16.12.12

palavras doces ao pé do ouvido




ainda é cedo
e as letras de música caem perfeitamente
só o tempo é que mudou
depois de tanto tempo parado
começou a correr e correr

me sinto como a Lola
corre corre
e a cada tentativa erro mais uma vez
o tempo vai e volta
mas nunca mais parou de correr

ainda é cedo
e o ano está acabando
as tarefas atrasadas estão se resolvendo
uma a uma
só uma coisa fica sem resposta
sempre cedo demais
pra nunca mais

a angustia e a solidão chegam bem perto
me distraio bem alto
dançando e passando as mãos no cabelo da moça mais doce
falando juras de uma noite
rindo tão alto
quanto a dose de bebida

e um dia não é mais inteiro
nem volta
nem lembrança
ainda é vazio
um vazio que é meu e me completa
porque um copo cheio demais transborda
a canoa cheia demais entorna
a mente cheia demais se perde

e esse esvaziar pra se encontrar
preenche aos poucos
meus dias
noites
e sonhos

os sonhos em carros desgovernados
agora aparecem nos cenários mais diversos
sinto o volante nas mãos
e até dei ré e fiz curva  a mil por hora sem nenhum raspão
parece que aprendi a dirigir
estou aprendendo ainda no inconsciente

logo mais aprendo na vida real também
assim como tantas outras coisas que adiei
adiei adiei
e agora chegam apressadas
todas de uma vez

chegam-me doces ao pé do ouvido
já era hora
não vá embora
fica menina e escuta a voz do coração
que te diz
isso é vida
agora é vida
cada respiração
cada silêncio
gesto
palavra
é vida
agora
goza
desfruta
deleita
e deita

10.12.12

boa noite madrugada




seu jeito de brincar com as palavras
e com as formas do meu corpo
é doce
me faz rir
e esquecer qualquer problema

não sei bem o que é isso
só sei que quando decido uma coisa
não tenho mais medo
e decidi não encaixar mais nada em modelos
esperados
apressados

não preciso mais saber
dou espaço pra vida
que está acontecendo mais viva
a cada momento

os recortes vão ficando próximos uns dos outros
e o tempo pra acompanhar
para
segue
volta

na janela a lua
em traço fino e preciso
brilho
boa noite
noite curta
madrugada

5.12.12

olha que logo tudo se derrama e pronto!



                                        
acontece do amor não ser assim tão definido
disperso em algumas pessoas e formas
vou tentando deixar tudo solto
segurar a ansiedade
viver

a verdade é que tudo vai indo bem

só fico na dúvida quando sinto essa coisa apertada no peito
porque precisa ser assim?
persistir nesse aperto que só faz mal
que não faz mais um sorriso no rosto
que magoa com ideias e palavras duras
burras

eita vida boa de viver
bora viver viver viver

qualquer dia isso passa de vez
e todo amor em volta será suficiente
encontrando o amor mais profundo
de ser, da alma, da pele, das gargalhadas
do olhar brilhante
do carinho
do encontro

olha que logo tudo se derrama
emana
insana
ama
e pronto!

3.12.12

necessário, somente o necessário

a vida corre e esses últimos dias cheguei a limites quase sem volta, viver tanto pode servir pra mostrar que não é preciso tanto pra ser feliz.

suas músicas passam por mim, mas não me remetem mais a você, porque agora não preciso mais da sua proteção, aprendi a me virar e foi você quem ensinou, com sua ausência, agora sou meus olhos e sou inteira, não quero mais ser uma parte, um pedaço ou qualquer coisa de outro, sou minha e está bem melhor assim.

* porque você fala coisas machistas e idiotas que não vou mais admitir ouvir, nem de você e nem de ninguém. e ter um filho nunca foi problema pra mim, se existiu algum problema algum dia foi a falta de responsabilidade, amor e cuidado dos homens que passaram pela minha vida, e só, ponto, assunto encerrado.

o meu filho só representa coisas boas, ele encheu minha vida de significado e de amor. ele me levou a conquistas e lugares que nunca conseguiria sozinha e sou muito agradecida e orgulhosa de ser a mãe que sou e de ter o filho maravilhoso que tenho, e que não pode ser visto de outra forma, senão como o melhor e mais doce presente que ganhei da vida.

não vou esperar que entenda o que estou falando, se todo esse tempo não foi suficiente, só posso deixar a encargo da vida, da sua, não tenho mais nada a ver com isso.

talvez um dia me canse de ser só e não poder contar com um braço ao meu lado, mas quer saber, já senti solidão muito pior e foi quando você estava lá, só de corpo.

a reviravolta vai passando e quero acreditar que essa agitação toda foi necessária pra poder ficar mais tranquila a partir daqui, com o amor, comigo, com os meus.

e tudo isso é solto, possuir é coisa de quem tem medo. o exercício da coragem, da vida, do amor e da liberdade, mais do que nunca, é necessário.

pra não deixar um clima tão pesado por aqui, deixo essa música gostosa do Balu, porque isso é família!


28.11.12

nenhuma certeza e alguma coragem



vou escrever um pouco em prosa, porque jogar conversa fora é bom, é vida acontecendo, é momento, é devaneio. vou tentar escrever o que tenho sentido ultimamente, sem garantias de ser exata, é tudo confuso demais.

saí de um tempo longo, lento e vazio, para um tempo fugaz, denso e leve, um tempo cheio de espaço, que não é vazio, que não é nada, mas é tudo.

essa coisa do tempo, já faz uma diferença tremenda, tudo chega e acontece num outro ritmo, parece que naturalmente o próximo passo é para acertar o rumo, acertando e desacertando sem paralisar, sem prender, sem dramas, seguindo.

os baixos vêm, mas passam mais rápidos, menos ásperos. dos altos só sei que têm se misturado um pouco mais com o cotidiano, confundindo o ponto de equilíbrio, estão voltando mais rápidos, passando por cima de tristeza, de culpa, de incerteza. no amanhã o que fica é a sensação de vida vivida e de tempo absorto.

o medo, o medo está me deixando solta, saiu de mim ao menos um pouco, está pesando menos, aparece de vez em quando pra lembrar que sou humana, que não é tão ruim ter alguns limites, que não é preciso ter tanta pressa, posso seguir aos poucos, talvez até pra pisar com mais leveza, seguir desfrutando.

nenhuma certeza e alguma coragem, vou indo.


25.11.12

arrebol


no sonho mais doce
volto no tempo
passo a mão na sua cabeça
enxugo suas lágrimas
te conforto em meu peito

o tempo e os sentimentos
têm dessas coisas
descompasso e ironia
o certo por linhas tortas
sei que o amor é bom demais
mas esse amor... dói demais sentir

tanto, que depois de tanto tempo
tantas tentativas
decidi
me desligar
e agora, desculpa...
mas parece que tudo se perdeu tanto
que não volta mais
não volta mais...



20.11.12

inversamente proporcional

quero fingir que está tudo bem
que passou
que sou forte
que a vida corre
e sou leve o bastante
livre o bastante
pra que qualquer brisa me leve

brisa leve...
eu preciso é de ventania
furacão
tempestade
devaneio desmedido
sem sentido

qualquer coisa de presença forte
que invada os espaços
sem perguntas
sem apreensão
temor
angústia

sabe essa angústia?
preciso enfiá-la numa mala
despachar pra longe
da minha vista
do meu alcance
para onde não estou
porque simplesmente não podemos mais estar no mesmo lugar

não quero mais
não é bom

as palavras vão ficando repetitivas
cansadas
tristes
fico enjoada delas
e a vida perde o gosto

fico aqui dizendo bobagens
gastando energia

quer saber?
eu preciso é de umas caixas
mudar as coisas de lugar
mudar de ideia
de atitude
deixar pra lá
buscar a passos largos
correr
sentir o fôlego carregado
o rosto corado
a vida pulsar

quero ser eu dividida inversamente proporcional
pelos meus dias
suspiros
sorrisos
lágrimas
e risos
risos vezes dois!



