27.7.18

rascunho


tem uma coisa no canto dos seus olhos quando sorri. é que não é um sorriso qualquer, ligeiro, é suculento (rs!), de fazer brincadeira sentindo por dentro umas cócegas no coração, na buceta, nos abraços e nas dobrinhas. do peso do corpo solto no colchão e da cabeça envolvida nos braços, numa dança amarrada de pernas e quadris... cê conta uma coisa séria e outra, a gente emenda uma piada e uma música brega, vira gargalhada, vira corpo que se enverga e encosta mais um tanto as coxas. dá pra ficar horas num mergulho desse, olhando as bolhas se formando e estourando no ar, de respiração, de ideia, de afago.

um botão, outro e um alfinete, mordida forte sob a meia calça, surpreende a mordida suave e molhada na pele. que pele é essa que quando se encosta muda a temperatura do corpo inteiro, muda os sons em volta e a quantidade de saliva num beijo.

25.7.18

diário-intervalo


perdi o caminho das palavras em algum ponto, na aceleração dos tempos, no exagero das imagens, nessa coisa de tentar acompanhar tudo. não consigo escolher, essa sempre foi uma dificuldade na verdade, a ansiedade de estar em todo lugar e de não estar em nada, de ir se fechando de tristeza ou cansaço, ou de não ver sentido mesmo.

essa coisa da falta de sentido, dá uma volta, aperta e retorna. tem esse tempo do sentido das coisas. o tempo de ir tentando entender. de ver como funciona, como a gente se sente e como sentem as pessoas em volta. depois acaba.

parece que não volta, as vezes volta. nunca se sabe a duração.

não quero divagar, não quero romantizar esse tempo esvaziado de experiência entre uma obrigação e outra, que tanta gente nem tem, nem isso, e que pra maior parte isso só vai se espremendo, moendo e virando pó. mas essa coisa de ir e ir mais, esticar, tensionar, só não tá mais funcionando. a cabeça já não ia, o corpo agora não vai, a vontade aperta as entranhas, os lençóis e os minutos do relógio, que já não valem 60 segundos, que já não existem de forma linear e vão se chocando em blocos de tempo. de tempo em tempo algo se perde e quebra nas ligações mais superficiais.

nessas ligações superficiais.

alguma coisa ativa ou desativa essa ligação, varia o dia e a constância. talvez a falta de sentido esteja em deparar essas variações com palavras estáticas. as palavras aceitam tudo, só não aceitam quem não as usem com verdade, uma verdade dissimulada, uma crença, uma crença disfarçada de espírito, um movimento que quer quase chegar no vento, nas ondas, no azul mais marinho, no azul da meia noite.

esse azul não aceita palavra.

16.7.18

desenlaça



desenlaça a alça
solta os ombros
roça o corpo
feito pele
feito pelo
respira o cheiro
humedece o ar
enche o espaço
com tuas vontades
que minha saudade
tá me derretendo
que meu tempo
tá se desfazendo
em calor, frio
água e vento