20.12.13

presságio


 

essa canção chegou pra mim como um presságio
ficou no meu imaginário
e embalou meu sonho até se realizar
em cada ponto

são essas coisas que mais gosto dessa relação
as surpresas
a intensidade
o valor de cada momento

e os pés já sabem onde ir
ninguém precisa decidir

e eu nem sei o que querer
só me emociona a sensação
que sinto no peito e na respiração
sussurrando ao coração: deixa vir, deixa ir

confesso
perco a medida fácil

mas eu não poderia fugir agora
você nem deveria tentar assim
alguma coisa diz que é pra eu ir embora
e outra diz que quero você pra mim
 


16.12.13

sobre lulus e tubbys


a solidão dos números primos

sobre lulus e tubbys: acho que estamos precisando é de mais vida, mais arte, mais teatro, mais oficina uzyna uzona, performances, nus, volpinus, bacantes, experimentais, banais, carnais, mais câmera carne, mais cinema, mais conversa com os olhos nos olhos, subjetividades, mais sinceras... acho que estamos precisando mesmo é nos encarar com nossos defeitos, trejeitos, com nossos sonhos, com nossa vida e nossos corpos. sair, voltar, olhar em volta e dentro, tocar suavemente a pele, sentir o outro de verdade, se entregar. beijar, beijar muito mais, a boca e o corpo inteiro, dar um abraço para além do peito, fazer a arte do cotidiano, não deixar a vida se afogar no tédio e na mesquinharia. olhar o céu, mergulhar numa piscina gelada de olhos fechados e sentir a vida nos pulmões. correr só pra ver quem chega primeiro e pra perder o fôlego, tocar pra sentir e dar prazer, olhar sem máscaras, se satisfazer com o que é momento, simples e ligeiro.... aproveitar, que a vida passa, está passando, e já passou mais um pouquinho!


13.12.13

o exercício do tempo *

fotomontagem de bruno nobru
 
resisto a tantas coisas
vou teimando, teimando
insisto, tento, acredito

e logo tudo fica de ponta cabeça
jogo queimada
mato a rainha
o anjo me salva

as flores mudam de cor
as horas passam mais rápidas
ainda pesadas

tudo por causa do medo
da vontade de alcançar
de não andar desgovernada
como meus pensamentos, como meu coração

o cansaço não é mais cruel que a distância
essa distância necessária
premeditada

tenho medo de altura
perco o chão
e o teto sufoca

segura a minha mão...
(?)


 * de 28/11/13 - o exercício do tempo é bastante curioso...
lembrando da insustentável leveza do ser, dos sonhos, dos entrelaçamentos, dos recortes e das cenas surreais. 

21.11.13

diz boa viagem meu bem


eternal sunshine of the spotless mind
 
as lembranças e os sonhos dão voltas, dançando e achando graça da nossa seriedade... zombando das nossas certezas. olho em volta e me confundo com todo o mundo aqui dentro, me confundo fácil e solto aos poucos, deixando escapar numa risada, numa lágrima, num brilho dos olhos.

olhando um tanto para o céu, me perdendo nos raios de sol na janela, na copa das árvores, nas fotos improvisadas de celular, no reflexo dos seus olhos castanhos. me derretendo mais um tanto na água fresca no pescoço, num dia quente, passando a mão no seu rosto, me aconchegando um pouco mais no seu colo e olhando as nuvens.

perco a hora, dando de ombros pra qualquer coisa pesada, traiçoeira, falsa... quero olhar através, em volta e por todos os lados, quero te enxergar.

olhar, perder a noção da nitidez, do toque, do que é imagem e do que é sensação.

sinto tanto e sigo. olha bem. diz boa viagem meu bem. saudades.

10.11.13

raios de sol


 
parece que tudo vai ficar tranquilo, que as coisas começam a se encaixar. vou com calma, faço uma coisa de cada vez e vou indo.

só que tem alguma sensação, umas cócegas no estômago, um formigamento nos pés, uma vontade do corpo de se esticar, de sair dançando e inventando coreografias no sense só pra caminhar por aí.

é uma inquietação que acompanha a respiração, preenchendo quente e saindo purpurina, luz, água, chuva, raios de sol.

preciso voltar pra casa. encontrar o caminho de volta, retomar as coordenadas nas pontas dos dedos. o caminho dos olhos fechados e da luz alaranjada. parece que os círculos nos levam a lembrar, sentir, voltar...