2.11.12

álbum de fotos

  

é bem fácil cair na armadilha das fotos, não faltam meios, ferramentas, fontes...
os cadernos, não tenho mais, ficaram com ele
talvez fossem os mais perigosos
eram a composição perfeita do sonho que criei
consigo lembrar de algumas sequências
ainda bem não os tenho mais em mãos, poderiam ser meu fim, mais e mais uma vez

essa armadilha quase sempre funciona pra nos iludir sobre como poderia ser
como tudo era tão bonito, tão nítido, tão colorido
no nosso caso já não funciona mais
mesmo nas fotos consigo enxergar o vazio, a ausência, a falta no cotidiano
cotidiano que é vida seguindo
e mesmo nas ocasiões especiais, nas formalidades, a presença é pouca

olho buscando entender se posso estar errada
e a única coisa que enxergo de consistente é a minha história com o Caio, com minha família, amigos
festas de escola, aniversários, viagens, fotos dele distraído, tão lindo em cada fase

já vi muitas fotos, muitas mesmo
comecei a pensar que é possível perceber o quanto uma pessoa é amada, é enxergada por alguém,
pelas fotos despercebidas que são tiradas dela
nada de foto sorriso, pose, enquadramento
falo dessas que são tiradas quando a pessoa está caminhando de costas, ou conversando com alguém, meio torta e desfocada, tirada apressada pra não perder o momento, foto recortada, uma piscada, um sol que reflete de canto, a pele de encontro a uma roupa ou tecido qualquer
uma foto em que a pessoa sai tão bonita, porque mostra na sua composição o olhar amoroso e deslumbrado de quem a tira
sabe?

sei que nem todo mundo gosta de foto
eu mesma ando fugindo de coberturas fotojornalísticas a todo momento
tentando sair dessa obrigação visual com um mundo virtual
mas repara como todo mundo tem umas fotos dessas
de amor
divulgadas ou não...

sei lá qual a conclusão disso
só sei que senti um aperto no peito bem grande
meus olhos encheram d'água
e percebi que já vinha levando essa vida, que escolhi há pouco tempo, já há um tempão
e ter feito a escolha,
faz toda a diferença
parece que agora o coração pode contar com a liberdade de uma grande verdade
de que nada está fechado, definido, terminado
tudo é começo
e é só seguir em frente

1.11.12

angústia é bom sinal!

nem sempre angústia e sofrimento é algo ruim, pode ser que você apenas não tenha se acostumado, ainda ou nunca, quando vamos crescendo muitas verdades absolutas caem por terra:

1. ter família é ter mãe, pai e irmãos todos no mesmo espaço: muitas vezes somos muito mais família separados. eu só tive meu pai de verdade depois que ele saiu de casa. só pude voltar a ser amiga da minha mãe quando me mudei. hoje sou família de dois, muito mais inteira e completa do que quando só vivia a esperança de uma família de composição supostamente correta.

2. ser feliz: nossa ideia do que é ser feliz muda tanto, tanto quanto os planos que realmente serão um dia realizados. ser feliz nem sempre é tudo. ser feliz muitas vezes está ligado diretamente a algo que não podemos alcançar, colocamos nossa felicidade onde não podemos estar. colocamos essa ideia de felicidade como um objetivo, um fim, quando na verdade só chegaremos perto dela se enxergarmos todo o caminho, a importância de cada passo, como a vida é feita na verdade de muito cotidiano e se esse cotidiano não tiver espaço para pequenas alegrias, sutilezas, contato real, troca, carinho, cumplicidade, só estamos queimando tempo correndo apressados pra um destino improvável e fora do nosso controle.

3. a vida precisa ter sentido: que sentido que nada, a vida precisa é ser vivida. essa coisa de sentido deve ser invenção de algum utilitarista. o sentido afinal muda o tempo todo. pode ser que a vida precise sim é ter significado, significado para você, para as pessoas que gosta e isso independe de qualquer lógica, plano ou tentativa de controlar o destino das coisas.

4. só está bom se estiver perfeito: perfeição é uma bosta, não serve pra nada, quase sempre a obrigação de ser perfeito é o que nos trava, nos deixa covardes, medíocres, sempre esperando e esperando, enquanto o tempo vai se queimando sem enxergarmos tudo de bom que já existe, que já pode ser feito e mostrado para o mundo. perfeição é atraso de vida, é desculpa esfarrapada para nunca estar pronto. pessoas perfeitas, se existem, são chatas pra caramba.

5. ter paciência é bom: posso dizer que pertenço a uma família de tradição extremamente paciente, pessoas pacíficas, de ambição moderada pra baixo, um tipo de gente que você olha e pensa "gente boa" ou "boazinha". o "gente boa" tudo bem, é simpático, mas o "boazinha" é um horror, por favor não quero mais ouvir esse tipo de insulto. boazinha significa: aceita qualquer coisa, entende tudo, deixa passar por cima, é feita de boba o tempo todo, sempre passando a mão na cabeça e dizendo amém. tá, tá, mas chega, já deu, paciência demais num mundo injusto demais significa ser feito de idiota demais. então, levantar as mangas e esbravejar, mandar para os infernos, sair batendo os pés, gritar por seus direitos e não aceitar nada menos do que o justo é muito bom e necessário, faz bem para a saúde, autoestima e respeito próprio. então "gente boa" vamos tratar de brigar mais, falar mais alto e firme e fazer valer nossa presença no mundo.

Tudo isso, pra passar esse vídeo de um programa muito bom, que vive falando sobre todas essas coisas. Provocações:



E não, a gente não se acostuma, por favor não.

29.10.12

eu não sei lidar com isso mesmo!!

tava perdida navegando depois de muitas tentativas falidas de afogar as mágoas, passo pelo facebook pra completar o desastre e vejo o link desse texto da Clarissa Corrêa, gosto bastante de alguns textos dela, algumas coisas não concordo, outras até demais. sabe quando a gente lê uma coisa que outra pessoa escreveu, mas parece até que está lendo um pensamento seu, então.

o fato é que esse texto diz exatamente tudo o que tenho pensado, tudo o que vem na minha cabeça cada vez que lembro de uma pessoa, e parece que só porque era para esquecer, lembro cada vez mais. uma droga mesmo. será que isso tem fim? passa? todos os meus últimos posts tem perguntas e nenhuma resposta.

o negócio é que já tentei odiar, já tentei me enganar e fazer discursos sem fim de como tudo vai ficar bem, já tentei me distrair, chorei tudo que podia chorar, ouvi música triste, música alegre, morri de rir, comecei a fazer artes marciais, pedi a ajuda de Deus e dos Astros, tentei focar no filho, no trabalho, nos estudos, nos amigos, até na minha mãe... tentei achar outras pessoas interessantes, dancei pela casa, fiz arroz integral até não aguentar mais, fui no bar, fiquei no meio de um monte de gente, fiquei sozinha, falei no telefone até de madrugada pra pegar no sono, fiz terapia em grupo, por telefone, na fila do banco. nada ameniza.

nada satisfaz, nada passa por cima desse sentimento que insiste em ficar voltando e voltando, caramba! quantas vezes por dia... isso diminui? alguém me responde por favor. algum sobrevivente, alguém que tenha recuperado o sorriso espontâneo no rosto e no coração.

