24.6.13

virar pelo avesso e... continuar


arte de Jefferson John


há 1 ano e meio parece que apertei o botão "mudar", mudar tudo, tomei coragem, puxei o fôlego e fui em frente. mudar de casa, me adaptar a uma realidade totalmente diferente, terminar um relacionamento de 8 anos, não desistir da pós-graduação, estabelecer de vez minha autonomia, dar conta de muitas mudanças no trabalho,  dar conta de mim e da minha família, tudo isso sem deixar de acompanhar bem de perto o caminho do Caio, meu filho querido e tranquilo, que me deu a maior força, mas também passou por todo esse turbilhão e sentiu cada mudança. sinto como se tivéssemos passado por um furacão, cansados e cheios de arranhões, mas com o coração transbordando de vontade e sonhos. mais leves e cheios de vida.

sigo nesse caminho sem certeza alguma, confiante de que não tem mais volta. a cada passo, feito de questionamento e convicção, continuo acreditando que todos têm seu papel social e podem fazer valer uma vida cheia de significados, para as pessoas, para o amor e pra arte, pra cada palavra.

nesse percurso encontrei e reencontrei pessoas tão queridas, que me apoiam, inspiram e ajudam tanto, com a vontade de quem realiza seus próprios sonhos, cada uma a sua maneira. é com essas pessoas que escolho seguir, elas me fazem acreditar cada vez mais na vida.

aprendi sobre fazer escolhas e entendi mais do que nunca o quanto é importante dizer não, entender o que não quero mais ou nunca quis. aceitar, mudar e acreditar que num caminho sincero não se pode carregar peso demais. sem culpas e com o desprendimento de quem confia no acaso e no tempo, fiz escolhas importantes e, quanto ar fresco, quantos horizontes, quantos céus de estrelas, luas e  arrebóis se abriram. sério.

no sábado passei por um crivo importante, com um trabalho que é o retrato exato do que sou, uma mistura de coragem e medo, uma paixão pela poesia da Ana C., uma admiração sem tamanho por mulheres como ela e como a Letícia, que colocam sua voz no mundo, cheia de verdade, intensidade e lirismo. uma mistura de questionamentos, convicções em construção e desconstrução, uma vontade de ser e estar. uma confusão! uma declaração de amor a vida e a arte. incompleto, um grande quebra cabeça com algumas peças fora do lugar, como se tivesse vestido a verdade de tal maneira e não pudesse mais mentir, algumas peças ainda não se encaixam.

fui cheia de inseguranças pra apresentação, com as bochechas queimando e as mãos geladas. a apresentação foi péssima, mesmo, falei o que pude e o que deu, acho que mais ou menos como sou desajeitadamente sexy, fui desajeitadamente apaixonada na minha fala, o que acabou ficando um pouco engraçado, mas tudo bem! rs

bom, o que importa mesmo é o trabalho escrito, ainda bem. e na hora dos comentários e perguntas da banca eu estava bem mais calma, quando a primeira professora, Kátia Kodama, começou a falar eu já conseguia respirar normalmente e pensar com clareza. sua voz era num tom suave e seu agradecimento por ter sido apresentada à Ana pelo meu artigo me encheu de alegria, ela foi muito cuidadosa em seus apontamentos, disse que estava tudo ali no meu texto e que só faltou um alinhavo entre algumas ideias. o segundo professor, Roberto Coelho, a sua maneira foi muito elogioso e perspicaz em seus comentários, disse que me perdi quando me apaixonei pela Ana. ele tem toda razão. minha orientadora, Cláudia Fazzolari, com todo carinho de sempre reforçou como o mergulho na poesia da Ana e algumas escolhas de estrutura acabaram tornando esse alinhamento mais difícil, lembrou ainda que no meu projeto inicial essas intenções já apareciam com clareza e que nas minhas anotações no percurso eu apontava nessa direção. pra minha alegria maior os três reforçaram os pontos fortes do trabalho, o potencial para continuar e até se ofereceram interessados em me orientar num mestrado com o maior entusiasmo e várias ideias. já pensou!? não, não tinha pensado...

resultado: fui aprovada sim (ufa! eba!), mas pra versão final devo resgatar esse alinhavo entre os elementos do meu artigo, a Ana, a Letícia e o Bruta. tá tudo aqui já, espero conseguir passar pro papel com mais clareza.

e quer saber, to feliz pra caramba, entendo mais uma vez que não adianta forçar ou moldar um caminho, tenho o meu tempo e jeito, que as vezes é todo ao contrário, entender isso faz parte de todas essas mudanças, descobertas e presentes que desencadearam nesse percurso.

esse grande caos foi e é tão necessário, o mergulho nessa poesia aguda e provocadora não me rendeu apenas um bom artigo, mas uma reflexão que nunca tinha enfrentado na vida, um salto pra questionamentos que não faço ideia de onde vão parar, talvez nunca parem...

eu sabia
que virar pelo avesso e continuar
é uma experiência voraz

"olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas"

Ana Cristina Cesar
 
"a Ana rasga, ninguém passa de raspão por ela, a poesia dela abre, fundo, abre até o ponto em que não se sabe onde ficou o anzol (…) a Ana consegue ser absolutamente universal e delicadamente particular, mas é preciso tentar, tentar além da Ana, tentar através da Ana, porque talvez assim, e só assim, seja possível segurá-la no salto ou segurá-la no ar."
Letícia Simões



4 comentários:

  1. Esse post é tipo trailer de filme... a gente quer logo apertar o play pra ver o longa!

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  2. Muitos Parabéns Yuna! Fico muito feliz. Sinto uma leveza nas suas palavras, uma clareza "depois de virar pelo avesso e continuar". Um contentamento do que vem de dentro. Fiquei curiosa para conhecer Ana Cristina Cesar :) Alexandra [She is lost...]

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    1. fico muito feliz em saber que minhas palavras passam essa impressão.
      a Ana C. é uma poeta que certamente você vai gostar, se identificar e admirar, espero que seja possível encontrar algum livro dela por aí, o que se encontra na internet ainda é muito pouco, qualquer coisa me fale por e-mail e vemos um jeito de te enviar.

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