade dura mais O nosso abraço mais apertado Nóis não usa as bleque tais"
Adoniran Barbosa e esse processo todo de fazer parte da greve, do movimento Nossa Classe, de conhecer pessoas que vivem uma outra lógica, é rico demais. estou aprendendo tanto e revendo uma série de coisas... revendo e desconstruindo pra criar novos espaços, em mim e no mundo. ao mesmo tempo, é informação demais, intensa, urgente e importante... vou conciliando com meu jeito mais lento de absorver e fazer parte das coisas, não quero perder o bonde, mas também não quero me perder... vou tentando seguir consciente... contribuindo para alguma mudança. mesmo com qualquer atropelo de tempo, falta de jeito, turbilhão.



4.9.14

pontos de reticência


leonilson

linguagem
dialeto
trejeito

de algumas palavras-chave
relacionadas às partes do corpo

mania de combinar sensação
com acontecido

as vezes parece romance
as vezes rompante

de uma lembrança sensorial
um jogo de cabra-cega

que sempre escapa
do registro
do susto

num suspiro
arrepio

na dúvida, inverta a ordem
corte as palavras sussurradas

tire os pontos de reticência...


2.9.14

o corpo de um poema


coragem_cat power

de repente se passam todos os desencontros
me sinto acolhida
os olhares são doces e o toque das mãos sinceros
me pego enredada numa lembrança e em outra
como se estivesse apaixonada
me estranho
dou um sorriso
sigo desconfiada

como é bom sentir os passos numa direção que nos trás sentido
o tempo escoa, foge
sinto a mesma sensação dos pontos de encontro da vida
comigo
com algum sonho
com uma descoberta

e tudo isso está diluído
em corpos
palavras
razão
coração

e tão concentrado
que não deixa medo

olho tanto tempo
o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
pra me perder no que se quer de essência,
sonho
ou confissão

27.8.14

soltar


Rio Pequeno





pouco, pouco tempo
solto.
num espaço indefinido
de pertencimentos perdidos,
soltos.
de palavras fortes e doces,
versos e músicas,
soltas.

voz rouca, garganta seca,
peito cheio.
suga o ar por dez segundos,
dez,
respira...
e solta.

canta alto ou murmurando,
esquece a letra,
enrola.
tanto, tanto tempo
e espaço
solto.

fala sobre as mesmas coisas,
se repete
até se convencer.
converter-se.
livrar-se do ar,
do peso,
do corpo.


24.8.14

toda amplificação


imagem de Above It All

depois de tanto tempo fora da rotina
                                          do chão
                sem parâmetros
                       previsão
            algo no peito se abre

o medo já não é de sair
                      é de voltar

os altos e baixos da ansiedade
                nos levam longe
                nos sonhos
                                  na sorte
                                           de ainda acreditar no melhor

cuidando do que há de humano
                               de vida
                               de verdadeiro
                                            nesse grande jogo de impasses

o caminho do meio ficou para trás
         todas as pessoas são outras
                          e cada passo é desafio
                                                  aos limites
                                                  ao desapego

toda amplificação tem algo de parecido
                                         de exagero
                                                      de devaneio
                                                                         de mim

29.7.14

cinema de madrugada



(ainda aproveitando a pausa)

sobre amor de irmã
sobre a falta de um amor
sobre dormir quentinha (rs!)
sobre brincar de encenar e não saber parar

sobre se apaixonar e não ter coragem de contar
sobre amores utópicos
e sonhos reais

eu sei que a vida não acontece como nos filmes
que o meu melhor amigo não vai ser o meu amor
que a minha irmã não vai morar comigo
que a nossa casa de campo não vai ser a mais quente e confortável, se conseguirmos chegar até lá...

mas de repente, em algum lugar
devem existir pessoas sozinhas em suas casas
que sejam tão especiais
que tenham irmãs ou irmãos para dividir o seu melhor e o seu pior
e que por isso mesmo o amor é tão grande

nos sonhos de criança
onde todos davam as suas fortunas para dividir entre todos os outros por igual
todos brincam de um joquempô maluco
trocam e destrocam de lugar
até que de algum jeito bem bagunçado
só resta amar a todo mundo

**
inspiração/culpa do cinema de madrugada e de toda cultura pop romântica de confusões com finais felizes, que eu juro, estou empenhada em me livrar, mas vivo tendo umas recaídas ;)

***
ah, mas enquanto isso, de um jeito ou de outro, ainda sigo as convicções dos sonhos e da infância, muitas outras coisas acontecem e todo tipo de jogo, verdade ou desafio. vivendo e aprendendo a jogar, nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas sempre aprendendo a jogar. sempre.