eu sou brega mesmo, sou fora de moda, estou toda errada, eu sei. gosto de combinar laranja com roxo, fico feliz assistindo curta experimental na TV e ainda convido as pessoas pra assistirem comigo, bebo cachaça pra conseguir dormir e quase morro engasgada, dou bronca no meu filho e depois desdou porque lembro que eu também adorava brincar com água, apertar botões e morria de medo de responder tabuada na chamada oral.

não faço ideia de onde quero chegar, as vezes acho que está bom como está, sinto um ventinho entrando pela janela e até parece que vai sim ficar tudo bem, mas logo isso passa e o peito volta a apertar.

por esses dias assisti um clássico, que a tempos queria ver, bateu o aperto no peito, lembrei do último filme que vimos juntos, aqui no sofá, na mesma hora a razão voltou pra me salvar, sinceramente, se ele estivesse aqui estaríamos vendo esse filme juntos? talvez, dificilmente, talvez a gente estivesse na cama fazendo amor, talvez eu estivesse dormindo sozinha e ele preso em algum sistema operacional Hiper V XHY Server SQL, olhando pra uma tela fixamente por sei lá quantas horas, mais do que posso esperar.

me perder é tão fácil, perder tudo o que foi achado um dia é tão rápido. e ter razão não significa benefício próprio algum. como queria estar errada. eu te prometo: o melhor beijo do mundo por um erro dentro do envelope no lugar das chaves de casa.



27.10.12

carta

escrevo para você na esperança de que um dia procure saber como estou, no que penso e a motivação disso tudo que acabou. acabou, mas não é bem assim, fim, fácil, terminou, as lembranças ficam junto das dúvidas. os filmes que passam em minha cabeça são cheios delas, das lembranças e das dúvidas, não tem fim, rebobino a fita, imagino outros roteiros possíveis, sinto tudo de novo e de novo.

muitas das coisas escritas aqui, são para você.

o trabalho de retomar a razão e a serenidade de uma decisão tomada não é nem um pouco fácil, nesse meio tempo pareço uma louca completa, fazendo coisas sem sentido, escrevendo palavras confusas, brigando com o sono e acabando com minha saúde, faltando no trabalho, adiando compromissos, deixando tudo pra depois, olhando para pontos fixos por minutos prolongados enquanto as agitações ao meu redor não compreendem a necessidade de simplesmente parar tudo. pois é, é só isso que tenho feito ultimamente, brigar comigo mesma, tentar continuar mesmo com todo o meu organismo resistindo em seguir em frente. a vida não dá trégua, nunca deu.

fico imaginando o que ficou disso tudo pra você, principalmente como deve ser incompreensível a minha confusão, os altos e baixos, os rompantes. deve achar que te odeio por não querer mais te ver e por querer enviar por terceiros as suas coisas. não odeio não, nem um pouco, talvez essa seja a maior dificuldade, eu te amo, e insisto em ter esse defeito de fabricação(criação): o amor romântico. o amor falido, iludido, idealizado, irreal. qualquer coisa que você fizer ou ser estará fadada ao fracasso, e não é sua culpa, é do amor romântico.

talvez a gente tenha uma história bonita juntos, de muita dedicação e tudo foi melhor ainda do que eu poderia desejar, foi real, na medida do possível, vivemos cada momento, vivemos cada desejo e cada verdade, experimentamos nossos limites, nos superamos, afinal foi uma história de uma menina e de um menino, que aprenderam a amar e a ser adultos juntos, com toda a complexidade, que isso implica. vivendo e encarando todos os machucados e cicatrizes, que já tínhamos, tão novos. e nos refizemos, nos refizemos tão bem, que hoje somos praticamente inteiros, construímos nossa identidade e estamos a caminho de consolidar isso.

e talvez por isso tudo que conquistamos, nesse caminho de consolidar o que somos, não existe espaço mais, nem em mim e nem na sua vida, para o meu amor romântico. ele me consome demais, ele exige de você coisas que não são da sua natureza. ele nos prende e nos limita. se pudéssemos ser pequenos, talvez fosse suficiente, mas não é, sentimos lá no fundo, na essência e nas entranhas, de que algo está errado, que não estamos fazendo algo importante. cada um no seu caminho.

e agora enxergo com um pouquinho mais de clareza, a limitação é tão minha, quanto sua. no medo de encarar a autonomia, o tempo e o espaço, o que sou e o que faço, minha identidade, tentei me distrair, me dedicando inteira a um sentimento. tentei me distrair focando no que faltava e não no que tinha, focando no ter e não no ser e no viver. e então, como me conheço bem, só uma decisão radical daria a chance necessária para essa mudança, de foco, de um jeito atrapalhado, tudo bem, sou assim mesmo, mas estou no caminho, redirecionado, atordoado, mas estou seguindo e é isso que importa agora.

em meio a tantas dúvidas agora, ainda, é isso o que importa e por enquanto é o que basta.


25.10.12

escolhas possíveis

o corpo dói
e a febre chega mais forte
em reflexo da falta, que lateja em vão nos meus pensamentos
esses chegam rápidos
inesperados
tento afastá-los
mas são teimosos
como o amor, que está aqui dentro e insiste em ficar

você já foi, eu sei
mesmo antes de dizer tchau
sempre posso contar com sua rapidez nesses momentos
melhor de uma vez
numa punhalada

o corpo logo não se segura
entrega as forças
e queima a pele pálida
com sombrios arrepios

vou me encolhendo tentando voltar
penso em te ligar
e perguntar mais uma vez 
por que mesmo?
quando foi que tudo desabou?
tinha que ser assim?
a culpa é toda minha!

e num suspiro de lucidez retomo a razão
o fim é necessário
a lição ainda não foi aprendida
simplesmente não posso continuar precisando assim tanto de você

chora, chora mesmo
mas vai aprender a respirar o próprio ar
a se virar no mundo
contar com a sorte
ser inteira
não esperar tanto
ser livre
e não desejar mais que a medida do coração são

aprende a cada instante lento e inteiro
que o tempo é seu
e está escorrendo das mãos nos sentidos de suas escolhas
certas ou erradas,
que sejam possíveis


22.10.12

pelo amor de Deus, do Buda, dos Espíritos Santos e das Energias Cósmicas

o que ta acontecendo? me perdi em algum momento, mas tanto, que escapou tudo, toda vida que existia aqui se perdeu, esvaiu, sumiu. e agora José? e agora mulher? que fazer? por onde começar? pega a linha desfiada e faz o caminho de volta ou termina de desfiar logo e faz outra coisa, qualquer coisa. qualquer coisa pra sentir que é viva, que vale a pena, que o sol vai nascer, que a lua ainda brilha, que ainda tem gente do seu lado, por enquanto.

pega essa coisa aí e enfia numa gaveta, joga fora, deleta, deixa pra depois, já deu, basta. para de brigar sozinha, conversar com o eco da sua própria voz, querer demais é se perder também.

tudo já foi dito, explicado e desentendido, ponto final.

todas as vezes que olhou pra trás ele já não estava mais lá.

até que ponto vale continuar? tudo trava, tudo é difícil, se é por sua causa ou por causa dele, não importa mais, algo não vai bem e não funciona mais, talvez nunca tenha funcionado, e só querer tanto não basta afinal. para de querer conduzir a vida, saber do imponderável, do desconhecido, que não tem intenção nenhuma de se revelar, simplesmente não faz parte dos planos.

a proposta desde o início era simples, você é que tem essa mania de romancear em volta e se perder na ponta da língua. ta na hora de deixar esse jogo de lado e olhar pra outros campos, dar um tempo ao coração. chega menina chega, seu coração já se cansou de falsidade, de verdades rasas, do deserto do Saara, sem água, sem sombra, sem uma mão firme e segura pra te apoiar, que a caminhada é dura e não é brincadeira ser gente grande, mais ainda quando não se tem escolha.

respira fundo, alinha a postura, tenta se livrar dos maus hábitos, um por vez já é boa medida.

se concentra, aos poucos, ao menos tenta, um pouco mais, e mais, chega no ponto razoável pra começar do zero, começa hoje pelo amor de Deus, do Buda, dos Espíritos Santos e das Energias Cósmicas. é só uma página em branco depois de tantas rascunhadas, rabiscadas, rasgadas, uma página em branco em papel nitidamente limpo, sobre a mesa, esperando o lápis e o começo.


