29.5.16

boa noite...





queria te encontrar,
deixar o tempo correr um pouco
sair do espaço vazio em que nos colocamos
deixar desaguar qualquer sentimento

queria tempo
você, eu
um olhar
qualquer palavra que dissesse alguma coisa de dentro

é estranho me sentir tão por fora,
distante

e o mal entendido tratou de nos desencontrar
os dias todos do feriado se transformaram em intervalos
com hora de começo e de acabar
quase um relógio de ponto
pra trazer ao descanso a sensação fria e vazia do controle cotidiano

boa noite
não respondo mais
como posso...
como posso insistir, brigar, sentir tudo sozinha

seus medos trataram de me convencer
nada mais importa... tudo bem.

23.5.16

a gente gosta




gosto, gosto e o impulso é querer
e buscar esse gostar
uma vontade de ficar, tocar,
encostar o corpo e sentir perto

é estranho não querer
o querer e o gostar
já sentimos tanto medo
um bom tanto da timidez toda é só medo

e não consigo recusar
essa sensação que chega
que foi num susto
tomando espaço
e precisa existir

fui me dando conta
na mistura dos acordes
do acordeon com um beijo
nos passos largos até a Av. São João
aceitando os gestos sutis
o entrelaçar dos dedos
o emaranhado das pernas
a vontade
nas notas disfarçadas
de olhares e sorrisos oblíquos
insisto e fico
no tempo recolhido
no intervalo de todas as coisas
de todos os outros

só por mais um momento
e outro, e outro...



19.5.16

garoa fina




a sensação de um beijo
pequeno, doce, fugaz,
feito de medo,
é concreta e fria.

nunca, nunca mais, vou esquecer
não quero reconhecer
não quero mais sentir.

dá medo, dá medo sim
perceber que o amor não bastou
que o desejo não é suficiente
que acabou.

e fica um vazio nesse espaço
entre o seu ombro e o meu,
que não podem mais se procurar,
se encostar,
buscar qualquer conforto.

é vazio esse espaço
é frio como a garoa fina
de um dia cinza em São Paulo...