****
boa noite!

23.6.14

acordos





a gente segue em frente, segue e segue. fazendo escolhas no susto, pensando até quase enlouquecer nos senãos, tantos e seguimos mesmo assim.

os dias passam e as noites são cheias de sonhos vivos. os anos chegam e não somos mais tão jovens...

pessoas que faziam parte do nosso cotidiano, estão em outro lugar, longe. pessoas de quem precisávamos estar longe por um tempo, se tornam cada dia mais essenciais.

vazios deixam de ser um espaço para dúvidas e sentimentos confusos, passam a ser apenas espaço.

aprendemos a viver com o tempo e com o ritmo próprio de cada coisa, cada sentimento, fase, humor, necessidade, vontade, sonho.

e a busca nunca deixa de acelerar nossos corações, de ofegar a respiração.

o caminho ganha cores e texturas. aprendemos palavras e já não podemos imaginar nossas vidas sem elas: tessitura, soslaio, bugre, translação, arrebol, Darjeeling.

são novos acordos que fazemos, reafirmando ou reorientado versos.
uma eterna conversa em recortes de cenas, fotos, diálogos, palavras, reescritos por diferentes poetas, compondo uma trajetória que nos garanta algum amparo.

está bem, então vamos fazer mais esse acordo:
a. amanhã vamos acordar cedo para aproveitar a companhia um do outro.
b. vamos parar de nos lamentar, isso não é muito atraente.
c. faremos planos para o futuro.

concordamos com isso?

continua...


26.5.14

um post bem humorado, meio revoltado... solto pelas ventas ;)


colagem de singh bean


pós vida
pós namoro
pós graduação
pós respiração

pós férias
pós praia
pós feriado

pós exatidão
pós camaleão
pós homem
mulher-transmutação

pós é o caraleo
pós de merda
pós filha da puta

...

namoros breves com pessoas loucas
se trocar os nomes ainda posso ser processada?

...

quantas vezes você consegue ouvir a mesma música?

...

quantas vezes seguida?


19.5.14

especialidades




minhas especialidades:

amores inventados
sentir falta de ar
dormir tarde
espreguiçar
mergulhar em ondas espumantes, geladas e bravas
paixões platônicas por pessoas, personagens, filmes, livros e sonhos
cortar e colar papel
me apaixonar pelo amor
olhar o céu
costurar
cantarolar baixinho
consertar coisas e sentimentos
sentir ciúmes
comer chocolates
boiar
embrulhos de presente
viajar
misturar cores

ensimesmar

24.4.14

além-mar


adara sánchez anguiano


amor sentido
é se deparar com as barreiras do tempo e do espaço
da rotina
da saída

vou brincando de fazer ficção ou poema da nossa história
usando palavras doces
disfarçando os medos
confiando nos sentidos

queria te dar alguma certeza
queria te ter na minha vida
agora e amanhã

saber lidar com os vazios
com as saudades

essa saudade que agora é muita
tanta e surda

não confia e nem acalma

só quer satisfazer-se as nossas custas
as custas de qualquer racionalidade
devorando todos os planos e amenidades

nos devolvendo corações em frangalhos

isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além

além-mar


23.4.14

metafísica


la vie d'adele


quando me deparo com esse vazio sinto uma mistura de tristeza e liberdade, a tristeza manifesta numa melancolia quase gostosa, justificando as ações inconsequentes, as músicas e poesias tristes tão lindas, e a liberdade, ah a liberdade...

a liberdade e o vazio, e a possibilidade de ser qualquer coisa, tudo e nada, mulher, homem, bicho, desejo, de sentir o frio e o calor, se atirando na água gelada e correndo com o vento frio cortando o rosto.

liberdade para rodar e rodar ouvindo a mesma música e seguindo obstinadamente o mesmo sonho, o desejo por significados, por sentidos, por sentir... e sentir o sangue pulsando nas veias no ritmo das batidas de uma bateria confusa, agitada, animada, cheia de alma e confusão.

e depois de todo esse tempo ainda sabemos que a vida passa, corre, e corremos, e dançamos, e bebemos, ouvimos e gritamos, querendo ser enxergados, queremos existir e comprovar que alguma coisa dessa metafísica toda vale a pena.


