23.5.13

CAT POWER

alguns momentos da vida são tão surreais que passam como sonho!

foto de Fabiano Alcântara

Cat Power tem uma voz linda e rouca, sensual e triste, faz careta pra cantar e fica ainda mais charmosa, é séria e brincalhona, desengonçada e delicada. do jeito mais sem jeito faz questão de mostrar sua paixão em cada palavra e de demonstrar todo carinho com as pessoas, suas mímicas indecifráveis e amorosas fecharam uma noite mais que especial pra mim, e pra tanta gente.

conheci a Chan há uns oito anos ou mais, dançamos muito no dj, a Ju e o Ulisses foram os primeiros a me contar com os olhos brilhando sobre suas músicas e seu jeito. desde o começo já ouvia falar e lia sobre seus shows, sobre como um sentimento de inadequação e insegurança muitas vezes faziam a voz falhar ou até mesmo com que fugisse do palco, meio como AC, que em seu primeiro encontro com a professora Helô, ficou com a bochechas tão vermelhas e saiu correndo...

devo dizer, narcisista mesmo: como isso me encanta!

a Chan é trilha dos meus amores, sonhos e desilusões, quantas vezes cantamos juntas um fim de namoro, um amor maior do que o peito pode levar, angústias e uma vontade de voar... sea of love, good woman, maybe not, the greatest, where is my love, the moon, free, nothin' but time, 3, 6, 9 e tantas outras. as músicas novas são lindas.

o show foi incrível, os chatos podem reclamar de qualquer coisa, do atraso, da mudança nas letras e sei lá mais o que... mas pra mim, assim como a Ju falou, a CAT PODE TUDO, as músicas são dela e ela faz a interpretação que bem entender e que estiver combinando com o humor do dia, e, porra! sua voz é tão linda, que só resta se entregar e se derreter...

as gravações disponíveis não são muito boas, mas escolhi essas duas que mostram um pouquinho da maravilhosa voz e incrível presença que tivemos.

Bully, pelo Lucas Carstens, não consegui colocar o vídeo aqui, mas é a gravação em que se pode ouvir melhor: http://www.youtube.com/watch?v=hgn4OM8MoKs&list=UU1pKLILyNRBA7Zf70Q1o-8Q&index=3

e Metal Heart, pela Sam Cabrinun:





21.5.13

soltos de anteanteanteontem

 
ilustração de Juli Ribeiro


Querido diário:
Vergonha ricocheteia.
Ana Cristina Cesar
 


disfarço meus diários em poesia e digo nas palavras mais confusas como tudo tem passado no peito e nos pensamentos.
digo aqui o que passa despercebido aos seus olhos,
porque você não olha
ou porque você é ilusão.
talvez ainda não nos encontramos e tudo não passa de luz de spots,
pra me enganar
pra te enganar.
posso ser a culpada, sei bem, adoro uma cena e logo vou dando corda pra qualquer exagero,
para o bem ou para o mal.
agora, segura a respiração e vá com calma, só quando o turbilhão passar vamos saber,
ter alguma pista
quem sabe aí arranjar um tempo pra conversar
saber quem realmente somos
nossos erros, acertos
nossos encontros



20.5.13

Elena




Elena... ontem fui apresentada a você.
logo alguma coisa aqui dentro te encontrou
algo que já estava aqui
sempre esteve

É estranho te ver assim com os olhos de fora
tudo fica mais nítido
mais bonito e cruel

Saí do cinema e você me acompanhou
as coisas lá fora faziam menos sentido ainda do que antes
tinha muita gente tumultuada
muitas coisas e as pessoas mexendo nas coisas sem parar não enxergavam umas as outras
e tudo estava mais distante

No caminho o ar era frio
e as palavras saiam pesadas

Eu já quis tanto ir embora... como você.
mas nessa história não posso ser você, tenho que aquietar essa parte sua em mim
nessa história Elena o acaso me fez mãe
de um jeito ou de outro me senti mãe desde tão cedo
como que pra me preparar
talvez de propósito
pra firmar uma ligação
uma que bastasse

"O medo da irmã mais nova fez com que a mãe ficasse
a pequena logo se apegou a todo tipo de mania"

Não pude deixar de pensar na minha família
no meu pequeno
que talvez como eu tenha herdado o medo e as manias
que vão variando
mas a motivação é sempre a mesma
é persistente

É como se estivéssemos descolados do mundo
com a mente aérea, longe, longe, solta
cada ação aqui é vazia
e poucas pessoas nos percebem
quase tudo passa, só passa
e alguma coisa estranha no peito e na garganta vai se amarrando
nos puxando pra dentro

"A angústia fica no peito e na garganta
a culpa na cabeça latejando
quando senti que queria morrer?"

