19.2.15

o vento, o carnaval...





quando estou sozinha, o vento passa diferente entre as folhas. o atendente da padaria dando bom dia a uma senhora nos comove, um sorriso cúmplice com a pessoa sentada ao lado é inevitável, por um instante parece que não estamos tão tristes.

num desses momentos, uma xícara de café com leite pode preencher quase uma hora, pra estender a sensação de amparo do morno do leite tocando a pele mais sensível da boca.

todas as vozes ficam opacas, a imersão não deixa ouvir, todos estão tão perto e tão distantes.

no momento que desci as escadas, já queria voltar, deitar com você de olhos fechados e só sentir o peso do seu braço na minha cintura, pra sentir algo que me prenda aqui.

pra sentir algo.

mas parece que ultimamente tudo que faço é agir e sentir em descompasso.

...

e no turbilhão do carnaval, dos encontros e desencontros, o tempo nos dá um descanso numa mesa de amigos, numa taça de vinho, numa noite de dança.

a vida brinca com a gente, canta no nosso ouvido, tira um sarro da nossa cara e nos acaricia o ventre, nos dá uma volta e nos leva embora, beija nossas costas, nos segura forte... e numa conversa arrastada e leve, num suspiro fundo, no salto, estamos soltos de novo.


3.2.15

sobre estar triste e continuar vivendo




sim, estou triste, qual é o grande problema com isso? é a vida...

tenho sentimentos, tem uns órgãos aqui dentro, que mesmo não entendendo bem porque e não sabendo o nome, se contorcem, se apertam, doem, quando menos espero. nó na garganta não é força de expressão.

e não era pra tanto, pode até ser, mas sabe já estou acostumada a sentir tudo grande, o amor, a alegria, a saudade, a raiva, a indignação e sim, a tristeza também.

teve um momento da minha vida que tive que escolher, não sentir nada ou continuar sentindo tanto. fugi do sentir nada com todas as minhas forças. não me dopar, anular, cegar, mascarar, foi uma das poucas grandes certezas que tive.

e agora, sigo assim, feliz... e triste também.

não significa que não entendo a importância de tudo o que estou envolvida. não significa que vou viver com menos empenho.

não significa que não posso rir com amigos e tomar umas cervejas.

não significa que não posso ficar feliz pelo momento feliz de outras pessoas, ainda mais se for uma pessoa querida e especial para mim.

não significa que a minha tristeza é mais importante que a tristeza e sofrimento dos outros, do mundo.

mas, com licença, é assim que me sinto por enquanto e sei que tenho meu tempo... mais ainda, sei que preciso viver o que sinto, só assim os sentimentos tem a chance de se transformar, posso crescer, não me perder e ser eu.

nessa neura de ser exatamente o que se é, nas minhas voltas malucas, sei que chego onde preciso chegar, onde quero.

aliás, há pouco tempo, numa conversa importante, uma pessoa que admiro muito, Brandão, me falava sobre como esses sentimentos nos tornam humanos e que justamente por sentirmos tanto, temos essa urgência e necessidade de mudar tanta coisa, de lutar, de arriscar, de dedicar uma vida.

é contraditório e é assim.