22.6.15

pra não esquecer - ouvindo as histórias da tia-avó

tem momento que a gente não quer que acabe, ouvindo as histórias da tia-avó faz o tempo passar como brisa. sem deixar a intensidade, Wen Hui vem de muito longe na memória e no espaço para nos trazer as histórias de sua tia-avó e da China, numa costura de olhares, de mulheres e de vidas, como quando nos sentamos em família pra puxar na lembrança de onde viemos, como chegamos até aqui, nossa genealogia, dos lugares que passamos ou que fazem parte do que somos por ligações sutis.

pra além das palavras, fica a beleza da cultura e arquitetura rústica dos vilarejos chineses, em composição com as linhas dos tecidos, dos cabelos, dos corpos, ora rijos, ora suaves, numa dança pausada, que quase resiste a liquidez dos tempos.

na história política das pessoas e coisas uma série de elementos intriga, ficando a vontade de conhecer melhor o contexto e o mundo que abrigaram e provocaram dores, alegrias e profundas transformações.

Programa:

"Listening to the third grandmother's stories" (Crédito: Divulgação)

Na infância, a coreógrafa e bailarina chinesa Wen Hui, 55, dançava em desfiles para Mao Tsé-Tung (1893-1976), o "grande timoneiro" da República Popular da China.

Na adolescência, treinava sob a disciplina rígida da escola de balé estatal. Adulta, ela aprendeu técnicas de mestres da dança moderna.

"A história e a sociedade marcaram e moldaram meu corpo", diz Wen. É essa memória corporal-política que ela apresenta na ocupação de seu coletivo The Living Dance Studio no Sesc Pompeia.

O grupo independente chinês monta no Brasil o seu projeto "Memória-Futuro", em que sobrepõem coreografias, performances, vídeos e artes gráficas para contar a história recente de seu país.

A Revolução Cultural iniciada por Mao na década de 1960 e a Grande Fome vivida na China nos anos 50 são os temas da ocupação.

O projeto, coordenado por Wen e pelo cineasta Wu Wenguang, cofundador do Living Dance, começou com a busca dos depoimentos de chineses que viveram essa história em vilarejos distantes ou próximos de Pequim.

"Fazemos um trabalho político. Os chineses não gostam de se lembrar dos problemas do passado", diz Wen.

A "vida real" se espalha pela ocupação no galpão do Sesc Pompeia por meio dos depoimentos filmados, dos cartazes de propaganda maoísta, das fotos dos entrevistados e é reelaborada pelas performances de dança.

"Ouvindo as Histórias da Tia-Avó", é baseada nos depoimentos dados à Wen pela última sobrevivente da família de seu pai. Wen contracena com sua mãe, de 79 anos.

Em fevereiro de 2011, a coreógrafa Wen Hui retornou ao vilarejo em que seu pai nasceu para buscar as memórias perdidas de sua família. Localizado na província Yunnan, o vilarejo chamava-se Yi Men, e seu pai não o visitava há 50 anos. Durante a viagem, Hui se deparou com uma velha senhora, a última sobrevivente da família de seu pai: sua tia-avó. Su Mei Lin, 83 anos, natural do condado de Shuang Bai e agora moradora do vilarejo Da He Bian. Por três semanas a coreógrafa viveu com sua terceira avó, ao longo das quais a ajudou em sua fazenda e ouviu suas histórias sobre o passado. Isso a instigou na construção dessa performance/documentário.

“Enquanto procurava por memórias esquecidas de minha família, descobri minha tia-avó. Ela é a única pessoa de sua geração ainda viva dentre meus parentes. Ela é tia de meu pai, mas nem ele nem minha família a haviam mencionado antes. No último inverno eu a encontrei num vilarejo nas montanhas de Yunnan. Seu nome é Su Meiling e ela tem 83 anos; quando a conheci foi como se ela estivesse esperando a vida inteira pela minha chegada — esperando por 83 anos. Permanecemos juntas e ela me contou sobre sua vida. Por meio de suas histórias, eu conseguia ver como as grandes mudanças da China haviam afetado a vida de uma mulher.” (Wen Hui/direção)

Wen Hui (Crédito: Guia Folha)

fontes: http://app.folha.uol.com.br/site/noticia/562660
http://www.obeijo.com.br/eventos/the-living-dance-studio-china-12769556

15.6.15

dia a dia

{da semana passada}

piscamos e o dia a dia passa
se passam manhãs e finais de tarde
poucas palavras trocadas, nenhuma verdade
tentativas vazias
e já desisti tantas vezes
mas sempre tem uma manhã mais gelada
em que a frieza das relações dói mais

esse mundo cheio de pessoas tão vivas está morto
e está nos matando
aos poucos esquecemos dos pontos que tínhamos em comum
das risadas que nos salvaram tantas vezes
do olhar vivo e carinhoso
dos desencontros cheios de vontade de existir

de pertencer
de ser

na falta de perspectiva de mudança
o instinto me empurra
ora pra palavras desajeitadas
ora pra uma vontade feroz de fugir
sumir

estar em qualquer lugar
em todos os outros
porque machuca demais
ficar aqui



*desnecessário

[quase toda poesia esbarra no amor, essa é sobre o amor que coube nas pequenas brechas das relações fraternais, que esperávamos salvar da frieza.
é sobre a perda das nossas relações irresolutas...
e tentar ter paciência pra acreditar, que os motivos não poderão ser negados, as causas vão falar mais alto, e mais uma vez vamos nos deparar com escolhas.]


1.6.15

amar o amor





a gente começa e termina
muda as regras
solta os laços
da a volta
vive de ponta cabeça

perde um tempo danado com o amor perfeito
esquece da vida...
experimentando outras formas de amor
livre, aberto, ligeiro, rasteiro

pra ficar a saudade
aquela do amor...

de amar o amor¹



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¹ tá, tá meloso, desculpa aí!