21.2.13

diário



Morte de Virgínia, 1905, Antonio Parreiras

depois de me aventurar
achar e perder
assumi assim sem mais nem menos
que meu coração está se recuperando
é, não é assim tão de repente que as coisas acontecem
e mesmo nesse tempo tão líquido
minhas necessidades mais profundas
pesam no peito bem concretas
tiram o sono
angustiam a alma
amar
cuidar
estar ao lado de alguém
sair do buraco sem fundo do desamparo
por si só?
por alguém?
qual é seu poder mágico?
por esses dias li uma mensagem que dizia como o lado do avesso pode ser o certo
mas a Ana C. num poema belíssimo disse que estar do avesso pode ser mortal
talvez tanto quanto o exagero do Cazuza
parece que existe um tipo de gente que não pode escapar...
 
30.01.13
 
sentir a solidão mais profunda é constante
é pontada
respirar é vida
dormir é morte
estar consciente é dúvida
fechar os olhos é sonho de morte
é presságio
desejo de ir embora
a presença que é pouca
logo vai pelo ralo
escapa
transforma a lembrança em presente passado
passando, passando
sem ficar
só para não encarar escolhas
todos querem tudo
as multidões
o tempo corrido
entulhado de toda possibilidade
só para não escolher
sem surpresas, não
porque desde o início não era uma escolha
era só medo
medo de não encaixar
em lugar algum,
nenhum
aqui e lá.
 
16.01.13
 
as cortinas da sala de TV estavam iluminadas pelo sol da tarde,
como grandes luminárias.

07.02.13
 
amor e desamparo

ser mãe é se sentir cansada de ensinar e ensinar.
é ter vontade de jogar tudo para o alto e só amar, amar e amar.
coração de mãe quer amar e quer mais ainda o bem do filho,
por isso segura mais um pouco o impulso
e deixa o filho andar com suas próprias pernas,
mesmo que para isso seja necessário, somente necessário, um empurrão!

18.02.13
 
afinal minha intuição não é tão ruim assim
já sabia, mesmo antes de tudo
mesmo antes de tentar
talvez essa mesma intuição seja o motivo do medo
desde o início
essa intuição de que as peças rodam e rodam
perdidas
sem tempo e nem chance
de apenas ser e estar
por mais que tentem
são nebulosas e silenciosas
não sabem qual é seu lugar
talvez nunca saibam
nunca se encontrem
a solidão existencial tem um gosto diferente
 
05.02.13
 
dos medos
 
que a impressão no corpo e comportamento não alcance os pensamentos e questionamentos.
de estar condicionada demais.
 
15.02.13
 
figurado, concreto
abstrato
buscando a abstração
já sendo concreta...
risos
fugindo do diário
das grades da intimidade
já me entregando
passo dias me convencendo
não preciso mais de você,
de ninguém
pelo menos, não agora
ou principalmente agora
decido definitivamente
distante e inatingível.
aborrecidamente alheia.
conscientemente estranha.
pra ouvir sua voz e me perder... num segundo
no tom simpático e macio
no jeito descompromissadamente gentil.
pra me perder
no peito, que ainda mal refeito, acelera exagerado,
e na vontade que fica
de que a despedida
seja breve
leve
e curta
só pra deixar um momento ou outro,
assim por acaso, acontecer mais uma vez.
 
17.02.13
 
talvez eu seja imperdoavelmente estranha e só.
 
20.02.13