24.4.14

além-mar


adara sánchez anguiano


amor sentido
é se deparar com as barreiras do tempo e do espaço
da rotina
da saída

vou brincando de fazer ficção ou poema da nossa história
usando palavras doces
disfarçando os medos
confiando nos sentidos

queria te dar alguma certeza
queria te ter na minha vida
agora e amanhã

saber lidar com os vazios
com as saudades

essa saudade que agora é muita
tanta e surda

não confia e nem acalma

só quer satisfazer-se as nossas custas
as custas de qualquer racionalidade
devorando todos os planos e amenidades

nos devolvendo corações em frangalhos

isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além

além-mar


23.4.14

metafísica


la vie d'adele


quando me deparo com esse vazio sinto uma mistura de tristeza e liberdade, a tristeza manifesta numa melancolia quase gostosa, justificando as ações inconsequentes, as músicas e poesias tristes tão lindas, e a liberdade, ah a liberdade...

a liberdade e o vazio, e a possibilidade de ser qualquer coisa, tudo e nada, mulher, homem, bicho, desejo, de sentir o frio e o calor, se atirando na água gelada e correndo com o vento frio cortando o rosto.

liberdade para rodar e rodar ouvindo a mesma música e seguindo obstinadamente o mesmo sonho, o desejo por significados, por sentidos, por sentir... e sentir o sangue pulsando nas veias no ritmo das batidas de uma bateria confusa, agitada, animada, cheia de alma e confusão.

e depois de todo esse tempo ainda sabemos que a vida passa, corre, e corremos, e dançamos, e bebemos, ouvimos e gritamos, querendo ser enxergados, queremos existir e comprovar que alguma coisa dessa metafísica toda vale a pena.


22.4.14

quem somos e para onde vamos...




você quer que eu te leve a sério
eu quero que você me enxergue

esqueci de te contar...

mentira, te disse desde o primeiro dia
sou devagar

intensidade nos segundos, nos beijos, no amor, no medo e na vontade de fugir de tudo
estou aqui e no segundo seguinte
tudo parece demais

e quero viver todo o amor
e viver cada respiração

e não sou livre pra isso
me prendi, me enredei nos meus medos
e você não consegue ao menos me enxergar

como vai poder então me libertar
me puxar
me dar a mão
e correr comigo

quando vemos já estamos em pontos diferentes
e a sua voz carinhosa endurece

e olho pra trás e me apego a força que conheço
que é minha e não depende de ninguém

não sei ser o que você espera
sou essa confusão
angústia
sensação

sou esse sentimento mal resolvido
que nunca vai te preencher totalmente e nem te resolver

sou a provocação e o vazio

sou o prazer e o amor mais macio

sou vento

ar

sorte

e azar

...


quem é você?



8.4.14

coleção


Jogo de Cena, Eduardo Coutinho, 2007
 
as vezes me pergunto até que ponto posso viver tanta realidade, tanto pé no chão...
tenho meu pezinho lá nas artes, na música, no drama
gosto de fazer de conta
de sonhar
de florear histórias e deixar tudo mais emocionante
a pausa, a palavra e a respiração na medida para impressionar
o álbum, a coleção
minha lista de favoritos
o exagero nas cores
até de olhos fechados sigo a luz do sol

as vezes queria só me sentir mais livre para exagerar
pra olhar nos olhos e ser
irresponsavelmente, ingenuamente, irremediavelmente
esperançosa

4.4.14

sobre as cores


a cor azul ganhou um significado totalmente diferente depois dessa mulher


dos amores ficam os livros
as intenções
as lembranças

uma chave de portão
uma sala

a casa e o jardim
tortos

do amor
nasce o plano infinito do ponto de fuga
amor sujo
puto

real

um amor que aperta por tomar todo o espaço

puxa o ar
o olhar
a carne
os pensamentos
e todos os sentidos

é tudo
nada logo quanto muda
a  tua
boca
cara
beijo
seio

é nada
quando tudo pouco quer
gente
bicho
coisa
espírito

é coleção de palavras
é brincar de encontro
de esconde-esconde
de tudo ou nada

de colorir todas as coisas