18.10.12

viva

 
ilustração de Juli Ribeiro http://oafetoeacidade.blogspot.com.br/

penso em desistir da vida
ao menos como ela é agora, mudando cada vírgula
penso em ir embora
mudar pra um lugar bem longe só pra ocupar a cabeça com outra vista,
outro cotidiano
penso em matar o passado
abrir portas velhas e enferrujadas e jogar todo tipo de tralha fora

queria não pensar tanto
queria só viver

viver a impermanência
viver as pessoas
os lugares
o ar

quereria
poderia
viveria

viva

16.10.12

transbordando




Ilustração de Juli Ribeiro http://oafetoeacidade.blogspot.com.br/

sei bem onde ir pra chegar no limite da paciência, e faço questão.
posso sempre contar com a falha, só porque é sempre a mesma.
não tem surpresa.
só perguntas, infinitas e cheias de mimimi.
e olha que não falta roupa suja pra lavar.
o varal tá cheio
e o saco também.
a palavra sempre escorrega.
a ação nunca se concretiza.
para sempre
é sempre por um triz.
ôo Beatriz! cadê você?
o ouro é de tolo
porque lealdade e honra é coisa de bobo.
sonhos.
sonhos e devaneios.
palavras bonitas e cheias de vento.
vontades sinceras
de um tempo que não existe.
o tempo para o outro,
para o humano,
para a vida.
que não é só essa merda aí que insiste em transbordar.


14.10.12

amor de medida - amor sem medida

ilustração de Juli Ribeiro http://oafetoeacidade.blogspot.com.br/

vou seguindo assim parecendo muito confusa e complicada pra você, sei, mas é que nem eu sei o que quero, como me sinto, como vou ficar na próxima vírgula, na próxima noite, no café da manhã. agorinha sinto a casa tão vazia, uma ordem estranha de ausência, é uma sensação esquisita. ainda outro dia você me perturbou com suas manias, com sua presença espaçosa e eu te pedi um meio-termo. eita meio difícil de definir, sempre escapando para um lado e para o outro, fazendo verter águas de meus olhos, fazendo vazios no estômago doerem e um peito apertado de sufocar.

meu meio-termo sempre tende mais a você do que a mim, sou assim desmedida no amor.


9.10.12

em três tempos


ilustração de Juli Ribeiro http://oafetoeacidade.blogspot.com.br/

"as peças que nunca se encaixam não param de rodar e rodar mundo a fora, pelas mesas de bares, salas de cinema, pelas ruas iluminadas de São Paulo. tenho a impressão de que sempre consigo ser a peça mais desencaixada, me envolvendo nas tramas dos outros, me complicando em histórias que não são minhas. nessa brincadeira perigosa vou fugindo de viver a minha, acabo sozinha, livre dos outros, presa aos meus medos e num treino irônico do destino vou praticando o desapego. praticando e praticando, o receio que fica é de me desligar demais de tudo, estar alheia como nunca estive, mais ainda do que aos 11 anos, em minha primeira melancolia consciente, persistente."

"sou dessas pessoas que se encanta com o sol, com a lua, com uma boa conversa, dou risada fácil e olhar um horizonte é um paraíso sem tamanho. gosto de ir seguindo sem hora marcada, ou de ir ficando pelo prazer de estar. qualquer brechinha de céu, pra mim, é felicidade! transporte tudo isso pra uma beirada de praia, os pés moldando a areia e já basta. me coloca num prédio, logo encontro alguém de olhinhos brilhantes também, se não tiver, um bom texto ou uma tela em branco pra escrever pode servir, se tiver música no ouvido vou ficando logo alegre. numa sala escura, projeção. na estrada, vento. na calçada, tempo. é sim, tão fácil ser feliz."

"a espera tem dois sentidos,
o da expectativa-frustração
e o da falta de razão.
não sei mais onde me perdi.

de repente me perder por caminhos inusitados
tem feito mais sentido,
tem sido mais prazeroso
do que insistir em caminhos do passado.

minutos eternos passam
sons do passado tocam
luzes ofuscam meus olhos
doloridos
tetos caem
pessoas passam e passam
apressadas
e incomoda os olhos a cada levantada pra ver
se é real, se existe, se é possível
e a cada constatação
um suspiro
uma esperança vã
e uma ligação estúpida
causa a irritação final"

“Feliz é a inocente vestal
Esquecendo-se do mundo e sendo por ele esquecida
Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Toda prece é ouvida, toda graça se alcança”
Alexander Pope

8.10.12

Para assistir com os meninos


No último sábado assisti "O Enigma de Outro Mundo" (The thing) de 1982, na retrospectiva John Carpenter no Cinesec, uma boa opção para os alucinados por ficção científica e filmes de terror.



Confesso, nunca gostei de filmes de terror, tenho medo, ponto, mas tenho uma curiosidade irresistível por alguns deles, principalmente se carregados de suspense. Já os filmes de ficção científica entraram na minha vida com o Caio, estamos sempre procurando novas experiências no cinema, tentando fugir do mais do mesmo que existe nas ofertas de cinema para crianças, e assim descobrimos nos filmes dos anos 70/80 uma variedade de filmes interessantes sobre o espaço, alienígenas, macacos falantes etc.

"A coisa" tem muito suspense, as tomadas de câmera são monstras, incríveis, me ganhou principalmente pela trilha sonora, que trilha sonora, mesmo com toda aquela gelatina e sangue gosmento a trilha sonora te faz levar o filme muito a sério, te transporta para as cenas e te faz fechar os olhos com as mãos deixando uma frestinha pra não perder nada.

A programação continua até o próximo domingo com filmes imperdíveis, ainda mais numa tela de cinema, e para meninos de 10 a 30 e poucos anos, tem um gosto todo especial. Os olhinhos brilhantes, saudosistas e curiosos, são uma atração a parte! rsrs

O Enigma de Outro Mundo
Cinesesc
Dia(s) 06/10, 11/10
Sábado, às 21h30. Quinta, às 16h30

(The Thing) de John Carpenter. Com Kurt Russell, Wilford Brimley, Keith David. Estados Unidos, 1982. 109min. Uma expedição de cientistas na Antártica é surpreendida por um helicóptero que sobrevoa a área caçando um cachorro. Quando o helicóptero explode, eles ficam sem saber o motivo da perseguição e levam o cão para seu abrigo. Durante a noite, o animal ataca outros cães, iniciando o que parece ser uma epidemia alienígena: os infectados têm seus corpos dominados pela força extraterrestre. Os membros do grupo passam a desconfiar uns dos outros, sem saber quem teria sido transformado. MacReady, um piloto de helicóptero, decide lutar contra a infestação e investigar quem dentre eles ainda é humano.

