29.9.08

to me sentindo estranha, bem estranha, muito sono, visão embaçada, parece que a minha alma está flutuando no meu corpo, querendo sair, vai e volta, não consigo assimilar o que está em volta, as palavras passam por mim, concentro com toda força meus olhos na tela do micro, a tela lateja. náuseas a noite, dormi contorcendo e encolhendo os joelhos contra a barriga, muito sono, enjoo, como pq está na hora, o gosto é bom, a comida passa a goela e parece ir para lugar nenhum. o fds passou calmo, parece que passou mais devagar, não fiz tanta coisa, mas parece que aproveitei mais, sinto que fiz o que deu e aproveitei sem ansiedade os momentos, sem correria, sem agonia. sexta a noite me senti particularmente estranha, a boca seca para os beijos, um embrulho no estômago, medo, um medo querendo virar expectativa, pensamentos soltos demais, longe de onde deveriam estar, fiquei com medo de não conseguir contê-los, me senti como nos filmes de espíritos em que a alma solta observa o próprio corpo, estranhando qualquer movimento.
nessa segunda cheguei completamente atrasada, assim como sexta passada, atrasada demais para o padrão daqui, sei que eu deveria estar preocupada com isso, mas os sentimentos estão me evitando, perdi a manhã com pequenezas, um pensamento contínuo pairando minha cabeça, tenho muitas coisas para resolver e não as encontro, olho a lista no caderno mais uma vez, a lista é pequena.

25.9.08

voltando...

ontem fui no psiquiatra, foi estranho, foi difícil, conseguir chegar nesse dia, entrar na sala, poderia nunca ter acontecido, evitei por muitos anos, acho que foi inconscientemente, a culpa sempre foi toda minha, eu sempre tive que dar conta de todas as tempestades e de certa forma dei. conversando com o médico comecei a perceber que o que está me incomodando é fato na minha vida a pelo menos uns 10 anos, isso é muito tempo. ainda tenho todas as minha dúvidas se alguma coisa vai mudar realmente, tenho todos os meus medos de mudar, sou apegada ao que construí sendo assim, as singularidades que criei, os amigos não são qualquer um, todos passaram pela prova dos olhos, da sinceridade, da conversa mediúnica, a minha imagem foi se concretizando desse jeito, aprendi a lidar com os prazeres e com a dor. tenho medo, e se eu não me reconhecer, sair por aí, sem o olhar diferente, não entrar mais nos filmes, não chorar, e se eu sair por aí desperdiçando palavras com qualquer um, o pior de tudo, e se eu me sentir parte desse mundo maluco, se eu não me sentir mais deslocada, se eu ficar igual a todos eles. é verdade que não está nas reações adversas a perda de memória, não.
muitas vezes nos meus momentos de aspereza máxima comigo, pensei em como eu sou fraca, como deixei tantas mesquinharias interferirem no meu caminho, ontem pensei, e se tudo pudesse ter sido diferente, pensar isso dói, é a dor simultânea de perder o que se tem e o que poderia ter sido.
pensei no meu senso de justiça, aprisionado no casulo que criei pra mim, será que ele teria gritado e passado por cima da submissão.
pensei nos dias que dancei livremente pela minha casa, os pulos no sofá e a alegria, teria eu dançado pelas ruas.
o drama, num palco, as palavras num livro, a intensidade nos ouvidos, a beleza, nos olhos, a alegria, nos corações.
mas do meu jeito que eu ganhei um filho, um amor, muitas lições.
do meu jeitinho eu vim parar aqui, eu consegui chegar em algum lugar.
me lembro da professora de educação artística, do meu choro compulsivo numa aula de português, a primeira vez que chorei incontrolavelmente em público, primeira vez que senti essa dor da invasão do meu mundinho tão bem costurado.
ontem eu chorei, senti vergonha e não consegui parar de chorar, não consigo explicar pq isso acontece comigo, é sempre quando sou obrigada a abrir a porta, deixar alguém me ver tão pequenininha dentro dessa casca que se formou.
tive sorte, não senti antipatia alguma com o médico, tinha grande chance disso acontecer, ele tinha um rosto sereno, de óculos, bochechas rosadas e fala tranquila. ele fez o insuportável não ser tão ruim assim, acalmou minha autocrítica, pegou papel pra eu secar as lágrimas e bufejar com meu nariz rinitico espalhafatoso, se desculpou por não ter um lenço.
me explicou o que é distimia, quadro de depressão crônico extenso, que não leva a pessoa a cometer suicídio ou qualquer ato extremo, mas que estende o sofrimento por anos e anos na dúvida se existe realmente algum problema ou se a pessoas é que é sensível demais, tímida, fechada, tem dificuldade em se relacionar, se essa é a personalidade da pessoa mesmo.
no meu caso, típico, a autocrítica é tão forte que não admite a necessidade de ajuda, a culpa é minha e eu vou resolver, eu sou fraca, eu sou incompetente, eu sou intragável, quantas milhões de vezes senti a dor de camuflar sentimentos que considero vergonhosos, me classifiquei como a pior pessoa, a última, a menos, um nada, quantas vezes eu quis tão fortemente desaparecer da face da terra num passe de mágica, me considerei uma covarde. tive raiva, fui me destruindo pelas beiradas pq não tinha coragem para acabar de verdade.
já deu pra perceber que o exagero em mim é crônico também. sou eu, vc, amplificado. a resposta bateu tantas vezes a minha porta, eu abri a porta sim, peguei a resposta e enfiei numa gaveta perdida num móvel num canto da casa, um móvel de milhões de gavetas, todas com chaves, cada uma diferente, chacoalhava o chaveiro orgulhosa, quantas coisas eu tenho pra mim, tantos sentimentos, ideias, todos trancados, são meus, eles se acomodaram, alguns me incomodaram, tentei encontrar a chave, queria ficar mais leve, a verdade é que eu precisava jogar algumas coisas fora pra conseguir seguir em frente, elas se enraizaram em suas gavetas confortáveis, protegidas, não queriam mais sair de mim, tornaram-se pesadas, começaram a precisar de algum alimento, consumindo a minha energia e como na compulsão das minhas fobias começaram a consumir a minha alma.