28.7.10

ser mãe é nunca ser suficiente

nunca, disse aqui outro dia que preciso aceitar não poder ser 100%, ser mãe e ainda ser humana é ter que aceitar não ser nem 50%, nem sei lá quantos %, o primeiro pensamento quando alguma coisa dá errado é que não fiz o suficiente, não fui suficiente, não dei conta, não prestei atenção, não tive a dedicação necessária...
resfriado, machucado no dedo, alergia, nota ruim na escola, briga com algum amigo, cara feia, cabelo no olho, roupa suja ou remendada, falar "não" sei lá quantas vezes por dia, ter paciência para dar explicação do que agente nem sabia que existia, comprar figurinha, trocar figurinha com marmanjo na Av. Paulista para completar álbum de mais de 600 caras de jogadores que vc e seu filho nem fazem ideia de quem são.
ah, mas isso é o dia a dia, a gente vai tropeçando mas vai...
a agonia é no dia em que um médico que não tem a menor noção do seu caminho até chegar lá, olha no relógio e da uma respiração pesada, nem olha na sua cara e nem olha para o rosto amassadinho do seu filho que sempre passa mal no ônibus, entra na sala na sua frente e olhando para a ficha, a consulta é ler ficha, prontuário, dar mais alguns rabiscos pra depois dizer que: a sua criança de 7 anos que está com todos os exames em ordem e que os tratamentos não surtiram o efeito esperado precisa fazer um procedimento simples para retirar a adenoide.
*tradução* como eu-mãe escuto essa frase: o meu filhinho, de SÓ 7 anos, que vai muito bem de saúde mas que vive com o nariz entupido e respirando pela boca, que teve que usar durante anos um puff irritante no nariz, que a gente nunca sabia direito se estava entrando realmente aonde deveria entrar, e que como não resolveu nada ele vai ter que passar por uma cirurgia, com anestesia geral, passar o dia no hospital, talvez a noite, voltar para casa todo enfaixado, com dor, sangue.
eu chorei na recepção na hora de marcar. não se preocupem, ele não percebeu.
posso parecer dramática, mas só venha me falar alguma coisa se vc for mãe e já tiver passado por isso.
ainda não decidi o que fazer, mas não tenho certeza se podemos passar por isso de novo no mesmo lugar...
minha ingênua esperança é encontrar um guru mágico que me passe uma receita de formigas fritas, patuá no pescoço e xarope bem azedo para nunca mais ver meu filho espirrar ou ter falta de ar.


27.7.10

um dia cinza

quando o dia está cinza eu fico lenta, com vontade de me encolher, ficar pequenininha e quieta, se eu pudesse não sairia de casa, ficaria no sofá com minha caixa de tecidos, fitilhos e agulhas...
um chá bem quente e estaria tudo perfeito.
ontem na aula de ballet, quebrei a cabeça de tanto pensar, que exercício acertar os passos, a contagem e acompanhar a tia Ká, terminei a noite exausta.
hoje estou com uma "ervilha debaixo do colchão" uma ansiedade sem motivo, sem explicação, uma sensação de que alguma coisa está fora do lugar (eu!? provavelmente), continuar um dia com vontade de que ele termine faz perder todo o sentido de ser, de existir.
queria ser assim ordinária e pensar "a esperança é a última que morre" mas hoje principalmente hoje, não consigo.
hoje não sirvo para nada e em meu papel obsoleto e inútil quero desaparecer, puff, sumir sem deixar pistas, atravessar um portal qualquer, entrar em mim e ficar, só voltar quando o tempo abrir...

