12.8.16

equilíbrio-desequilíbrio


"Diálogo de surdos, não: amistoso no frio
Atravanco na contramão. Suspiros no contrafluxo. Te apresento
a mulher mais discreta do mundo: essa que não tem nenhum
segredo."
Ana C.


num instante sinto uma tristeza e não quero que seja minha... penso vagarosamente como tudo está passando, como cada coisa está no seu lugar, no seu canto, que não existe nenhuma novidade e essas distâncias eram de se esperar. eu já sabia, lá bem no fundo não acreditava em nenhuma mudança, essas coisas não tem muita explicação mesmo, ou são ou não são.

as vezes estamos de um lado, as vezes de outro, nenhum dos papéis desse desencontro é agradável, vamos oscilando na vida pelos dois, nos começos ou nos desfechos das relações, seguindo sem poder evitar nesses passos no escuro. esperando ou nos surpreendendo quando algum encontro é possível por um momento, por algum tempo...

sinto essa tristeza sem poder evitar, não quero guardá-la no peito e nem segurá-la nas mãos, quero que ela escape como o vento, passando e passando por mim, frio sim, mas passageiro.

quero olhar pra uma outra direção, como quando olhamos uma estrada de uma viagem desconhecida, de imagens com campos, nuvens e céus num dia ensolarado, em que o movimento natural e inevitável de todas as coisas abrem horizontes, renovam esperanças, procuram saídas dos sentimentos que nos prendiam.

fico na dúvida se esses últimos anos fizeram algum sentido, abri algumas portas, nem todas tive escolha, essa mescla de aceitar o que cada dia traz e buscar o que realmente quero causa um equilíbrio-desequilíbrio tão tênue.

não quero me envolver com nada que cause sofrimento ou angústia para os outros ou para mim, não quero ter que pedir para ser amada, não quero explicar porque sinto ou não sinto...

afinal, a gente só sabe o que quer ou não, no momento em que se depara com todas essas formas que as entranhas dos sentimentos podem tomar.


7.8.16

direto para os poemas tristes...





sentir a tristeza, mas não se deixar ser a tristeza... essa que pega num desencontro de ombros numa tarde fria, que do nada insiste em apertar os olhos, o coração, que não conhece motivo, sentença, razão. (19/05/16)
...

perdi o fio da meada nessa vida-repetição, dos sentimentos, da razão, até mesmo das coisas cotidianas, de acordar, dormir, dos sonhos... os últimos  são de muita angústia, muito choro, pessoas confusas em volta, pessoas que desestabilizam de alguma forma meus sentimentos, que tem o peso de um mundo nas costas e um monte de deveres com os outros, todos os outros, mas não tem noção de que sempre acabam me machucando, passando por cima dos meus sentimentos. (13/06/16)
...

não conseguia conversar de verdade, tentava me proteger de seus olhos, que sempre pareciam ansiar por algo que eu não tinha, me sentia vazia e sem sentido.
olhava e olhava em volta para todas aquelas pessoas, com uma mistura de admiração e medo, não podia explicar. não podia dizer-lhes o que realmente se passava na minha cabeça, meu corpo não respondia mais e por mais forte que fosse minha teimosia, nada daquilo estava fazendo sentido, e o pior, nada mais em volta, dentro ou fora, fazia sentido também.

sentia um aperto tão grande no peito e nos olhos, as lágrimas saiam espremidas nos cílios, como podia explicar alguma coisa, logo eu. (20/06/16)
...

um beijo começando pelo canto esquerdo da boca, caindo pelos lábios até sentir o molhado da saliva, da língua, o rosto cada vez mais perto.
algumas vezes a pele parece que adere, que se aquece ao toque da outra.

um intervalo para o tempo e para os pensamentos, uma escolha, uma condição. (30/06/16)
...

achava que ia te convencer, continuar existindo, ilesa, imune, livre de qualquer coisa que pudesse me prender...
tem um tipo de prazer que é dolorido e quente, de desejos protegidos da vida comum. numa intimidade provocada, que nunca se concretiza até o final. (sem data 07/16)
...

tem um mecanismo que faz chegar no limite do corpo, do amor. quando bate uma vontade de chorar que nada segura. quando o corpo estranha e reage, pra se defender depois.
passaram tantos dias e semanas, alguns meses, para quase voltarmos ao mesmo ponto, mas o recuo é concreto e demais, não pude voltar.
e essa necessidade de provar até o final, até o último suspiro de um sentimento sufocado, que vai sufocando e sufocando pelos medos, pelas fantasias das possibilidades mais remotas e irreais, afastadas de tudo, afastadas de mim e da minha vida...
porque só devo viver por esse instante, ser esse momento encaixotado... não existe tempo, nem espaço e nem mulher real, que tem mau humor, que precisa de cuidados e de alguma ajuda com qualquer coisa da rotina...
essa mulher de carne e osso não serve pras histórias e rompantes, que fazem parte só de uma lembrança. (07/08/16)