Veja a programação completa:
http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/busca.cfm?conjunto_id=10307

2.10.12

duas músicas

 
 
Suburbano Coração
 
Quem vem lá
Que horas são
Isso não são horas, que horas são
É você, é o ladrão
Isso não são horas, que horas são
Quem vem lá
Blim blem blão
Isso não são horas, que horas são
A casa está bonita
A dona está demais
A última visita
Quanto tempo faz
Balançam os cabides
Lustres se acenderão
O amor vai pôr os pés
No conjugado coração
Será que o amor se sente em casa
Vai sentar no chão Será que vai deixar cair
A brasa no tapete coração
Quando aumentar a fita
As línguas vão falar
Que a dona tem visita
E nunca vai casar
Se enroscam persianas
Louças se partirão
O amor está tocando
O suburbano coração
Será que o amor não tem programa
Ou ama com paixão
Mulher virando no sofá
Sofá virando cama coração
O amor já vai embora
Ou perde a condução
Será que não repara
A desarrumação
Que tanta cerimônia
Se a dona já não tem
Vergonha do seu coração
 
 
 
 
 
O Meu Amor
Chico Buarque

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
 

27.9.12

coisa de filme

ilustração de Juli Ribeiro http://o-capuccino.blogspot.com.br/

adoro cinema, desde muito nova mergulho nos filmes como se fosse pra viver algo que não tenho coragem na vida real, muitas vezes tenho vontade de encontrar pessoas, que parecem existir só nas telas, outras vezes tenho vontade de ser essas personagens, até consigo sentir o que sentem, fico alegre, melancólica, sinto a dor, sigo alguns dias com seus trejeitos.

de uns tempos pra cá (sei lá quanto), se tornaram mais comuns os filmes com várias histórias acontecendo ao mesmo tempo fora de um roteiro tradicional, histórias que em algum ponto se encontram, paralelas, sem nexo, que fluem numa mesma energia ou mensagem, as vezes o que acontece numa história pode ser determinante pra outra, ou histórias que poderiam se resolver bem juntas, mas nunca se encontram.

o mais recente que vi foi "360", de Fernando Meirelles, sobre bifurcações e escolhas. Entre outros como "Corra, Lola, Corra", talvez o primeiro desses que me fisgou. De certa forma a Lola é  minha grande heroína, correndo, correndo, tentando a todo custo controlar o final da história e o destino das personagens, tentando salvar seu pequeno universo, dando o máximo de si até o último fôlego. "21 gramas", desesperador. "Sobre meninos e lobos" filme em que comecei a entender um pouco sobre a fúria que existe dentro de cada homem, entender o peso sobre os meninos, que se convencem lobos, mas só querem alguém lhes passando a mão na cabeça com carinho, enxerguei meu pai, meu filho, um homem da minha vida. "As horas", um dos filmes mais lindos da minha vida, sobre mulheres fortes, mães, loucura e abandono, sobre o abismo que pode estar aos nossos pés a cada passo. "Closer" irritantemente pessimista. "Amores Perros" dolorido e cheio de esperança. "Medianeras", quero muito assistir, mas ainda não consegui, fala sobre a solidão das pessoas nas grandes cidades, que cercadas de desconhecidos tentam escapar da solidão em meio as ferramentas tecnológicas, buscando conexões, que podem nunca se realizar na vida real.

Tudo isso porque fiquei lembrando desses filmes, das sensações que provocam e das personagens, que têm aparecido na minha vida nos últimos tempos. Pessoas, que por suas crenças se colocam inatingíveis, frias, duras e não são capazes de derrubar uma lágrima, que depois de tanto tempo, amor, dedicação, podem estar sentindo borboletas na barriga pela primeira vez, e eu morro de medo, que seja tarde demais.

Pessoas tão bonitas e fortes, que se paralisam pelo medo e gastam uma energia gigantesca em brigas consigo mesmas,  se machucam com palavras insensíveis de quem só enxerga a forma e não tem noção do tesouro precioso que têm nas mãos.

Pessoas cheias de sonhos e ideias, que crescem confusas em suas convicções, que se deparam o tempo todo com limitações, suas e dos outros, que só querem correr por um campo de centeio, ser o apanhador e as crianças que correm, tudo ao mesmo tempo.

Pessoas que vivem juntas há tantos anos e talvez nunca se encontrem.

Conhecemos facetas, partes de um quebra-cabeça, nunca temos todas as peças na mão, poucas vezes conhecemos alguém inteiro, a verdade pode ser vista por diferentes ângulos. Em cada ângulo pode existir uma verdade completamente diferente.

Na dúvida só posso seguir vivendo cada momento acreditando na vida, na bondade, no amor, na melancolia e na alegria, tentando não me perder na paixão, tentando não perder a paixão.


                                                         


 

Ilustração de Juli Ribeiro http://oafetoeacidade.blogspot.com.br/
 
 
 

25.9.12

encontros e desencontros





ilustração de Juli Ribeiro http://o-capuccino.blogspot.com.br/

 
sou tímida, sei lá porque, mas sempre fui, as vezes melhora, as vezes piora. junte a isso um jeito meio desengonçado, sempre deixando cair as coisas, tropeçando, cabelo despenteado, roupa amassada, carregando um monte de bolsas e sacolas. junte ainda uma corrida contra o tempo a todo momento "estou atrasada, corre, atrasada, corre, corre". o vermelho das bochechas da timidez se junta ao calor da correria e de ter que equilibrar tantas coisas. essa sou eu chegando nos lugares! rs

além disso tudo, vira e mexe me deparo com alguém, alguém que eu gostaria de ter uma conversa tranquila, poder olhar nos olhos e ter o tempo pra falar algo que faça sentido, mas não. é sempre assim, e quando vejo já passei numa cambalhota louca no meio das pessoas, soltei frases atrapalhadas sem nexo e passo o dia relembrando de flashes do que queria ter dito e do que falei na verdade...



24.9.12

amor

sabe um sonho bom?
um sonho maravilhoso, cheio de sensações boas, de amor, de carinho, de prazer
um recorte na vida real
um intervalo da rotina dura
um respiro de uma tristeza profunda
uma luz de sol que entra pela fresta das cortinas e aquece o rosto que se apoia no peito mais aconchegante e protetor que pode existir
uma companhia pra um jantar gostoso
pra trocar olhares apaixonados
e sorrir timidamente, mas sem conseguir conter
um sonho
simples
cheio de detalhes e momentos
um encontro
uma saudade realizada

eu que andava tão triste
recuperei a vida no olhar

eu que tentei em vão esvaziar o coração
me sinto tão preenchida

não tenho nenhuma outra certeza
só a de que todos esses sentimentos são reais
e fazem a minha vida ter mais brilho

e quando escuto a sua voz
meu coração palpita diferente

e estou feliz


21.9.12

irmã

eu sabia que só precisava falar com ela
alguns segundos e o coração já estava mais calmo
uma palavra doce
a decisão necessária
a proporção certa pra vida seguir
ela sempre foi minha cúmplice
o meu anjo disfarçado de endiabrada
de rosto rosado
e lábios cheios
só fico bem quando sei dela e ela de mim
umas boas risadas
umas histórias perdidas de infância e de uma semana atrás
e me sinto acalentada
como se tivesse tomado um leite morno de mãe
ou ganhado um presente de papelaria
lembrando dela pequena sinto quase o mesmo que pelo Caio
no fim das contas eu sou uma grande sortuda
porque eles só podem ser dois anjos na minha vida
e que bochechas gostosas!

