7.9.14

aqui se respira luta




não podemos comprar o vento não podemos comprar o sol não podemos comprar a chuva não podemos comprar o calor não podemos comprar as nuvens não podemos comprar as cores não podemos comprar nossas alegrias não podemos vender nossas dores são tantas pessoas, verdades, intenções já não somos os mesmos não podemos caminhar de olhos fechados as dores ecoam nos olhos e vozes na terra seca no asfalto queimado na vida pouca as lágrimas umedecem a rachadura livram os caminhos nos unem a alegria encontra espaço nas margens
no povo na revolução os corações ansiosos brincam de fazer poesia firmam suas vontades trocando palavras e sonhos de repente todas as vozes se fundem os gritos dos jovens de trabalhadoras e trabalhadores mesmo os desabafos dos incrédulos toda linguagem se presta se desdobra buscando mostrar que ainda estamos vivos e não estamos dispostos a nos entregar estamos em todos os lugares passamos raspando por seus fuzis e de alguma forma tomamos nosso espaço todo esforço só nos dá mais sede
o pulmão apertado procura o ar aqui se respira luta! ouvindo essa música tão bonita, Latinoamérica, e misturando trechos de conversas, são tantas as histórias. a do atendente, seu João, que veio do Nordeste, dizendo orgulhoso, quem vem do calor de lá está preparado pra tudo nessa vida, e é preciso estar preparado até pras coisas boas quando chegam, saber aproveitar e não perder as estribeiras. da mulher religiosa que crê na luta dos trabalhadores, pela força de Jesus e da nossa união vamos vencer! a do homem calado, que toma coragem de contar sua história num soluço, durante a greve não é marido, genro ou irmão, é companheiro.

da feminista que já sofreu tanto calada e encontrou no grupo mais diverso de mulheres, lésbicas e trans, Pão e Rosas, um espaço para contar suas histórias, ela gosta de falar, lá ela pode falar quanto quiser e ser ouvida. da leitura de Eles Não Usam Black-Tie, com o pessoal do ciclo de Leituras Públicas do TUSP. quando Tião tenta explicar pra Maria que furou a greve não por medo do patrão, mas por medo de encarar que é operário, que seu ganha pão é feito de greve e de luta, que a sua vida será como a de seus pais e de sua CLASSE. preferindo acreditar na chance de uma riqueza efêmera, abandona os seus. Maria manda ele embora, não vai junto mesmo com o filho no colo. a mãe de Tião chora emocionada, na peça e na vida. "O nosso amor é mais gostoso Nossa saudade dura mais O nosso abraço mais apertado Nóis não usa as bleque tais"
Adoniran Barbosa e esse processo todo de fazer parte da greve, do movimento Nossa Classe, de conhecer pessoas que vivem uma outra lógica, é rico demais. estou aprendendo tanto e revendo uma série de coisas... revendo e desconstruindo pra criar novos espaços, em mim e no mundo. ao mesmo tempo, é informação demais, intensa, urgente e importante... vou conciliando com meu jeito mais lento de absorver e fazer parte das coisas, não quero perder o bonde, mas também não quero me perder... vou tentando seguir consciente... contribuindo para alguma mudança. mesmo com qualquer atropelo de tempo, falta de jeito, turbilhão.



2 comentários:

  1. "Jamais houve um objetivo tão importante. Sobre cada um de nós recai uma tremenda responsabilidade histórica. O partido exige-nos uma entrega total e completa. Que os filisteus continuem buscando sua própria individualidade no vazio; para um revolucionário, doar-se inteiramente ao partido significa encontrar a si mesmo. Sim, nosso partido nos toma por inteiro. Mas, em compensação, nos dá a maior das felicidades, a consciência de participar da construção de um futuro melhor, de levar sobre nossas costas uma partícula do destino da humanidade e de não viver em vão."

    - Trotsky, discurso de fundação da IV Internacional.
    Aqui tem ele inteiro: https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1938/mes/discurso.htm

    Não tem nada nessa vida mais gratificante do que poder lutar para que a humanidade seja, um dia, livre. E, se essa caminhada é muito difícil, às vezes dura demais conosco, ao longo dela temos muitas recompensas incríveis escondidas.

    Conhecer alguém como vc é uma dessas recompensas preciosas. Poder fazer parte da vida de gente incrível que passa a se aproximar dessa luta, uma luta pela humanidade; poder fazer parte desse caminho que é de todos os que tomam consciência de que nosso papel histórico é grande demais para podermos dar as costas. Eis a verdadeira alegria de nossos dias. Mesmo que o tempo ainda seja de fezes, maus poemas, alucinações e espera... não é tanto assim.

    É só respirar a luta. Ela é um sopro de ar fresco nesse tempo sombrio.
    Obrigado, Yuna.

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  2. Êta moça que muda! :-)
    Mas isso é bom. Numa das curvas que a gente perde às vezes a gente se acha.

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