ilustração da Juli Ribeiro |
tem uns momentos da vida que tem uma beleza, uma poesia, são meio como aquela cena de um filme que te faz sentir bem e dá uma nostalgia quando lembra
dá vontade de guardar numa coleção, uma coleção de céus, noites, mares, estrelas, árvores e lugares que nunca estivemos antes
um lugar longe, longe... e aquele lugar de todo dia, que de repente se transforma em outro
montanha, muito mato, uma subida íngreme, mão puxada pelas crianças, mirante, carona de trator, terra vermelha e um céu de estrelas
areia branca e fresca, lua amarelada tão perto do mar tocando a nossa pele, não parece noite, lençol pra proteger do vento que sopra como uma respiração lenta no pescoço
um bar, uma festa, uma sala de estar ou uma avenida no centro de São Paulo, uma brisa, ter que segurar nos braços da cadeira, na sua mão, pra não flutuar
tem esses momentos, que quando você tá vivendo sente que cada minuto é único, que precisa se descolar do corpo pra assistir tudo enquanto acontece, pra além de sentir o gosto e a sensação, poder ver a beleza da fotografia, da luz, do reflexo, dos movimentos
a gente nunca guarda o suficiente, o estalar das milhares de pequenas folhas secas, o céu entre as frestas da copa das árvores, olhar a noite por cima da marquise, apoiar a cabeça e por um instante esquecer de tudo mais em volta
esses recortes não são feitos só pelas coisas, pessoas ou lugares, são feitos de uma vontade, de uma mudança de ar, uma decisão, da passagem de um ciclo pra outro, de aceitar uma tristeza que passou e enxergar uma alegria que é possível
nessas horas perdemos a mochila, as coisas, o celular, as chaves, uma blusa, um brinco, perdemos a falta do chão e o medo, nos entregamos à vontade de não estar sozinhos na beira da estrada, entregamos um tanto da gente pra se fazer poesia...
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