peças de um coração

o coração me prega peças a todo momento
só lembro de recortes
sorrisos
da parte preenchida
das mãos dadas
do encaixe
da respiração
peças do coração
que me prega
solta
num jogo de peças sem encaixe
uma peça de forma estranha junto da outra
duas peças soltas
três peças poucas
e o jogo começa a ficar sem graça
sempre sobra uma peça
e um coração partido

armadura

vai levanta seja forte
pensa que é só você que sofre?
esquece e segue andando
engole o choro
engole porque não tem ninguém pra passar a mão na sua cabeça
estão todos no bar na rua em qualquer lugar
ninguém vai te ligar ou fazer uma visita
fica aí no seu isolamento proposital e mortal
não é você que gosta de se dizer anti-social
preguiça
fica com ela
a companhia que merece
o seu amor que sempre foi ilusão
já está com outra
pele por pele
dá na mesma
é só outra boca
outro cheiro
outra forma
mas dá tudo na mesma
seja forte e continua de corda arrebentada
em mil pedaços
cacos
porque tudo isso é ilusão afinal
e quer saber?
tanto faz, tanto faz!
e você?
você é boa demais pra ser fraca
pra sentir
pra ter direitos, vícios ou fraquezas
é tão boa que não falam a verdade na sua cara
que tanto faz!
não te deixam em paz e não vão embora de uma vez
ficam e vão ficando só pra impregnar a sua vida de vazio
quando suas entranhas estiverem forradas de vazio e de lembranças
saem rasgando o que sobrou
boa demais pra aguentar
pra falar
pra ser mulher só de uma noite ou duas
boa demais pra essa vida
ah então pronto
morre de uma vez
e acaba com essa sombra de gente que anda ocupando o seu lugar

20.9.12

trilha para um final começo

acordar, trabalhar, pós, pessoas, momentos preenchidos, surpresas, sorrisos, dias infinitos, projetos, fiascos, fiapo, filho, menino, tentar ser uma pessoa razoável, janta, aikido, música, dança, lição de casa, banho, bronca, abraço, beijo, conversa pra boi da cara preta dormir, boa noite, silêncio, silêncio... noite vazia, cama,  música, bagunça, falta, insônia, parcimônia, pele, lençol, sono, sonho, dia, acordar

luz negra
 
 
 
 
eu te amo
 

 
 
beatriz
 
 
 
atrás da porta
 
 
 
volver a los 17
 
 
 
one
 
 
 
save me
 
 
 
lost in translation
 
 
 
just like honey
 
 
 
happy go lucky
 
 
 
maybe not
 
 
 
 
wanderwall
 

19.9.12

bipolaridade


li esse texto e gostei, estou basicamente assim: http://www.vidabreve.com/uncategorized/entre-calcuta-e-bage

e o que fazer?
não sei mesmo

a minha irmã sempre fala "escreve!", mas nem sei mais se está ajudando ou atrapalhando. acho que estou com medo de começar a assustar as pessoas!! rsrs

estou muito louca mesmo, desnorteada, fazendo uma coisa em cima da outra, como se já não tivesse um batelão de coisas pra resolver, me enfio em mais um monte de complicações.

comecei o Aikido, o que está sendo ótimo e péssimo, é muito difícil, aprender a cair sem se machucar, aplicar golpes sem precisar de força, ser firme, eu nunca fui boa nem em cambalhota!! me sinto ridícula fazendo tudo errado. por outro lado, exige uma concentração enorme, durante a aula eu não penso em mais nada, absolutamente nada, é um deslocamento completo de tudo o que acontece lá fora e de dentro de mim, dessa confusão emocional toda. outro detalhe importante é que fico acabada fisicamente, mesmo, e só assim pra não resistir ao sono e conseguir dormir um pouco.

as pessoas a minha volta estão estranhas, ou, o mais provável, o jeito que passei a olhar e sentir as pessoas está estranho, de repente parece que estou cercada de gente, todo mundo muito perto, falando comigo, querendo me ajudar, me dando carinho, as vezes chega a ficar meio tumultuado, meio sufocante. de repente todos desaparecem, todos, até o Caio, e fico completamente sozinha, respiro, tomo um ar, fico na cama ou leio alguma coisa, quando durmo o sono não é bom, quando acordo fico com os pensamentos meio perdidos como se tivesse síndrome de amnésia recente, não lembro mais o que queria fazer, o que tinha de urgente pra resolver ou algo gostoso que tenho vontade de fazer há um tempão, mas nunca tinha tempo.

ontem conversando com a Juli (minha irmã e anjinha da guarda linda), ela disse orgulhosa como estou sendo forte e lidando bem com tudo, eu respondi num suspiro "mas tem momentos que sou obrigada a segurar as pontas por motivos maiores, se pudesse entregaria mais os pontos, talvez ficasse completamente louca ou coisa assim", ela respondeu "mas um monte de gente tem seus motivos pra segurar a onda e mesmo assim não consegue". eu sei que do meu jeito sou muito mais forte do que possa parecer, sei sim. mas caramba, de vez em quando eu gostaria de não precisar tanto ser forte.


15.9.12

tudo pra me convencer

quando te vejo algo muito forte se revira aqui dentro
meu corpo que já não ia muito bem com tantas noites sem sono
e uma rotina tão atribulada como nunca antes... quase se entregou
a pressão baixou e o frio na barriga subiu até o céu da boca
já não sou boa de segurar emoções
a água transbordando pelo canto dos olhos me entregou
é uma tristeza de quem olha um amor passando, indo embora
um amor que sorri sem jeito
porque olhar pra esses meus olhos não deve ser bom
pra quem um dia fez promessas de nunca deixar
deu abraços tão apertados e quentes
que faziam qualquer promessa parecer simples
nesse momento do olhar, tão breve
fugaz e devastador
perdi todas as minhas certezas
a base que estava construindo tijolo a tijolo
ruiu num segundo

os pensamentos "e se..." voltam a tomar conta das minhas vontades
e no meio do furacão de coisas que preciso resolver, dar conta e ser forte
só tenho vontade de me entregar
de derreter
deixar de ser
me tornar nada
ar

entrego os pontos por um momento
não tenho condições físicas nem emocionais de ser forte

quero dormir um pouco
e num sono reparador sonhar outros sonhos
que me façam esquecer seu rosto
ou ao menos que tornem menos nítida e latejante a imagem que fica voltando e voltando...

quero tomar um bom e gostoso banho
e dormir
sentir a roupa de cama macia na pele
os pés acariciando o lençol fresco
o rosto se aconchegando no travesseiro suave suave
me cercar com o peso do edredom
fechar os olhos

tudo pra me convencer
de que não preciso do seu braço a minha volta...

8.9.12

saudades

desenho de Juli Ribeiro  http://o-capuccino.blogspot.com.br/

to com saudades, o tempo livre pra pensar já está pesando, sua presença jovial faz falta pra criança que existe em mim e quer brincar, trocar palavras num jogo bobo e tão divertido...

seu rosto macio e seus olhos brilhantes preenchem um espaço enorme da casa e do meu coração, meu amor, tão lindo, pequeno e grande, de traços doces e rápidos.

gosto de te ter por perto, ou ao menos saber se está bem, saber que vive sua vida com a alegria e energia dos desejos mais bondosos que posso sentir, porque ultimamente, mais do que nunca, tenho aprendido que o verdadeiro amor deixa espaço para que o outro seja feliz.

e numa mistura de sentimentos confusos, sigo aprendendo a sentir o amor mais genuíno e que não é feito só de alegria, é feito de desapego, de respeito, de liberdade, de bondade, de saber dosar a presença e a vontade de estar próximo e de sentir o mesmo de volta.

e talvez com o tempo necessário eu aceite que essa pode ser a minha forma de amar no mundo, nada de amores românticos, romances, histórias de filmes com finais felizes, de repente a realidade está mais para desencontros e bifurcações para serem escolhidas, que nem sempre me levam a você.