1.11.13

Rui


numa praia de Portugal


essa semana soube da partida de uma pessoa muito querida, que fez parte do meu caminho no passado e de certa forma tão particular do meu caminho de hoje e de amanhã...

uma pessoa de um tempo muito especial, que não volta mais, mas que faz parte de um quentinho no coração que garante a vontade de viver de hoje, de acreditar na vida e no amor...

ele fez parte das lições mais ingênuas, sonhadoras e sinceras de paz e amor, num tempo em que vivíamos todos juntos, num tempo em que a minha família estava toda num mesmo lugar, a minha volta... com olhos de criança eu era acolhida e cercada pelo milagre de cada respiração, uma viagem linda, linda!

tão linda quanto a que desejo hoje e sempre para o querido Rui, onde quer que ele esteja!

e como esse grande cara de sorriso incrível não poderia sair sem nos deixar mais uma de tantas alegrias, nos presenteia com as melhores sensações e reencontros, de amigos, companheiros, numa vontade de resgatar a ingenuidade dos sentimentos mais simples e que valem tanto mais do que qualquer razão, que podem ser ainda mais desfrutados e valorizados acompanhados da maturidade e das lições da vida...

enjoy querido!!! obrigada por tudo!

ps. esse texto é de um tempo atrás, ele precisou de um espaço para maturar, cada vez mais entendo como esse tempo é importante e que não preciso brigar com ele, e comigo por isso. hoje me parece que essa mensagem faz ainda mais sentido.

 

28.10.13

deixo em forma de segredo...




paro, penso e logo sinto uma coisa boa
coisa de deixar sorriso e sensação de presente

nos sonhos malucos mato as saudades
ainda dividimos o quarto

cheiro a pele e o travesseiro
pra lembrar e sentir um pouco mais

o dia amanhece devagar
e tenho toda a calma do mundo pra devanear com você

deixo em forma de segredo minhas declarações
na sua porta, no pé do ouvido
num beijo


ps. a música é inspiração da Suh Mattos.


21.10.13

Alcoólicas (trechos)




                       I

É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d’água, bebida. A vida é líquida.

                    II

Também são cruas e duras as palavras e as caras
Antes de nos sentarmos à mesa, tu e eu, Vida
Diante do coruscante ouro da bebida. Aos poucos
Vão se fazendo remansos, lentilhas d’água, diamantes
Sobre os insultos do passado e do agora. Aos poucos
Somos duas senhoras, encharcadas de riso, rosadas
De um amora, um que entrevi no teu hálito, amigo
Quando me permitiste o paraíso. O sinistro das horas
Vai se fazendo tempo de conquista. Langor e sofrimento
Vão se fazendo olvido. Depois deitadas, a morte
É um rei que nos visita e nos cobre de mirra.
Sussurras: ah, a vida é líquida.


                    III


Alturas, tiras, subo-as, recorto-as
E pairamos as duas, eu e a Vida
No carmim da borrasca. Embriagadas
Mergulhamos nítidas num borraçal que coaxa.
Que estilosa galhofa. Que desempenados
Serafins. Nós duas nos vapores
Lobotômicas líricas, e a gaivagem
se transforma em galarim, e é translúcida
A lama e é extremoso o Nada.
Descasco o dementado cotidiano
E seu rito pastoso de parábolas.
Pacientes, canonisas, muito bem-educadas
Aguardamos o tépido poente, o copo, a casa.

Ah, o todo se dignifica quando a vida é líquida


                     IX

Se um dia te afastares de mim, Vida — o que não creio
Porque algumas intensidades têm a parecença da bebida —
Bebe por mim paixão e turbulência, caminha
Onde houver uvas e papoulas negras (inventa-as)
Recorda-me, Vida: passeia meu casaco, deita-te
Com aquele que sem mim há de sentir um prolongado
                                                                    vazio.
Empresta-lhe meu coturno e meu casaco rosso:
                                                        compreenderá
O porquê de buscar conhecimento na embriaguês da via
                                                               manifesta.
Pervaga. Deita-te comigo. Apreende a experiência lésbica:
O êxtase de te deitares contigo. Beba.
Estilhaça a tua própria medida.

Hilda Hilst




20.10.13

o querer e o sentir

                                              

                                                    "Tenho tanta vontade de ser corriqueira e um pouco vulgar e dizer: a esperança é a última que morre."

