21.1.13

a rotina do fim

dizer adeus para um amor é escolher recomeçar todos os dias
é ter dúvidas todos os dias
é puxar na memória porque mesmo não deu certo
é sentir dor ao lembrar
e mais ainda ao tentar esquecer

é vontade de apertar os olhos em lágrimas no meio da madrugada
sentir a garganta arder
é não ter ideia para onde se está indo
é fazer coisas estranhas e olhar para todo mundo como se estivessem tão distantes

é se sentir a pessoa mais sozinha do mundo
e não ter garantia nenhuma de que isso vai passar
é ir e voltar
se iludir achando que é fácil
e de repente se sentir perdida num desfiladeiro

é escolher estar em carne viva
apostar que isso é vida
que vale a pena
que a alma não vai ser pequena
e se vai sobreviver

5.1.13

sonhando de olhos abertos

Esse ritual de se despedir de um ano e começar outro com a cabeça boa, energias renovadas, vontade de retomar listas, sonhos e projetos, sempre foi importante para mim. Acredito mesmo que pode ser um momento de rever as coisas e até pelo intervalo que o feriado proporciona e que geralmente se junta às minhas férias, acaba sendo um recorte no tempo e espaço para me reencontrar, rever, redescobrir, ver o mundo por outras perspectivas, que não sejam as do cotidiano e da rotina, que quase sempre nos engolem com a correria.

Adoro viajar e me colocar em situações próximas aos sonhos mais hippies de paz e amor, secretos ou declarados, adoro não ter hora certa pra fazer as coisas, ir seguindo o vento, o mar, e viver momentos intensos, tranquilos e surpreendentes. Está certo, até consigo viver um pouco disso no cotidiano, mas as viagens são um recorte com passe livre, sem limite de tempo, espaço e coragem.


Nessa viagem de virada de ano todos esses encantadores aspectos foram possíveis, um lugar cercado de natureza, lindo, lindo, com uma vista absurda, cheio de horizontes, de espaços, um lugar que transpira arte e liberdade para ser e encontrar. Pessoas incríveis, gente boa pra caramba, que entraram na proposta de cabeça encarando o verde todo, a tranquilidade, o tempo que passa diferente, a falta de sinal de celular e a internet limitada, e pessoas que já estavam totalmente integradas e nos levaram ainda mais longe, segurando em nossas mãos, mostrando como nossos medos são pequenos e como a vastidão do céu, das estrelas, do ar e da respiração pode ser tão maior.

Encontro e reencontro. Poder levar pessoas que amo para esse encontro, um reencontro com elas mesmas, com tudo o que podem ser, sem tantas amarras, sem tanto medo, deixar a raiva passar, absorver os raios de sol na pele como um carinho bem vindo, necessário, caminhar sem planos e receber o que a vida quer nos oferecer, enxergar que pode ser bom escolher o lado de fora também, que a nossa introspecção pode encontrar espaço para ser e buscar no mundo, nas pessoas, nos olhares, nas trocas e nos horizontes, é tão bom.

foto de Juli Ribeiro
Ritual. Uma oferenda para Iara mãe d'água, sereia protetora das águas e sedutora dos homens, sua beleza deslumbrante de mulher atrai os homens para água, os que conseguem escapar nunca mais serão os mesmos, experimentando de uma loucura incurável. A oferenda feita pelo artista Fabio Delduque, uma sereia, dorme nas águas da represa na última noite do ano, iluminada pela luz da lua e da fogueira. Da procissão que a leva cantando e batendo tambores, alguns não resistem e entram nas águas, nunca mais serão os mesmos, o banho da Iara, a água fresca, a terra escura, mexem em alguma coisa dentro do peito. É a força de um ritual, de uma crença, da espiritualidade da natureza que mandam, nós obedecemos e nos entregamos.

Meia noite. Andar pelo meio do mato, a noite, com um bando de loucos, sonhadores teimosos, luzes de lanterna ou da lua, os guias são as crianças, que se divertem trocando os papéis e nos levando no escuro, elas tem muito mais convicção no que fazem. Chegar num mirante incrível, com vista para uma represa enorme, Jaguari-Jacareí, as águas escuras refletindo a luz da lua, os fogos da meia noite espalhando as luzes pelas encostas. Os olhos das pessoas encantados refletem a paisagem lindamente deslumbrante, o coração das pessoas refletem os melhores sentimentos, a lua nos guia na volta. Voltamos de trator, sentados na borda de uma carretinha, que ia balançando conforme as irregularidades da terra, nos embalando num céu de estrelas, nos embalando em nossos sonhos que aconteciam ali, naquele momento, com os olhos abertos.

foto de Juli Ribeiro
A festa. Portas abertas, uma característica marcante da Fazenda Serrinha, portas abertas para o coração, natureza, encontro, liberdade, o estranho logo encontra algo em comum e vira parte do todo, movimento, música, danças de todos os tipos, mais extravagantes, mais tímidos, mais orgânicos, esfuziantes. E, busca vida, ser criança só mais um pouquinho e mais um pouquinho...

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