30.3.16

dos rascunhos perdidos


Leonilson

uma mulher segue com seu corpo gasto
do tempo, do trabalho, dos amores, dos filhos,
das vontades vividas e não vividas
das violências

um corpo que vai ficando cheio de marcas
em que as formas se rearranjam espremidas, tensionadas, esticadas

um corpo que segue, as vezes de carne, as vezes de vento
seguindo mesmo sem existir, sem assumir o controle, respondendo mecânicamente

um corpo estranho, cheio de entranhas
o corpo de uma mulher nunca é só um corpo, é uma tentativa, é uma condição...
tão precária, tão desumana.



Leonilson


cedo ou tarde constatamos nossa solidão, não temos referências, não temos casa e a sensação de desamparo sopra fria nos ouvidos, fica difícil escutar, enxergar, falar, mudar qualquer coisa... a vontade de chorar é mais forte.

buscamos as pessoas em volta, os sentidos nos planos que fizemos, a vontade que um dia foi tão forte, tudo parece distante.

o sono vem de dia e desaparece nas noites de domingo, levando nossos corpos à exaustão prematura da segunda-feira, da semana carregada de obrigações, das pessoas que andam aceleradas para todos os lados, se cruzam, se perdem, não se enxergam.

os beijos vão parecendo poucos e espalhados no tempo, os olhares se desviam, os corpos não se procuram mais... assim nascem os dias, passam as horas, assim sufocamos os sonhos, esquecemos os amores...

Leonilson