Clarice Lispector

e então você percebe que as pessoas vem e vão. deve ser assim mesmo. talvez esse seja o movimento universal, a impermanência, o desapego, a despedida. aquela pessoa que dormiu na cama ao lado, que dividiu tanto, quase tudo, foi sua ligação com a vida real quando todo resto parecia tão subjetivo, aquela pessoa que foi a voz pra te acalmar nos momentos difíceis, está cada vez mais longe.

não temos mais as madrugadas em comum, não vamos inventar sonho ou projeto algum e o tempo para análises e loucuras sufocou até acabar.

minha incapacidade em me relacionar talvez só tenha tornado isso inevitável, restrições e catalogações têm prazo de validade. experimentando o ciúmes e o egoísmo mais infantil te afastei. agora, me resta deixar o espaço entre nós existir, concreto.

já tinha sentido isso antes, um sentimento derradeiro e dolorido, pensava que era exagero, mas parece que tudo acontece para nos preparar, encaramos uma solidão e depois outra, sentimos uma falta, um buraco, um vazio. e um dia estamos cercados apenas pelos nossos pensamentos, não temos mais os ecos, os espelhos, as redes de segurança, as caixas de memórias. e mesmo assim é preciso continuar e tomar as decisões necessárias.

talvez amadurecer seja mesmo ser inteira, não se dividindo tanto e nem exigindo tanto dos outros, talvez isso seja condição, aprender a deixar de procurar, pedir, lembrar e chamar... na esperança de que o caminho inverso aconteça, uma hora ou outra, antes que seja tarde ou distante demais.

tenho esse jeito desajeitado e na busca por algum equilíbrio, nessa nova forma de estar no mundo parece que não vai sobrar muito. falta. transborda.

não quero mais cartas de reconciliação. nem remendos pra disfarçar os recortes. se tiver que acontecer que seja mesmo por acaso. o acaso no fim das contas é o deus da energia conspiradora e cósmica. incontestável e genioso.

quero de verdade aceitar o que a vida me dá ou tira, ser assim corriqueira, esperançosa e leve. e só acreditar que tudo vai ficar bem.

a distância entre o querer e o sentir é incoerente.




13.10.13

instante e solta


Francesca Woodman
 
me confundo nos braços
na pele que encosta suave e quente
deslizo fácil
encontro abrigo
é um aconchego instantâneo
só existe o corpo e a sensação em volta
o tempo é instante 

aos poucos me apego aos gestos
olho um pouco mais pra ver o jeito do sorriso
dos olhos
as linhas das mãos

quase perco o medo
confio
exagero
esqueço

quando o espaço volta
já perdi a coragem
me encho de dúvidas
quero me proteger

distraio o medo com devaneios
brinco de ser instante
e solta


7.10.13

signs


desenho de Alexandra Breda
 
inclina o rosto e respira
fecha os olhos
inspira
profundamente
sempre
serena
crua

puxa o ar
o ardor
o amor
suave vida
vá embora
e volte

expira
enrubesce a face
queimando lembranças
lembra do dia
do momento presente
da conexão
do desconhecido

esquece
do medo
e do desamparo

troque algumas palavras num jogo qualquer
seja você mesma, simples e fragmentada
acaricie a pele suavemente
do rosto
do corpo
sobre os sinais

brinque com o tempo como uma criança
brinque de sentir pela primeira vez o toque
pincéis suaves
cores aquareladas

deixe a forma existir
sair
e se tornar essência


________________________________________
nota de rodapé

esse desenho tão bonito que aparece por aqui, preenchendo com cores e traços sutis, estendendo o alcance das minhas palavras e ligando uma história com outra, é resultado de uma dessas surpresas boas da vida, que trazem um sorriso largo e uma sensação gostosa de que pode ser simples.

essa história já tem um tempinho, começou sem percebermos, uma palavra, uma resposta, uma troca e de repente passamos a conhecer um pouco mais uma da outra. as vezes até sinto como se fosse um reflexo, que por lá do outro lado, em algum lugar de Portugal, se revela.

e por isso é com muita alegria que trago aqui para o meu espaço de sonhos e devaneios um pouquinho da presença tão especial e serena da Alexandra Breda. boas vindas, palavras e desenhos!




30.9.13

soul




a vontade vai e vem
vou indo
e só
estar é bastante
é tanto
um tanto quanto
se quer

me balanço na voz doce
cantando
que me amolece
e desmancha os ombros
conduzindo pelas pontas dos dedos
surpreendendo em rompantes
roucos
soltos

poderia esquecer de tudo agora
me viciar
embriagada por toda noite
por todos esses sentidos que se encontram
numa canção
alma e cor
Soul

sobre confiar





quando soube que seria mãe, muita coisa mudou, a primeira foi reaprender a confiar, contra qualquer desilusão ou perda, aprender a confiar na vida passou a ser o mais importante.

confiar na vida, principalmente se você não é um fanático religioso, implica em confiar nas pessoas.

quando temos um filho é como se o alcance de nossas vidas se estendesse, estamos ligados a um futuro que nem conseguimos imaginar, e mesmo podendo controlar muito pouco, tentamos influenciar, para que de algum jeito seja possível acreditar que esse futuro será bom.