22.7.10

balanço

A Aninha, uma pessoa muito especial e querida, escreveu outro dia um post sobre a crise dos 30, estava pensando hoje no caminho para a USP nas minhas crises dos últimos tempos, crise dos 27/28, tão parecidas com a dela e fiquei devaneando, acho que essa crise não tem só relação com a idade, tem mais relação com o compasso da vida que levamos, mais do que com qualquer outra coisa... bom, vou continuar, mas falando por mim:
eu tive filho com 20 anos, muito cedo, para a média das minhas amigas, aliás, das minhas amigas do tempo da escola, nenhuma teve filho ainda...
quando todas estavam correndo atrás de faculdade, experiência profissional, experiência em línguas estrangeiras, namorado, vida social, em fim...
eu estava contando os dias, meses e anos para terminar a faculdade que não foi minha 1ª, nem 2ª, nem 3ª escolha, estava procurando estágio mais com cara de emprego para pagar as contas do que para aprender, me sentia culpada por não poder ficar mais com o Caio, por não mudar meu caminho profissional por medo, por querer ter vida própria e ser uma jovem de 21 anos pelo menos de vez em quando, namorar, ficar sozinha, desenhar, escrever e sonhar...
a trancos e barrancos tudo caminhou bem, hoje consigo aproveitar melhor meu tempo com o Caiuxo;
aceito que não sou a mulher-maravilha e que não dou conta de tudo 100%;
graças a faculdade, que não gostei nem um pouco de fazer, consegui um emprego onde tenho liberdade para seguir outros caminhos, outros sonhos e cada vez mais me aproximo das coisas que realmente gosto;
meu relacionamento amadureceu sem perder a graça e o friozinho na barriga;
logo logo vou ter meu espaço, com a minha cara, com a carinha do Caio, e do meu amor;
tenho duas irmãs lindas, com quem posso contar sempre, a que fica mais pertinho, a buba, é meu braço direito, minha irmã e alma gêmea, a madrinha do Caio, a única que poderia cuidar dele do jeito mais próximo ao meu, na minha ausência, ensinando a viver e a desfrutar a vida em seus pequenos detalhes e prazeres, a ser genuinamente bom, não para agradar aos outros, mas à sua consciência, a se desculpar e desculpar os outros de vez em quando, quase sempre erramos muito antes de acertar, e só assim é possível chegar aonde queremos. a buba sabe disso, fico feliz por ela estar começando a acertar seu caminho!
dos amigos, sinto o mesmo que a Ana, queria tê-los mais próximos, hoje quase tudo o que faço é com o Caio, não por falta de opção, mas por querer fazer e dividir as coisas com ele enquanto eu puder, no dia em que ele não quiser mais ou quiser menos, acho que vou sentir de verdade o peso da solidão (dramática!), mas é verdade, nesse aspecto estou em total descompasso com todas as minhas amigas, quando elas tiverem tomadas por seus filhotes o meu vai estar começando a seguir seus primeiros passos solo, em seu, só seu tom... vai precisar de espaço, e eu como sei muito bem o que é isso, vou fazer todo o esforço para respeitar.
de vez em quando tenho a alegria de ter esses amigos comigo e com o Caio, é muito bom mesmo, mas é tão pouco o que a rotina e o cotidiano de todos permitem, que quase sempre sinto um vazio com relação a isso...
ah, e tem o ballet, estou muuuito no comecinho ainda, mas já me sinto tão preenchida por ele, é maravilhoso encontrar uma forma de relaxar, trabalhar e se conectar com seu corpo de uma maneira que não agrida sua forma de ser, é um lugar onde deixo os problemas de lado, me envolvo com a música suave e com os gestos demorados, o tempo para nas mãos e pés que transpassam o ar e desafiam o impossível, se acharem melhor, nem levem em conta o que digo sobre o ballet, são palavras de uma apaixonada.
espero que tudo isso se transforme em amor...
para terminar, crise é crise, vem, parece que vai detonar com tudo, mas passa, pode ser que demore um pouco, acredito que a única forma de acelerar a sua despedida é não desistir de procurar caminhos, conexões, consigo e com os outros, quando as pessoas estiverem por demasiado inacessíveis, recorra à arte, aos livros, música etc. sempre aparece um caminho que dá certo! rsrs

20.7.10

o dia mais longo do ano = feliz





ontem foi um dia puxado, o mais longo, muita coisa no trabalho, discussões profundas, gente nova para receber, gente velha para conviver, tudo ao mesmo tempo...
cheguei em casa e encontrei minha irmã de looonge, a Marcela, muito bom chegar em casa e ter mais um par de olhinhos brilhantes para me receber, conversar sobre como foi o dia, sobre os planos para amanhã e para a vida toda, carreguei todos para o Studio Ana Esmeralda, o Caio deu umas piruetas envergonhadas, a Ju e a Marcela deram bastante risada com a minha professora delicada-forte-palhaça, saímos todos leves, com vontade de flutuar pela alameda, porém acabados!!
noite do pijama com sorvete de abacaxi para terminar, conselhos de irmãs preocupadas, descobertas de irmãs desinformadas, muita risada, um pouquinho mais de barulho do que o permitido, mas é que estava difícil conter a empolgação, o envolvimento.
feliz feliz!