Quando corri num campo verde de flores?
quando senti o sol no rosto, na pele, nos olhos fechados?
e as pálpebras quentes enxergando flashes e a luz alaranjada?
quando dancei sozinha?
quando dancei com você?
quando senti suas mãos a minha volta, me apertando... "fica"?

É possível mergulhar tão fundo e voltar?
É possível voar tão alto e ainda tocar os pés no chão?

É possível entrar num redemoinho e sair... com um poema...


16.5.13

desamarrando




chega a hora de arrumar a casa
não existe mais espaço ou desculpa pra adiar
é preciso seguir

encarar cada gaveta entulhada
todas ou uma de cada vez
não importa, a dor é a mesma
lavar os olhos e sentir o peito desamarrando

algumas gavetas não queria abrir
ainda não sei se posso
resisto em jogá-las fora numa ilusão idiota
de que algum dia algo ali será necessário
mas pesa, como pesa

juro, não sei lidar com o passado
minhas ferramentas de autoanálise se esgotaram
recorri a toda ajuda improvisada que era possível

me apeguei a toda forma de amor
e a cada instante
não pude ignorar a lição mais difícil
a do desamparo
desamor
desapego

tento ainda assegurar alguma firmeza
das certezas desisti
ficar menos vulnerável a essas relações que passam por mim
líquidas
afinal não aprendi a ser livre

e o medo toma conta de mim

a impermanência chega mascarada de solidão
os compromissos distraem a respiração
seguir enfim é: parar
respirar
enxergar
escutar
contemplar
estar aqui, em mim


5.5.13

Let me tell you what I got / And nobody's gonna take away




quero ser tão madura e não deixar as sensações me conduzirem
mas o coração bate acelerado e forte
as bochechas logo ficam vermelhas

sinto tão aqui dentro cada palavra
estranho né?
bizarro.
deve existir algum controle maior ao longo do tempo
acho até que seguro as rédeas e puxo pra alguma direção
a mais próxima possível da desejada

o controle ainda é piada:
de mal gosto

a vontade é ilusão:
ingênua

sente, sente e sente
a pele arrepiar
o calafrio
a febre
o sol, a chuva e o mar
lembra que é para o bem e para o mal

lembra que é a vida transpassando o corpo
quente
vaporosa
transpirando

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tenho três textos dos últimos tempos que deixei de publicar, me senti confusa até mesmo para desabafar, como se não pudesse mais ser eu, soltar as palavras mais viscerais e ter sentimentos ruins...

como é tão fácil se enganar, tentando me convencer de algo, algo que não faz sentido, não preenche e não encaixa em lugar algum, e... para que? simplesmente: pra que?

sair de uma relação que faz mal para entrar em outra com a mesma lógica, as mesmas faltas, os mesmos enganos, mas cheia de boas intenções... sinto muito, mas sei bem que a cota de paciência e altruísmo unilateral que paguei foi suficiente.

de lá pra cá, aprendi a me virar e a ficar sozinha, sim tropecei bastante e ainda estou procurando a medida do equilíbrio, mas estou aqui, a cada derrapada respiro fundo e volto a levantar.

não parei, não desisti, sem a certeza do que estava fazendo continuei por acreditar que a rota só poderia ser ajustada no próprio caminho, que o caminho é vida, assim como cada respiração, cada momento e cada passo.

por acreditar no que bate aqui no peito. e que pode sim ser diferente, eu, você e todo mundo que quiser.

por acreditar tão fortemente que não precisa ser assim e que essa não é a minha escolha.

escolho sim o tempo para estar presente em mim, na vida das pessoas que amo e no mundo, escolho a palavra sincera e atenciosa, a verdade, escolho a inversão de prioridades, a lógica dos sentidos, a vontade da vida, tudo mais é segundo plano.

escolho a falta de certezas, o caminho sem cercas, o horizonte.

escolho as pessoas reais que mesmo com todos os meus defeitos, continuam ao meu lado, me escutam e me respondem, mesmo que seja "não faço ideia também!"

escolho o silêncio e a coragem. escolho acreditar nos instintos.

escolho enfrentar o medo e desamarrar modelos.

escolho eu, escolho você.