combinar isso com o realismo do amadurecimento não é nada fácil. combinar isso com o medo de ter um pedaço seu, que no início, ou talvez sempre, é um reflexo de suas fragilidades e forças, é ainda mais assustador. como dá medo enxergar suas fragilidades concentradas no ser que você mais ama e quer proteger. aí você entende, que precisa confiar em você também, mais do que nunca, porque o convívio e a cumplicidade são tão intensos, que é inevitável misturar tudo, os sonhos, os medos, as vontades, as crenças, o que há de melhor e de pior.

e então 10 anos se passam, o bebê gordinho e sorridente começa a se transformar num moço magrelo e comprido, que só quer fazer careta nas fotos e jogar vídeo game. conseguimos enxergar tão nitidamente como o tempo de criança é fugaz, piscamos e mais algum traço já se transformou. as situações em que ele terá que tomar suas próprias decisões vão aumentando e por mais tranquilo que seu filho seja, sempre vai ter uma briga na escola, uma nota ruim e os momentos que não teremos respostas fáceis. nessas horas,  todos os anos de lições cotidianas de muita paciência, amor, firmeza, fé, consciência, experiência, erros e acertos não passam de segundos. segundos num turbilhão de pensamentos e sentimentos de alguém que ainda não se deu conta de quem é e do que quer, de alguém que ainda é tão suscetível a todas as influências. nessa etapa é preciso confiar na trajetória como um todo, mais que tudo, confiar nessa pessoa que está se formando, no seu filho, que a cada passo deixa mais de ser um pedaço seu, pra ser um indivíduo, um pedaço da história toda.

e olha que ainda é só o começo!


22.9.13

tempo


 
fôlego transbordando no peito, ar preenchendo, esvaziando, vida fluindo, tomando todo o corpo, escapando pelo contorno da áurea. a ordem é interna, pressa, espera, o mundo é só o começo e é com você ser o que quiser. não existe nada além do tempo.

olhar nos olhos de alguém com calma, sem medo de enxergar que estão no mesmo lugar e podem viver o mesmo momento, só por uns segundos, o tempo de respirar o ar um do outro.

quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém.


17.9.13

fale com ela




ele disse: "estamos aqui... estarei ai pra sempre"

ela respondeu: "você está aí, não aqui!"

já tinha sentido essa sensação antes, teve medo de estar sempre rebobinando a fita, com tanto passado no presente, desencontros e esperas.

não acreditava mais, a ausência se tornou maior que a história toda. não sabia como responder, sempre teve medo, um medo maior que ela.

se sentia sozinha, mas não desistiu de respirar fundo, de olhar para os olhos e paisagens de dentro, a última semana passou mais preenchida, e preenchida dela mesma.

ficava a pergunta, por que o encontro ainda era difícil, tinha medo de descobrir que eles realmente não gostavam de quem eram, ou de quem se tornaram.

ela, presa na rotina, de alegria os momentos com o filho, o olhar sincero de algumas conversas e amores passageiros, as brechas pra fazer o que gosta ou não fazer nada, sozinha, as brechas ou os gostos quase nunca batem com os dos outros. se acostumou assim a ser meio egoísta, se concentrando em uma coisa de cada vez, se dividindo menos, talvez por isso o medo maior dos últimos tempos, de não saber mais se relacionar.

ele, não sabe mais quem ele é, perdeu o fio da meada, desconfia da janela digital cheia de ruídos e das mensagens truncadas. algumas palavras soam pesadas demais, algumas piadas não têm graça. se acostumou a ver as fotos dos seus programas acompanhado de outras pessoas, se surpreendeu com as fotos das viagens.

esse olhar desconfiado à distancia era tão diferente do olhar sonhador da segunda fileira.

era o que tinha para guardar.

pensou nas suas ligações, nas últimas conversas, no que só passou, no que guardou. queria ser mais espontânea, dizer oi e até logo... sair pra dar uma volta e não voltar.


definitivamente tinha se descolado da realidade, irremediavelmente.

só faltava aprender a se despedir.



4.9.13

na cidade selvagem




surreal, alguns dias são mais surreais que outros.
trilha sonora: panelaço
caminho de casa turbulento, muitas ligações e o coração na mão.
sair de casa pra que?
sair de casa para a cidade selvagem


24.8.13

ana c. no longa bruta aventura em versos


capa - Jefferson John


artigo de conclusão da especialização publicado!

foi um processo agitado... em que aprendi demais, demais.

só tenho a agradecer ao Bruta Aventura em Versos, por me apresentar a Ana Cristina Cesar e a Letícia Simões, mulheres incríveis e inspiradoras. a Letícia junto da minha orientadora, Cláudia Fazzolari, com suas vozes suaves, comprometidas e consistentes foram fundamentais nesse caminho cheio de descobertas e mergulhos.