15.7.10

saudades

"fiquei curiosa sobre o mestrado, que bom que está conseguindo ouvir, deve ser um aprendizado incrível mesmo, um talento que vale conquistar. você sempre com as moças mais jovens! rs
mas os homens podem ter filhos com muito mais idade, não é mesmo!?
a saudade deve ser das expectativas, da ilusão que representei um dia, assim como vc para mim... eu estou bem mesmo, encontrando novos caminhos, uma grande curiosa, o que me possibilita muitas descobertas, depois de adulta resolvi aprender ballet, estou adorando, as vezes desenho, escrevo, estou seguindo minha lista de leitura sem pressa, aproveitando cada detalhe, toda noite seguro um pouquinho a mão do Caio antes de dormir e trocamos declarações de amor como te amo mais que o universo, mais que uma magia é muito gostoso! rsrs"

14.7.10

Encarando

a entrada tem suas grades verdes e trabalhadas, uma escada leva ao corredor de um subsolo, um corredor de imagens fortes, antigas e novas, bailarinas e dançarinas de flamenco, uma mistura de delicadeza e força, tons suaves e vermelhos. ao fundo uma grande porta, um vitro na lateral, nesse vitro que tive a primeira vontade, dentro da sala o chão é de madeira rústica, marcada pelos saltos e pelo tempo, lisa, é uma sala comprida, à direita inteira de espelhos, à esquerda a barra segue de uma ponta à outra.

entre a barra e os espelhos ficam as bailarinas, sonhadoras, iludidas, decididas, determinadas, delicadas e fortes, hora deitadas em exercícios para iniciantes, hora de frente para o espelho encarando seus primeiros passos, ansiosos, desengonçados, esforçados, encarar sua imagem alongada em seu máximo, ainda pouco para o ideal, mas seu máximo naquele momento, exige grande esforço, encarar seus defeitos e suas virtudes, encarar as imperfeições, os vícios de postura, a falta de agilidade e de tenacidade, tudo isso sem perder a motivação, sem perder o gosto, sem perder o foco, segurando os olhos teimosos que insistem em olhar para o lado, querendo se comparar, querendo se vangloriar, sou melhor que esta e aquela, querendo me derrubar, como posso ser tão pior que tantas...?

a ideia inicial não é essa, preciso voltar, concentrar, manter a linha, a firmeza e o foco, o meu desafio é principalmente com o meu estado de espírito, lidar com minhas expectativas e inseguranças, encontrar meu equilíbrio, eu quero vencer, ultrapassar, não desistir.

eu quero e eu vou... teimosia afinal serve para o mal e para o bem!

12.7.10

Alongamento

alongar é preciso...
no sábado depois da minha aula de ballet, fiz um alongamento básico com a Ju e o Caio, foi muito gostoso, como as crianças são livres de travas e limites, o Caio é molinho molinho, estica para todo lado, ficou tão relaxado que no final já estava bocejando e com expressão zen, rsrs.
alongamento é quase um espreguiçar, as vezes com uma dorzinha gostosa de colocar as coisas no lugar!

8.7.10

Encontro

ontem voltei para casa feliz da vida, amei minha 1ª aula, na verdade estava com medo de, por conta das altas expectativas, não me encontrar... nanana
foi ótimo, senti que posso ser exatamente como sou, um tanto tímida, e poder aproveitar a aula, sim, doeu um pouquinho, em dois breves momentos, muuuito, mas vale, vale demais.
em casa me senti leve, com vontade de continuar, sentir as pernas esticadas, a ponta e meia ponta.
sinto que posso levar isso para minha vida e com muito gosto, sinto que posso fazer parte desse estilo, o principal, sinto vontade de aprender mais e de continuar.
fiquei realmente admirada com a professora, que corresponde e supera qualquer expectativa (saiba um pouco mais aqui), misturando graça com um jeitinho especial de ser engraçada, deixando todos muito a vontade.
sábado terei aula com um professor, espero já estar com minhas sapatilhas... ai que prazer só de imaginar! rsrs

7.7.10

Promenade - Ballet Clássico

me aventurando, eu vooooou! rsrs
por que não, por que nããããão!

sonho de criança é coisa que deve ser levada a sério, encontrei quem concorde comigo e vou à busca...

hoje, 9h, encontro meu destino e na expectativa das batidas do flamenco de ontem tento acalmar meu coração.

encontrar a força das saias em minhas pernas, a retidão da postura em minhas costas arqueadas pelo vício, pela sucessão dos dias, o olhar fixo como brincos de madrepérolas brilhantes, compridos, encostando levemente no pescoço, sem pesar nas orelhas, assim como o fio de cabelo que escapa e insiste em brincar com a sobrancelha, fazer cócegas nos olhos sem desconcentrar a dançarina.