29.4.11

um dia de dever cumprido

ufa!!
muitos e-mails pomposos e cheios de circunstâncias no trabalho
notícia boa
recados importantes para amigos
laços importantes para sociedades declaradas
preocupação de mãe de menino
e de gato!!
saída apressada para pegar o ônibus
pra pegar o metro que fecha as 15
beijinho de longe descendo escadas
sorte no posto pra economizar
remédio pro Caio não enjoar na viagem

corre corre
apresentação Festival da Primavera as 16
filho lindo
fala decorada e muito bem falada
que tem vergonha na frente de 2
mas que saiu perfeitamente na frente de 200

foto na máquina ruim
e sem cabo

casa de ponta cabeça
ração de gato pelo chão
discussão dos planos para a casa
que não sei fico
se vou
e até quando

padaria
sopa de mandioquinha quentinha
queijo ralado
desejo de filho saciado com quindim amarelinho!!
mais um convidado chega
mãos dadas
e cabeça nos ombros
olhar de soslaio
beijo de despedida
de aconchego
de nada resolvido sem vontade de resolver
só vontade de viver
Caio mais Victor
bagunça
malas
e...
bora pra Ribeirão!! rsrs

12.4.11

chuva

fiquei presa na chuva e na indecisão, o mundo está caindo lá fora e nem sei que horas chego em casa.
fiquei presa num emaranhado de pensamentos, de ideias e opiniões...
dizem que se conselho fosse bom não seria de graça...
dizem que estamos vivendo um tempo de crise, de falta de utopias
dizem tantas coisas quanto gotas pesadas de chuva caíram na última hora

vivi uma realidade por tanto tempo que não sei se posso, se devo, se quero, se tenho o direito de viver em outra, é um medo de jogar fora o castelo de papel tão difícil de construir, que está amassado pelo tempo.
um medo de ser outra que não conheço, que não entendo, principalmente que não controlo.

sair do círculo de ações esperadas, possíveis, para uma forma não definida e nem conhecida de ser e agir

pensar é cada vez mais pesado e a incerteza do futuro o faz uma tarefa quase de adivinhação
no que vamos apostar hoje?

seguimos no mesmo caminho?

respirar, meditar, praticar exercícios para o corpo, beber cerveja, caminhar de mãos dadas só pra passar o tempo, rir por uma noite inteira, perguntar, conversar, ficar preocupada, dar bronca, dar beijo, fechar e abrir os olhos, sentir o cheiro, encostar o rosto no algodão, sentir as bolinhas

tento me lembrar, olho as fotos, um filme com sons suaves e imagens estáticas intercaladas passa, tento lembrar dos momentos

(a chuva está forte e parece querer entrar pela janela, posso imaginar um rio correndo contra a construção, com medo olho a porta, a água ainda não entrou, penso em sair pelo corredor pra conferir, o medo aumenta)

me sinto como no filme as horas, me sinto como Virgínia Woolf, presa, incapaz de sair do rio, só posso seguir andando e sentindo a água tomar conta do meu corpo, quero ou preciso, ser levada

um pensamento profético esse?

espero que pare de chover

11.4.11

Crime e Castigo

Castigo, culpa, perdão, Raskolnikov nos conquista a ponto de não enxergarmos a brutalidade de seu crime, o absurdo, o grotesco fica tão pequeno diante da realidade e do cotidiano obscuros, persistentemente criéis, sentimos o peso de existir naquele tempo, naquele lugar. A descrição é tão precisa que respiramos ofegantes o ar concentrado, sentimos o cheiro de sarjeta e do suor nas roupas amareladas, encardidas.

Diante dessas pessoas, desses olhares, das mãos machucadas, das ruas molhadas e dos ambientes claustrofóbicos, o julgamento se perde, ficamos sem parâmetros. Rodia fechado em seu quarto, encerrado, enterrado, longe das conversas e do convívio social, mergulha numa lógica só e tão sua, de uma moral tecida dos sentimentos e ideias mais secretos, daqueles que de vez em quando sentimos e escondemos por vergonha ou medo. Em sua clausura essa moral fazia sentido a ponto de ser executada fria e maquinalmente, passo à passo, seus gestos tomados pela personagem daquela existência tão específica, os pensamentos fluindo de maneira estranha e obediente a história que composta em seus dias de solidão, fazia sentido, mas esse sentido estava por se perder.

O castigo chega com a presença cada vez mais constante dos outros, um amigo fiel, a família preocupada e um amor. Fazer parte da vida, dessa vida movimentada e em muitos momentos sufocante, é tão ou mais doloroso do que o efeito de seu crime. Um golpe do destino (Fiodor Dostoievski), as circunstâncias o cercam, se cruzam, o envolvendo nessas relações complexas em que as pessoas esperam muito de Ródia. Esperam por sua integridade física e moral.

A dúvida do julgamento, a entrega que espera o perdão ou a compreensão de uma moral não revelada a ninguém, não existe arrependimento, não existe aceitação do crime.

No começo a raiva das pessoas que o amam, como podem causar tanta dor e mais transtornos do que os que já persistem naquela existência. E o amor não dilui, só resta aceitar o crime e o castigo, aceitar o ar gélido da Sibéria, a aspereza da terra arenosa, o peso dos ferros, dias, anos.

Harold e Maude

Engraçado, inusitado, música persistente e empolgante, pertinente, cara de louco, história louca, clima de "O Iluminado", mensagem otimista, simples, irresistível.