nessa trajetória só ficou mais evidente a importância das pessoas que sempre estiveram ao meu lado, minha família e amigos. e de como entrar em aventuras e confusões pode significar ser uma boa mãe, nunca tive tanta certeza de que estamos no caminho certo, do que quando vi no meu filho o maior incentivo e apoio para não desistir... ele é um menino praticamente pós-graduado!

e o meu orgulho segue em dobro, pelo meu trabalho e por todas essas pessoas lindas que me cercam. obrigada!!

pra quem quiser ler está aqui, o artigo:
http://myrtus.uspnet.usp.br/celacc/sites/default/files/media/tcc/613-1868-1-PB.pdfhttp://myrtus.uspnet.usp.br/celacc/sites/default/files/media/tcc/613-1868-1-PB.pdf




estômago


desenho de Juli Ribeiro


nenhuma palavra pode dizer o que sinto, quero voltar para o desenho, usar cores, fios e corpos pra representar esse emaranhado aqui no estômago.

mais ainda quando uma lembrança atropela, não quero mais memória, nem conexão, só quero rede de proteção, uma mão no rosto e um peso sobre o corpo. qualquer um que não seja feito de dúvida e discurso.

todo dia ela faz tudo sempre igual e eu choro só de pensar que não vamos nos encontrar.

não vamos porque desisti, não sinto vontade, nem entusiasmo.

o emaranhado se confunde com falta de coisa concreta. boca, água, manha, olhos fechados, peito, nuca, pele e aflição.

não sei mais que aflição é essa. não me venha falar de práticas orientais, quero saber do que posso pegar com as mãos e colocar na boca, sentir gosto, cheiro, amor e raiva. desvarios. de desvarios se fazem noites pra afogar lágrimas, quero afogá-las todas e sem culpa alguma cometer excessos.

por uma noite, ou duas...


17.8.13

não me encaixo


Ana Mendieta - performance - 1972


tive um pesadelo: não existo pra você
e sempre foi assim

por um período
fui um reflexo mais nítido de espelho

uma voz confortável
uma mão suave
pra acariciar seus cabelos
um corpo
moldado por suas vontades

não existo pra você
acho
não
sei

você nunca tem a dimensão real do que acontece
se convenceu de suas regras
de sua ética bem fundamentada
verborrágica
perturbadora

não aguento mais uma palavra sua
suas certezas e pessimismos me irritam
profundamente
não te suporto

a personalidade que rabisquei
cheia de cores
de vida
não faz mais sentido nessa relação
fajuta

não quero mais contar mentiras
não quero desperdiçar meus sonhos surrealistas
não quero mais te desenhar
te enxergar
nem te usar

o seu olhar macera

na minha fraqueza
insisto
numa vingança ridícula
você não existe mais

da sua forma
nas suas formas
não me encaixo mais



13.8.13

de todos os dias




costurar é dar um ponto e mais outro
mais e mais
um ponto
é um exercício de paciência
pronto
demora
se o tecido é grosso
as pontas dos dedos doem
quando pego numa agulha lembro da minha avó
das unhas bem feitas e rosas
da pele lisa e manchadinha
do sabor do arroz doce

fazer comida é lavar os legumes
cortar a cebola
dosar o sal
os ruídos da cozinha esquentam
dão fome
quem cozinha pode ir experimentando tudo
a comida está pronta
quando a barriga do cozinheiro está cheia
de comida crua
e molho sem sal
o melhor da cozinha é o vapor que levanta das panelas
mais ainda quando está frio

cuidar do filho é dar bronca
e depois não resistir a cara linda
sair dando cócegas e tentando levantar do chão
como se ainda fosse pequeno
como se fosse um brinquedo
desses de morder a bochecha e o nariz

ser mãe é colocar pra dormir
e não resistir
a mais um "boa noite"

aproveitar a noite
é colocar uma música
e brincar de backing vocal

fazer passinhos
dançar valsa
e guerra de almofadas



2.8.13

rabiscada




me sinto forte falando com toda energia, as palavras ecoam tentando me lembrar. lembre do que você mesma repetiu com tanta certeza. lembre sempre do mais importante, que o mundo não gira ao seu redor e é preciso encontrar alguma consistência, não se desmanchar. pra não sentir tudo latejante, as vezes todas as vozes em volta soam mais altas e opressoras, o sono é ruim e fragmentado, deixando o corpo e a alma frágeis. a voz que era doce se revela pouca e só. só num sonho perdido que não faz mais sentido, em que o tempo para respirar é acelerado e a capacidade de resolver coisas vacila.

a sensação de ser rabiscada e cortada não é nada boa.




minha energia foi embora junto com a vontade de devorar a vida, os lugares e as pessoas, tudo parece demais e me vejo como a peça imprecisa que tanto critiquei. todos tomaram seus lugares. aos poucos fincam suas raízes, penso se algum dia ainda encontro o meu. estou distante demais de tudo e quase perco o fio que ainda me prende em algum sentido, não posso voar alto, não tanto, não agora.




