27.10.12

carta

escrevo para você na esperança de que um dia procure saber como estou, no que penso e a motivação disso tudo que acabou. acabou, mas não é bem assim, fim, fácil, terminou, as lembranças ficam junto das dúvidas. os filmes que passam em minha cabeça são cheios delas, das lembranças e das dúvidas, não tem fim, rebobino a fita, imagino outros roteiros possíveis, sinto tudo de novo e de novo.

muitas das coisas escritas aqui, são para você.

o trabalho de retomar a razão e a serenidade de uma decisão tomada não é nem um pouco fácil, nesse meio tempo pareço uma louca completa, fazendo coisas sem sentido, escrevendo palavras confusas, brigando com o sono e acabando com minha saúde, faltando no trabalho, adiando compromissos, deixando tudo pra depois, olhando para pontos fixos por minutos prolongados enquanto as agitações ao meu redor não compreendem a necessidade de simplesmente parar tudo. pois é, é só isso que tenho feito ultimamente, brigar comigo mesma, tentar continuar mesmo com todo o meu organismo resistindo em seguir em frente. a vida não dá trégua, nunca deu.

fico imaginando o que ficou disso tudo pra você, principalmente como deve ser incompreensível a minha confusão, os altos e baixos, os rompantes. deve achar que te odeio por não querer mais te ver e por querer enviar por terceiros as suas coisas. não odeio não, nem um pouco, talvez essa seja a maior dificuldade, eu te amo, e insisto em ter esse defeito de fabricação(criação): o amor romântico. o amor falido, iludido, idealizado, irreal. qualquer coisa que você fizer ou ser estará fadada ao fracasso, e não é sua culpa, é do amor romântico.

talvez a gente tenha uma história bonita juntos, de muita dedicação e tudo foi melhor ainda do que eu poderia desejar, foi real, na medida do possível, vivemos cada momento, vivemos cada desejo e cada verdade, experimentamos nossos limites, nos superamos, afinal foi uma história de uma menina e de um menino, que aprenderam a amar e a ser adultos juntos, com toda a complexidade, que isso implica. vivendo e encarando todos os machucados e cicatrizes, que já tínhamos, tão novos. e nos refizemos, nos refizemos tão bem, que hoje somos praticamente inteiros, construímos nossa identidade e estamos a caminho de consolidar isso.

e talvez por isso tudo que conquistamos, nesse caminho de consolidar o que somos, não existe espaço mais, nem em mim e nem na sua vida, para o meu amor romântico. ele me consome demais, ele exige de você coisas que não são da sua natureza. ele nos prende e nos limita. se pudéssemos ser pequenos, talvez fosse suficiente, mas não é, sentimos lá no fundo, na essência e nas entranhas, de que algo está errado, que não estamos fazendo algo importante. cada um no seu caminho.

e agora enxergo com um pouquinho mais de clareza, a limitação é tão minha, quanto sua. no medo de encarar a autonomia, o tempo e o espaço, o que sou e o que faço, minha identidade, tentei me distrair, me dedicando inteira a um sentimento. tentei me distrair focando no que faltava e não no que tinha, focando no ter e não no ser e no viver. e então, como me conheço bem, só uma decisão radical daria a chance necessária para essa mudança, de foco, de um jeito atrapalhado, tudo bem, sou assim mesmo, mas estou no caminho, redirecionado, atordoado, mas estou seguindo e é isso que importa agora.

em meio a tantas dúvidas agora, ainda, é isso o que importa e por enquanto é o que basta.


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