2.8.13

rabiscada




me sinto forte falando com toda energia, as palavras ecoam tentando me lembrar. lembre do que você mesma repetiu com tanta certeza. lembre sempre do mais importante, que o mundo não gira ao seu redor e é preciso encontrar alguma consistência, não se desmanchar. pra não sentir tudo latejante, as vezes todas as vozes em volta soam mais altas e opressoras, o sono é ruim e fragmentado, deixando o corpo e a alma frágeis. a voz que era doce se revela pouca e só. só num sonho perdido que não faz mais sentido, em que o tempo para respirar é acelerado e a capacidade de resolver coisas vacila.

a sensação de ser rabiscada e cortada não é nada boa.




minha energia foi embora junto com a vontade de devorar a vida, os lugares e as pessoas, tudo parece demais e me vejo como a peça imprecisa que tanto critiquei. todos tomaram seus lugares. aos poucos fincam suas raízes, penso se algum dia ainda encontro o meu. estou distante demais de tudo e quase perco o fio que ainda me prende em algum sentido, não posso voar alto, não tanto, não agora.




não estou tentando resolver nada, não mesmo. estou suspensa e só. quantos caminhos existem. quantos pude experimentar, saber o que não se quer não alivia o vazio que fica. algumas pessoas foram feitas para o deslocamento persistente, mesmo com as mãos estendidas, se afastam cada vez mais. juro que não sei porque. mas acontece assim, se repete assim.

de repente o que restava vai ficando mais distante, gelado e oco. as palavras não estão servindo. nada é claro. todos os pedaços vem e voltam confusos e nada mais serve nesse molde feito e refeito, depois de tantas dúvidas.

eu sinto a vibração e os ruídos em volta, não alcanço. peço uma música triste. queria ter uma garrafa de vinho, nada de vinho bom, amargo ou caro. um suco doce pra acompanhar a melodia e as notas, pra apertar o botão certo e destrancar a sensação de angústia. já prometi que não bebo mais, promessas são tão ridículas quanto cartas de amor.




e quando você se depara com a suposta liberdade não encontra vontade pra nada, nem reencontro, nem surpresa, nem carinho, nem sermão. tudo isso porque sou mimada pelos espíritos dos sonhos, com suas cores voluptuosas, com suas máscaras intrigantes e cheias de imaginação, sou mimada demais pelo céu suave e azul, azul, azul, soslaio, de nuvens encantadoras tocando sua própria melodia hipnotizante, me guiando inconsequente a querer só o que valha como a respiração mais profunda do aspirante ao conhecimento.

e tudo o que é concreto demais exaure, tudo o que é sonho demais está longe.


as tirinhas são do Liniers, amor a primeira vista apresentado pela linda Fernanda Ninomiya.


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