não estou tentando resolver nada, não mesmo. estou suspensa e só. quantos caminhos existem. quantos pude experimentar, saber o que não se quer não alivia o vazio que fica. algumas pessoas foram feitas para o deslocamento persistente, mesmo com as mãos estendidas, se afastam cada vez mais. juro que não sei porque. mas acontece assim, se repete assim.

de repente o que restava vai ficando mais distante, gelado e oco. as palavras não estão servindo. nada é claro. todos os pedaços vem e voltam confusos e nada mais serve nesse molde feito e refeito, depois de tantas dúvidas.

eu sinto a vibração e os ruídos em volta, não alcanço. peço uma música triste. queria ter uma garrafa de vinho, nada de vinho bom, amargo ou caro. um suco doce pra acompanhar a melodia e as notas, pra apertar o botão certo e destrancar a sensação de angústia. já prometi que não bebo mais, promessas são tão ridículas quanto cartas de amor.




e quando você se depara com a suposta liberdade não encontra vontade pra nada, nem reencontro, nem surpresa, nem carinho, nem sermão. tudo isso porque sou mimada pelos espíritos dos sonhos, com suas cores voluptuosas, com suas máscaras intrigantes e cheias de imaginação, sou mimada demais pelo céu suave e azul, azul, azul, soslaio, de nuvens encantadoras tocando sua própria melodia hipnotizante, me guiando inconsequente a querer só o que valha como a respiração mais profunda do aspirante ao conhecimento.

e tudo o que é concreto demais exaure, tudo o que é sonho demais está longe.


as tirinhas são do Liniers, amor a primeira vista apresentado pela linda Fernanda Ninomiya.


31.7.13

A artista está presente




numa conversa com a Ju entendi porque gostei tanto desse documentário... ele fala sobre consistência, a consistência do trabalho de uma vida e da presença de uma mulher no momento presente. 

é possível sentir em cada olhar a força da consistência da artista. sentir a força de toda a construção e desconstrução de conceitos, significados, crenças e simbologias, expressadas com realismo bruto e presença impressionantes, por um corpo que é instrumento, tanto quanto palavra, tinta, pedra ou papel.

um recurso de carne, sangue e espírito.

sentar numa cadeira em silêncio, olhar nos olhos e estar presente na companhia do outro, certamente serão experiências completamente diferentes depois desse mergulho.






27.7.13

família


depois de tanto frio o arco-íris

noite passada eu deitei e dormi, simples assim, muito aquecida com todas as mantinhas e todo carinho da Tabita Said, também, depois de uma sopa deliciosa e um banho quente, só podia ser assim.

mas sabe qual foi a melhor sensação? a de estar protegida, totalmente acolhida, e não to falando só de mim, to falando do meu bem maior na vida... do meu filho.

ele brincou e logo se sentiu muito a vontade, graças a recepção tão querida de todos, e olha que o Caio costuma ficar bem tímido e fechado na maioria dos lugares que não está acostumado... acho que nem deu tempo dele lembrar disso e já se sentiu em casa.

o Heitor está lindo, um menino muito legal, conversador e cheio de opinião, já está puxando o jeito da Tabita! fiquei encantada mesmo!

é bom demais poder deitar sem preocupação alguma de vez em quando, sentindo que uma família em volta está te protegendo e cuidando de tudo. sei o quanto preciso ser forte pra representar isso para o Caio, mas estava com saudades de me sentir como a criança que é colocada pra dormir. rs

além disso, vimos uma gravação da hora da banda de rock do Péricles, com a Tabita linda no teclado, umas letras muito bonitas e fortes, e uma baterista impressionante. o Caio agora quer aprender bateria :)

nesse caminho em que tenho sentido mais vezes o bom gosto da maturidade é quando enxergo o valor dos pequenos e maiores prazeres da vida, esses momentos foram um presente valioso e só posso agradecer por essas surpresas da vida e de pessoas tão queridas!