9.8.12

Por que o fim de um relacionamento é necessário ou O Barba-azul - post em edição

Nessa madrugada perdi o sono, acordei num susto, já com muitos pensamentos rondando, como se estivessem me chamando. Acordei às quatro da madrugada, o que é muito curioso porque toda vez que acordo assim e perco o sono, é por volta desse horário, sempre. Teve um período da minha vida, que acordava praticamente todos os dias nesse mesmo horário, passado esse tempo, uma vez ou outra isso volta a acontecer.

Quando isso acontece, geralmente escrevo, passo para o papel os pensamentos que me confundem e acordam, sinto certo alívio e consigo voltar a dormir, relativamente bem. Quando estou muito mal, a ponto de querer evitar a clareza desses pensamentos no papel, fujo, assisto um pouco de TV, geralmente consigo voltar a dormir, um sono bem ruim, muito pouco reparador. Dessa vez, não tive dúvidas, uma energia desconhecida (o instinto da mulher selvagem?) me levou até a prateleira de livros, segui com os dedos pela minha estante, meio abandonada, disposta ali sem compromisso, sem ordem alguma, atrás de uma garrafa encontro o livro Mulheres que correm com os lobos de Clarissa Pinkola Estés. Enquanto me movia nesses gestos passava por minha cabeça bem suavemente: "preciso ler alguma coisa... algo que faça sentido... deve estar por aqui... algo que tenha um significado pra mim... bem específico".

Comprei esse livro há um bom tempo, não lembro o ano, tenho uma memória bem nítida, de mim, lendo esse livro na poltrona da casa da minha mãe, numa dessas noites em que acordei por volta das quatro. Lembro também, que ele pareceu complicado e distante da minha realidade.

Acredito que a maturidade é algo maravilhoso, que exige muito esforço e, às vezes, talvez infelizmente, muito tempo. Nesses momentos isso é tão nítido, assustador e libertador. Foi preciso esse tempo. Hoje, aqui onde estou, onde cheguei, depois desse tempo vivido, a mensagem do livro me encontrou.

Comecei a ler meio descomprometida, pensando que o mesmo das outras vezes aconteceria. A cada palavra cada vez mais meu peito se apertava, senti um rubor nas bochechas e os olhos vidrados segurando as lágrimas para continuar lendo. Cada palavra saltou do papel tão nitidamente na mensagem necessária, palavras escritas pra mim, para a situação exata em que estou vivendo. Isso dá medo. E faz tanto sentido. Sempre acreditei na força das palavras, sei que elas é que me permitiram continuar e sei que podem tirar vendas, nos levar a mundos que só ousamos acreditar em sonhos. Talvez por isso, pra mim, só tenha ficado tão óbvio por meio delas, dessas palavras tão específicas e tão genéricas. Que só no tempo e jeito certos poderiam fazer tanto sentido.

Sei como é difícil, pra mim, desistir e sei quantos obstáculos tenho que ultrapassar para essa decisão. E agora, sei, quer dizer, percebi o quanto e como essa decisão não implica em desistir. Essa decisão é simplesmente a escolha necessária entre o outro e a minha sobrevivência. Não física, nem emocional, nem financeira. A sobrevivência mais importante, que faz toda e qualquer situação ser possível, que faz valer a pena continuar vivendo. A sobrevivência da minha essência.

Coloquei que esse post está em edição, penso em continuá-lo, não sei bem como. Minha primeira vontade foi de transcrever um capítulo inteiro do livro, talvez faça isso só com alguns trechos. Ainda não tenho clareza de como continuar, de como agir, esse registro é um cuidado pra não me perder. Um passo após o outro.

30.7.12

fragmentos


gente amanhã é a cirurgia, acho que to ansiosa, me sentindo mal... como se perdesse totalmente o controle de tudo... e essa segunda tão cinza... pessoal meio estressado aqui... e a minha cabeça no mundo da lua...

o Caio parece que tá tranquilo, um pouquinho ansioso também e com um pouco de medo... ele perguntou se vai doer, eu disse que não, que ele só vai sentir um incômodo depois... tomara que isso seja verdade.

gente eu fiquei com o espírito do filme Na estrada em mim... não de uma forma muito literal, mais como um ventinho soprando atrás da orelha, ora agradável como o vento de uma viagem, ora levemente perturbador pela realidade destoante...

adorei ver vocês, mas ainda senti falta de só ficarmos juntas por um tempo, sem tanta pressa e compromissos em volta, tenho buscado um tempo bom, desses que para, como no filme com o senhor tempo do jazz, que em sua música faz tudo parar, e todos estão ali imersos, em sintonia...

tentando ainda....

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"eu não tô interessado em nenhum teoria, em nenhuma fantasia nem no algo mais. minha alucinação é suportar o dia a dia; meu delírio é a experiência com coisas reais... banais. Amar e mudar as coisas me interessa mais"

(Belchior)

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Todas as minhas tentativas foram frustradas, acho que não faço o tipo das lésbicas! rs
Só teve uma vez na vida que uma mulher achou que eu era lésbica, foi na Augusta e ela achou que eu era namorada da minha irmã... na época nós fazíamos umas camisetas e a moça achou que os temas eram lésbicos... ficou muito interessada. NAS CAMISETAS. hihi

Gosto muito de teorias também, mas me desafio a viver na prática tudo o que for possível (não é muito, mas eu tento), ter ido para aquele Festival de Arte é um pouco isso.


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Queria conseguir conversar direito com você, eu quero que fique bem e que não troque sua essência por falsas seguranças...

Não acho que o ... te ajude a lidar com sua subjetividade, talvez ele a contenha, a oprima, lidando como se fosse algo de outro mundo... mas a sua subjetividade é a sua vontade de busca, tem tanta coisa pra ver, descobrir, observar, pensar, questionar... e muito desse seu universo pode parecer feio e sem sol por você se sentir frustrada com ele... pra mim seu universo só traz vida, vida real... sua subjetividade é mais madura, realista e corajosa do que essa objetividade que ele e muitas pessoas tem... as pessoas tem medo de sentir.

Ninguém morre mais de amor romântico, dói... dói muito, é um luto, um processo, não é só amor, é posse, é sonho... se sofre mais pelas expectativas do que pelo que se perdeu de fato, todo mundo entra numa relação querendo que ela seja bem sucedida, mas isso, essa vontade de ser uma boa mulher, de construir uma família, de corresponder alguma expectativa do seu inconsciente não pode passar por cima de quem você é de verdade, mesmo que pareça contradizer tudo o que você se apegou durante esses anos...  você é forte, é linda, sua subjetividade me salvou muitas vezes, é intensa, é leve, sempre foi a risada da nossa casa... é muitas coisas, inclusive uma pessoa de verdade que tem o direito de se cansar.

(clara)
 

26.7.12

eu sou BREGA

escrevi um e-mail...  fiquei meio amuada, veio até uma lágrima, passou, fiquei pensando... e veio uma música na minha cabeça, por causa de uma frase do e-mail, e a música fala praticamente a mesma coisa que eu tava pensando... comecei a rir sozinha!! Qual é a música? só sei que eu sou brega mesmo.

