30.1.15

Ela




há um tempo assisti esse filme surreal que é tão bonito, no qual um cara se apaixona por um sistema operacional através de um celular. mesmo reconhecendo todos aqueles sentimentos e me entregando às vozes e cenas de cores alaranjadas, não acreditava que poderia viver algo assim.

me sentia distante de toda essa tecnologia e solidão, me cercava de barreiras pra resistir a rapidez e a falta de carne, pele e sangue nas veias dessas relações.

aí, a vida te prega uma dessas, de repente você se vê passando por todas essas sensações olhando pra telinha de um aparelho de celular... é por ele que tudo aos poucos começa com a troca de palavras embaraçadas ou exageradas, é por onde falamos das saudades e buscamos o alívio das angústias.

é por ele que sentimos o frio da distância conectada.

a coisa toma uma proporção, as relações reais ficam impossíveis por uma série de motivos complicados e emaranhados, e o coração aperta a ponto de transbordar nos olhos sem querer...

você está sozinha em casa e não tem a quem chamar, as distâncias são amplificadas pela vida que levamos, o ombro, a voz e o abraço urgentes são substituídos por palavras de uma amiga querida dos tempos de faculdade, vindas do outro lado da cidade. eu chorando na minha cama, ela com seus meninos que caíram no sono um de cada lado, e alguma disposição, mesmo com todo cansaço, as duas motivadas por muito carinho e saudade.

o amor, que um dia foi pele, saliva e carne promete ser cada vez mais distante, a quilômetros e quilômetros, no mesmo bairro, na mesma sala... e toda necessidade e desejo se vêem acalentados por algumas palavras nessa tela, que ilumina seu rosto no quarto escuro, e que ao menos por enquanto, é sua única ligação.


26.1.15

faz ideia amor




encontrar o amor
e perder

encontrar o amor
embrulha, aperta, afrouxa, sossega, desinquieta

perder o amor
num mal entendido
num silêncio
no medo
num fim de semana distraído
numa lata de cerveja

pra encontrar o amor
coragem, só

e perder?

já tentei toda forma de desapego, mas é certo que vou perder as estribeiras no medo de cada esquina

e todo amor vendido insiste
queria evitar o engano e fugir, de tudo

a vida aperta mais um pouco, a gente se distrai e volta a se concentrar no que importa...
deixa a vida pra depois
e mais um pouco

vida
morte, deixa, deita, beija

urgência:
o pedaço de carne contra o peito
e a planta do pé queimando no asfalto

porque numa noite temos tudo, temos o amor, somos reis
na manhã seguinte, todo mundo é peão