26.7.13

não agora





as vezes te odeio por quase um segundo
depois te amo mais
não sinto que posso ou devo te ligar

não quero te prender
e perco consciente de que é o certo a fazer

quase sinto as outras partes em você que nunca estão comigo
e não te deixam ficar
você as ama e está certo em ir atrás

eu que inventei esse amor
não precisa se preocupar 

mas penso
penso em tantas coisas
e em você

não quero mais verdades
queria não saber de nada
quero as mentiras vindas do coração

esse jeito que aprendi a sentir não me deixa solta
tenho que escolher esse vazio pra não me perder

as cores e as coisas são todas lindas
mas não são pra mim

não agora

 


16.7.13

escafandristas





ouvir as crianças brincando no quarto, as risadas.
a casa cheia.
sentir que está quase tudo no lugar, que muito espaço foi aberto, gavetas esvaziadas...
meu quarto enfim é outro.

o vestido de pregas e bolinhas perolado ganhou nova casa... estava na hora.
ficou uma camisa xadrez, essa já era minha há bastante tempo.

hoje usei uns brincos azul-turquesa,
balançavam com o vento, enroscando nos cabelos, roçando na nuca.
encontrei na bagunça das coisas pequenas, reuni todas numa caixa com forro de veludo.

algumas confusões são inevitáveis, procuro não me afobar.
parece que a mistura do beijo com as palavras ansiosas, mais amorosas, fizeram claros os dias seguintes.

os percursos foram tranquilos, cantarolei Cartola na voz do Ney.
ele canta tão sentido, que fica um alívio.

esse olhar para o mundo com o véu da paixão,
pelo amor, pela vida,
tão submerso. 

é vício antigo, perigo, fascínio.

como assovio, mais que arrebol.


13.7.13

o que se quer

enquanto os rascunhos continuam impublicáveis, recorro a minha trilha sonora.

linda linda...





11.7.13

vivre sa vie












acabei de assistir viver a vida e é realmente um filme sobre uma mulher, sobre toda a vida numa mulher... que é tirada com frieza como se fosse uma coisa para ser possuída e passada adiante, e ela era tão especial sim, tinha essa certeza, e nenhum dos homens teve a capacidade de enxergar, assim como todo o mundo em volta dificilmente enxerga o quão simples e tão poderosamente especial pode ser uma mulher.

Nana ama tanto a vida a todo momento, em cada silêncio e em cada palavra, e isso é o mais belo, encantador e doloroso no filme, as pessoas em volta não chegam nem perto de entender. 


a emoção a acompanha em todo o filme de um jeito absolutamente simples e verdadeiro, quando ela olha para a câmera é como se revelasse sua essência completa em segundos, incrivelmente sensível, absurdamente lindo e triste.


e no final o amor romântico não a salva. 


Gadard é realmente um gênio. 


10.7.13

daquele instante em diante: Itamar Assumpção

que coisa mais linda, arte bruta, sem concessões.
escola Itamar Assunpção pra vida, que isso é vida, é estar em cada momento.

poeta, performer, a arte em pessoa e essência, gente finíssima: inquietação.
maldito é o caramba... é de arrebatar mesmo. uma cacetada no coração de virar do avesso.




27.6.13

caminho


leonilson
 
venho caminhando para o trabalho
descendo uma avenida cinza de céu aberto
as vezes azul
com desenhos de nuvem
nos últimos dias carregado de chuva
hoje o cinza não era tão concreto
na dúvida se fica ou se alivia...
a música que toca nos ouvidos
triste
alegre
nos melhores dias deixa os passos leves
e o corpo a balançar
quase querendo dançar

sempre penso sobre a razão de tudo nesse horário
meio inconsciente
ainda tomada pelos sonhos da madrugada
ainda desentranhada da realidade

nessa hora em que o ar é mais fresco e ligeiro.


25.6.13

os pensamentos do coração


os pensamentos do coração, leonilson, 1988
 
quero encontrar as palavras
te mostrar...
mas sinto o quanto fogem

sabe quando a gente se espreguiça bem gostoso
com o corpo espalhando na cama

quando estamos num lugar quentinho
olhando as gotas de chuva no vidro da janela...

ou quando olhamos hipnotizados a brasa na ponta de um graveto
em gestos rápidos fazendo desenhos no ar, numa noite escura
já brincou disso quando criança?

deixo passar as imagens
fica essa sensação
de um calor embriagado por dentro
e da boca respirando sobre a pele

lembro da timidez que coloquei entre nós da última vez
da vontade de encostar no seu ombro
fechar os olhos
e esquecer tudo mais em volta

lembro daquele dia
que a gente se beijou pela primeira vez
e por alguns instantes tudo parecia tão fácil

saudades



24.6.13

virar pelo avesso e... continuar


arte de Jefferson John


há 1 ano e meio parece que apertei o botão "mudar", mudar tudo, tomei coragem, puxei o fôlego e fui em frente. mudar de casa, me adaptar a uma realidade totalmente diferente, terminar um relacionamento de 8 anos, não desistir da pós-graduação, estabelecer de vez minha autonomia, dar conta de muitas mudanças no trabalho,  dar conta de mim e da minha família, tudo isso sem deixar de acompanhar bem de perto o caminho do Caio, meu filho querido e tranquilo, que me deu a maior força, mas também passou por todo esse turbilhão e sentiu cada mudança. sinto como se tivéssemos passado por um furacão, cansados e cheios de arranhões, mas com o coração transbordando de vontade e sonhos. mais leves e cheios de vida.