22.4.14

quem somos e para onde vamos...




você quer que eu te leve a sério
eu quero que você me enxergue

esqueci de te contar...

mentira, te disse desde o primeiro dia
sou devagar

intensidade nos segundos, nos beijos, no amor, no medo e na vontade de fugir de tudo
estou aqui e no segundo seguinte
tudo parece demais

e quero viver todo o amor
e viver cada respiração

e não sou livre pra isso
me prendi, me enredei nos meus medos
e você não consegue ao menos me enxergar

como vai poder então me libertar
me puxar
me dar a mão
e correr comigo

quando vemos já estamos em pontos diferentes
e a sua voz carinhosa endurece

e olho pra trás e me apego a força que conheço
que é minha e não depende de ninguém

não sei ser o que você espera
sou essa confusão
angústia
sensação

sou esse sentimento mal resolvido
que nunca vai te preencher totalmente e nem te resolver

sou a provocação e o vazio

sou o prazer e o amor mais macio

sou vento

ar

sorte

e azar

...


quem é você?



8.4.14

coleção


Jogo de Cena, Eduardo Coutinho, 2007
 
as vezes me pergunto até que ponto posso viver tanta realidade, tanto pé no chão...
tenho meu pezinho lá nas artes, na música, no drama
gosto de fazer de conta
de sonhar
de florear histórias e deixar tudo mais emocionante
a pausa, a palavra e a respiração na medida para impressionar
o álbum, a coleção
minha lista de favoritos
o exagero nas cores
até de olhos fechados sigo a luz do sol

as vezes queria só me sentir mais livre para exagerar
pra olhar nos olhos e ser
irresponsavelmente, ingenuamente, irremediavelmente
esperançosa

4.4.14

sobre as cores


a cor azul ganhou um significado totalmente diferente depois dessa mulher


dos amores ficam os livros
as intenções
as lembranças

uma chave de portão
uma sala

a casa e o jardim
tortos

do amor
nasce o plano infinito do ponto de fuga
amor sujo
puto

real

um amor que aperta por tomar todo o espaço

puxa o ar
o olhar
a carne
os pensamentos
e todos os sentidos

é tudo
nada logo quanto muda
a  tua
boca
cara
beijo
seio

é nada
quando tudo pouco quer
gente
bicho
coisa
espírito

é coleção de palavras
é brincar de encontro
de esconde-esconde
de tudo ou nada

de colorir todas as coisas


27.3.14

o nome das coisas


adara sánchez anguiano
 
dar nome as coisas
aos sentimentos
a cada parte do corpo
vontade
sensação

nomes suaves
saídos de um sonho
e fortes
que enrubescem as bochechas
e fazem rir

derretendo
segurando
e soltando

querendo ficar

quando vai
sinto falta

quando volta
olha
toca

gosta

(reeditar poema
é matar o sentido
mas como o sentido é meu
faço
e desfaço
brinco
e estrago
sigo o sentimento
até o ar
ao revés...
arrepio)

11.3.14

xácra



o céu de Atibaia


e o carnaval passou tranquilo, com rumo bem distante de qualquer aglomeração ou barulho... um tanto mais cheio de luz esse ano, com o toque especial da versão eletricista, engenhoco e psicodélico do Carlinhos... vocês precisam ver a máquina de cortar grama made in Conceição! rsrs

a purpurina ficou por conta dos olhinhos brilhantes e sorrisos charmosos das minhas irmãs, duplas ou rivais no buraco, sorridentes ou mal humoradas, tagarelas ou caladas, como amo essas meninas lindas!

a folia foi por conta do Caio com seu jogo de engano espoleta, só não sei dizer se era melhor quando enganava a gente ou quando era enganado, risada garantida e gostosa por infinitas vezes...

música, céu estrelado, tempero de limão, comida na lenha e sol, a "xácra" continua sendo um refúgio, nosso jardim-floresta salvo da cidade grande.











 
 
 

24.2.14

o menino e o mundo




depois de um tempo sumida, resolvi dar uma passada por aqui. a motivação veio do filme o menino e o mundo, que com sua visão lírica e crítica de um pouco de tudo que anda acontecendo por aí, despertou uma vontade que sempre está guardada no coração, a vontade de expressar, seja em palavra, papel recortado, costura ou desenho, é uma vontade de misturar um pouco do que está dentro com o que está fora, e quem sabe colorir um pouquinho mais os dias.

os últimos tempos foram de muitas novidades e estou devendo uma organização das ideias para mim mesma. uma composição pra guardar, pra olhar cheia de alegria tudo de bom e tudo o que mesmo sendo difícil faz parte do caminho e dos ensinamentos aprendidos.

posso adiantar que nós, os meninos e o mundo, estamos bem, ora levados pelo vento, ora descendo uma ladeira na bicicleta, ouvindo a música de todos os sons, olhando as cores e as formas de tudo o que acontece, respirando fundo pra enxergar e desvendar os mistérios, muito bem acompanhados pela vida. obrigada!

ps. nova paixão: céu de lápis de cor.
ps 2. o menino e o mundo ainda está em cartaz nos cinemas do Espaço Itaú.