Como Vai Você
Roberto Carlos


Como vai você ?
Eu preciso saber da sua vida
Peça a alguém pra me contar sobre o seu dia
Anoiteceu e eu preciso só saber


Como vai você ?
Que já modificou a minha vida
Razão de minha paz já esquecida
Nem sei se gosto mais de mim ou de você


Vem, que a sede de te amar me faz melhor
Eu quero amanhecer ao seu redor
Preciso tanto me fazer feliz


Vem, que o tempo pode afastar nós dois
Não deixe tanta vida pra depois
Eu só preciso saber


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oi... ta tudo bem com você?

as vezes sinto como se a gente nem morasse junto, você com a sua vida que eu não sei nada, eu com a minha que você não sabe nada...

será que isso é bom? é normal?

tento pensar que se eu não me preocupar com você, não ficar esperando sua atenção e me ocupar da minha vida... vai ficar tudo bem, porque você é assim. e pra você é assim que funciona.

mas sei lá, me sinto estranha.

fico quieta, sem vontade de rir e nem de achar graça em nada.

parece que fica um alerta dentro de mim lembrando: ele nem pediu desculpas, ele nem se importou, ele simplesmente foi/vai embora... e tudo isso soa pra mim como um: afinal de contas a única certeza que existe é amar sozinha...

acho que sou só eu que sinto essas coisas, né? como vai seu coração?

gostaria muito de poder saber dele... um pouquinho ao menos, eu que um dia me senti dona dele...

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to no mundo da lua... desculpa!?

ai ai... porque a gente não consegue se conter...?

adorei o almoço!!

quando falei de morar com uma amiga acho que o que queria dizer era ser lésbica!!! haushaushauhsauhaushuhas

você diz que não tem sorte em nada... 

eu devo ser assim para o amor... opções que é bom nada, nunca aparecem na minha vida, nem masculinas... nem femininas! rsrs

tenho medo de coisas espíritas, sempre me causam arrepios e choro, mas os textos são bonitos

a letra é linda, música é poesia!

beijo

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uma alegria breguinha...

OI... FALA PARA O CAIO QUE HOJE É DIA DOS AVÓS... OIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII  !!!!!! EUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU !!!!!!! LIGA PARA VOVÔ TAMBÉM... DATA QUERIDA... BEIJOS.


eu vi, ele tá na escola, mas na volta eu falo!! rsrs

beijo! parabéns pelo seu dia!! ser vó deve ser muito bom porque o amor dos netos é sempre mais bonito!


23.7.12

Não se pode amar e ser feliz ao mesmo

"O homem brilha pela ausência



Creio que, das cartas que tenho recebido, a de Jandira é uma das mais interessantes. Ela explica, às primeiras palavras, a natureza do seu drama: "Acontece comigo uma coisa interessante. Brigo muito com Adalberto. E só acho, verdadeiramente, graça nele na ausência". Aparentemente, o caso de Jandira é extraordinário. Uma mulher que prefere o bem amado longe! Uma mulher que não deseja vê-lo! E, no entanto, este é um caso bastante comum. Direi mais - a maioria das mulheres acha mais encanto na ausência que na presença de seu namorado, noivo ou esposo.
imagem Juli Ribeiro


Absurdo? Paradoxo? Não, nada disso. Pura e simples evidência de todos os dias. E o fenômeno me parece lógico e natural. Senão, vejamos. Nós sabemos que todos os homens amam. Portanto, milhões e milhões de homens. Dentro dessa quantidade tremenda - quantos homens cultos, inteligentes, interessantes? Uma minoria ínfima, irrisória. No caso da população brasileira, por exemplo. Digamos que tenhamos, no Brasil, vinte milhões de homens. Seria pedir muito querer vinte milhões de galãs de fitas de cinema. Impossível, absolutamente impossível. Se todo mundo fosse interessante, haveria uma valorização súbita e irresistível do homem desinteressante. E, por um motivo muito simples: é que ele se tornaria raro, excepcional, ultra cotado. Mas, por enquanto, o que existe, multiplicado por não sei quanto, é o namorado ou noivo ou esposo desinteressante.

Chegamos, então, a um ponto crucial: que deve fazer a mulher de um cidadão nessas condições? Antes de mais nada, não nos cabe nem mesmo o direito de desejar que o chamado homem desinteressante desapareça. Porque assistiríamos a um espetáculo tenebroso, ou seja: o súbito despovoamento do mundo. Logo, ele deve sobreviver. E as mulheres são obrigadas a apelar para esse tipo de homem, porque o outro quase não existe. Conheço mulheres que nascem, criam-se, envelhecem e morrem, sem, jamais, terem visto um individuo que, do ponto de vista amoroso, seja ótimo. Muito bem. Digamos que eu me apaixone por um cidadão assim. Não posso achar a mínima graça na sua presença, porque ele é desinteressante. Tenho dois caminhos: ou deixar as coisas como estão, ou romper com ele. Mas romper não resolve nada. Porque deixo um cidadão sem encanto, e vou achar outro, nas mesmas condições (salvo a hipótese, improvável, de uma descoberta sensacional). Que faço eu? Se a presença do meu amado não me empolga, nem nada, apelo para a sua ausência. Recurso infalível! Sob a sua presença, eu o vejo como ele é, na realidade. Quero dizer, limitado, sem espírito, sem inteligência e, às vezes, feíssimo. Já na ausência, tudo muda. Vejo-o não como ele é, mas como eu o quero, pois o que funciona é a milha livre e criadora imaginação.

Componho, para mim mesma, para meu regalo especial, a imagem de um homem fabuloso, que nada tem haver com o meu amado; ou por outra, é o meu amado, mas exaltado, transfigurado, super aperfeiçoado. Eis por quê, na maioria dos casos, os homens ganham tanto com a ausência. O caso de Jandira pode se enquadrar perfeitamente nesses termos. Ela gosta de um homem que, de corpo presente, não a consegue impressionar, não consegue lhe transmitir nenhuma sensação de deslumbramento. Já que ela não deseja acabar com o romance, deve ver o menos possível o seu namorado e procurar valorizá-lo, durante a ausência. É a única solução para o caso. "

Extraído do livro: Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo de Nelson Rodrigues

"O mais importante, o fundamental, você tem: ama e é amada . E se quer obter um mínimo de felicidade, parta, sempre, do seguinte princípio: - o verdadeiro amor não pode ser integralmente feliz. Você sabe qual é o verdadeiro erro da maioria absoluta das mulheres? Ei-lo: achar que o fato de amar implica, obrigatoriamente, a felicidade. Quem ama, pensa que vai ser felicíssimo; e estranha qualquer espécie de sofrimento. Ora, a vida ensina, justamente, que duas criaturas que se amam, sofrem , fatalmente. Não por culpa de um ou de outro; mas em consequência do próprio sentimento. É exato que os amores tem seus êxtases deslumbrantes, momentos perfeitos, musicais, etc, etc. Mas eu disse "momentos" e não as 24 horas de cada  dia. Quando uma mulher apaixonada se queixa, eu tenho a vontade de fazer-lhe a seguinte pergunta: "Não lhe basta amar? Você quer, ainda por cima, ser feliz?". Pois o destino , quando concede a graça inefável do amor, subtrai uma série de outras coisas. Antes de mais nada, o sossego. Quem ama, não tem sossego, perde-o, para sempre. A intensidade de qualquer amor é, por si mesma, trágica."

Nelson Rodrigues, ops, Myrna num de seus conselhos amorosos em Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo.

Fontes:

http://www.sitedoescritor.com.br/sitedoescritor_escritores_f0043_nrodrigues_texto007.html

http://lendoparavoce.blogspot.com.br/2011/12/nao-se-pode-amar-e-ser-feliz-ao-mesmo.html