sigo nesse caminho sem certeza alguma, confiante de que não tem mais volta. a cada passo, feito de questionamento e convicção, continuo acreditando que todos têm seu papel social e podem fazer valer uma vida cheia de significados, para as pessoas, para o amor e pra arte, pra cada palavra.

nesse percurso encontrei e reencontrei pessoas tão queridas, que me apoiam, inspiram e ajudam tanto, com a vontade de quem realiza seus próprios sonhos, cada uma a sua maneira. é com essas pessoas que escolho seguir, elas me fazem acreditar cada vez mais na vida.

aprendi sobre fazer escolhas e entendi mais do que nunca o quanto é importante dizer não, entender o que não quero mais ou nunca quis. aceitar, mudar e acreditar que num caminho sincero não se pode carregar peso demais. sem culpas e com o desprendimento de quem confia no acaso e no tempo, fiz escolhas importantes e, quanto ar fresco, quantos horizontes, quantos céus de estrelas, luas e  arrebóis se abriram. sério.

no sábado passei por um crivo importante, com um trabalho que é o retrato exato do que sou, uma mistura de coragem e medo, uma paixão pela poesia da Ana C., uma admiração sem tamanho por mulheres como ela e como a Letícia, que colocam sua voz no mundo, cheia de verdade, intensidade e lirismo. uma mistura de questionamentos, convicções em construção e desconstrução, uma vontade de ser e estar. uma confusão! uma declaração de amor a vida e a arte. incompleto, um grande quebra cabeça com algumas peças fora do lugar, como se tivesse vestido a verdade de tal maneira e não pudesse mais mentir, algumas peças ainda não se encaixam.

fui cheia de inseguranças pra apresentação, com as bochechas queimando e as mãos geladas. a apresentação foi péssima, mesmo, falei o que pude e o que deu, acho que mais ou menos como sou desajeitadamente sexy, fui desajeitadamente apaixonada na minha fala, o que acabou ficando um pouco engraçado, mas tudo bem! rs

bom, o que importa mesmo é o trabalho escrito, ainda bem. e na hora dos comentários e perguntas da banca eu estava bem mais calma, quando a primeira professora, Kátia Kodama, começou a falar eu já conseguia respirar normalmente e pensar com clareza. sua voz era num tom suave e seu agradecimento por ter sido apresentada à Ana pelo meu artigo me encheu de alegria, ela foi muito cuidadosa em seus apontamentos, disse que estava tudo ali no meu texto e que só faltou um alinhavo entre algumas ideias. o segundo professor, Roberto Coelho, a sua maneira foi muito elogioso e perspicaz em seus comentários, disse que me perdi quando me apaixonei pela Ana. ele tem toda razão. minha orientadora, Cláudia Fazzolari, com todo carinho de sempre reforçou como o mergulho na poesia da Ana e algumas escolhas de estrutura acabaram tornando esse alinhamento mais difícil, lembrou ainda que no meu projeto inicial essas intenções já apareciam com clareza e que nas minhas anotações no percurso eu apontava nessa direção. pra minha alegria maior os três reforçaram os pontos fortes do trabalho, o potencial para continuar e até se ofereceram interessados em me orientar num mestrado com o maior entusiasmo e várias ideias. já pensou!? não, não tinha pensado...

resultado: fui aprovada sim (ufa! eba!), mas pra versão final devo resgatar esse alinhavo entre os elementos do meu artigo, a Ana, a Letícia e o Bruta. tá tudo aqui já, espero conseguir passar pro papel com mais clareza.

e quer saber, to feliz pra caramba, entendo mais uma vez que não adianta forçar ou moldar um caminho, tenho o meu tempo e jeito, que as vezes é todo ao contrário, entender isso faz parte de todas essas mudanças, descobertas e presentes que desencadearam nesse percurso.

esse grande caos foi e é tão necessário, o mergulho nessa poesia aguda e provocadora não me rendeu apenas um bom artigo, mas uma reflexão que nunca tinha enfrentado na vida, um salto pra questionamentos que não faço ideia de onde vão parar, talvez nunca parem...

eu sabia
que virar pelo avesso e continuar
é uma experiência voraz

"olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas"

Ana Cristina Cesar
 
"a Ana rasga, ninguém passa de raspão por ela, a poesia dela abre, fundo, abre até o ponto em que não se sabe onde ficou o anzol (…) a Ana consegue ser absolutamente universal e delicadamente particular, mas é preciso tentar, tentar além da Ana, tentar através da Ana, porque talvez assim, e só assim, seja possível segurá-la no salto ou segurá-la no ar."
Letícia Simões