14.4.13

rascunhando: num mar sem ondas



olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas


Ana C.

meu corpo insiste em trabalhar fora de compasso, em perder-se na madrugada, na vontade de queimar o tempo e satisfazer desejos nas horas mais impróprias...
impróprias porque não existe tempo pra nada disso na vida real, cheia de compromissos e convívio social fragmentado, mergulhar exige coragem, disposição e tempo.

tempo é dinheiro e não pode ser desperdiçado com vontades marginais.
coragem é liberdade de ser o que se é, enfrentar medos, passar por cima da insegurança e do ridículo, dá um baita trabalho.
a disposição depende de só uma coisa: escolha, escolha por isso e não por aquilo, e mais uma vez as escolhas marginais acabam se perdendo, não são uma prioridade. um segundo plano de escolhas marginais está sempre à espera, na promessa de quando tudo o mais for possível, o amor, o carinho, a poesia, a companhia, as pessoas.

sempre caio na mesma armadilha afinal, afastando as pessoas e choramingando sua falta... incoerência é também querer e fugir, amar e desistir, sonhar e não insistir, ter preguiça de ser o tempo todo, não ter a força necessária pra construir uma continuidade, jogando-me conforme as ondas de um mar de tombo, afogando-me num mar sem ondas.

as luvas vermelhas me protegem de você, do devaneio que é ter você em mim, me iludo achando que posso continuar direita e reta, tudo o mais já se perdeu quando li uma linha sua, olho a imagem refletida das vontades mais perdidas, não quero encarar-te, não ouso encarar-me.

me finjo de menina, tentando enganar o mundo de anseios por uma mulher fraca e sem personalidade, frágil. faço cena e brinco de fazer parte. a noite é outra história, todos os medos acordam e o sono escapa levando o rosado do meu rosto, deixando marcas nos olhos, lágrimas faceiras, imprudentes.

me visto de mulher, tento me convencer, o subjetivo transborda.

desenho de Juli Ribeiro o-capuccino.blogspot.com.br


2 comentários:

  1. Ei, apesar de tudo, tudo continuará a ter o seu pesar.
    E apesar disso, seu peso na vida dos outros faz diferença.
    E a noite é quando a luz do mundo é fraca. Se a nossa luz não é forte, fica difícil seguir em frente. Precisa abrir os olhos pra iluminar o caminho.

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    1. fecho os olhos e ilumino o caminho dos sonhos...
      abro os olhos e logo me perco!

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