Ontem assisti àquele filme que queríamos ver, Estranhos Normais, o filme não é deslumbrante, mas é engraçado e tem seus momentos especiais.
De cara ele já ganha pontos por dedicar o filme à todas as pessoas que tem medo, ou seja, todas as pessoas, e vai falando do que as pessoas têm medo, as pessoas têm medo de tudo, temos medo de nossa própria sombra, temos medo de ter medo!
O filme tem imagens muito bonitas, em muitas cenas o vermelho é forçadamente destacado, disso eu não gostei muito, parecia uma tentativa frustrada de criar um clima como o do filme Amelie Poulain.
Outro ponto para o filme se deve aos diálogos e olhares das personagens, sabe quando encontramos uma pessoa que nos sentimos bem quando estamos perto, instantaneamente, sentimos isso nos diálogos e olhares do filme, é como se por trás de todo o teatro, o filme passa uma esfera de teatro, ainda pudéssemos ver e sentir um real entrosamento dos atores, das pessoas vestidas de personagens.
Bom mas o que queria de fato contar para vocês é sobre um trecho de uma crítica do filme que li hoje:
"No melhor dos casos reencontramos a inspiração mais profunda do diretor de Mediterrâneo, que venceu o Oscar de filme estrangeiro. A sociedade seria opressiva; faria as pessoas seguirem destinos que não são os seus. Algum acidente pode fazer com que se reencontrem. Em Mediterrâneo era a guerra. Em Estranhos Normais pode ser um casamento prematuro, ou uma doença. De toda forma, qualquer pretexto é válido para uma pessoa abandonar a rotina alienante e satisfazer suas aspirações mais profundas. Essa é a visão de mundo de Salvatores, que não precisaria de metalinguagem para se exprimir." (Luiz Zanin)
No trecho em negrito, qualquer pretexto é válido para uma pessoa abandonar a rotina alienante e satisfazer suas aspirações mais profundas, esse trecho diz exatamente o que eu estava pensando, precisamos de um argumento, melhor ainda se for um argumento livre de culpa, para podermos ser o que realmente somos ou queremos ser.
Quando li esse trecho lembrei imediatamente de um desejo que sempre nutri em segredo, desde a adolescência, a princípio pode parecer mórbido, mas não é, ele ilustra exatamente essa vontade imersa que todos temos, de viver os dias como se fossem os últimos, de fugir e jogar tudo para os ares, de mandar o que não gostamos para os infernos, de se sentir no direito de só fazer o que faz sentido. Todos esses desejos grandes e ousados se escondem por trás da exigência de termos um argumento livre de culpa, como a morte iminente, uma doença muito grave ou a morte de alguém muito próximo.
Agora eu me/te pergunto, porque é mais fácil imaginar um argumento livre de culpa ligado a morte do que um ligado a vida. Que mecanismo é esse que criamos irracionalmente que nos paralisa e nos protege numa vida medíocre e cheia de medo. Isso realmente é uma vida segura. É uma vida vivida. Afinal o que vamos fazer com todo esse medo.
Num ensaio da Maria Rita Kehl chamado Elogio do Medo, ela fala um pouco da importância do medo, é preciso ter medo para instigar a coragem, a curiosidade e a imaginação. Desde criança gostamos do medo num jogo emocionante de encarar os próprios limites, do medo vem o frio na barriga, vem a euforia de quando atravessamos um trajeto escuro, vem a vida que sentimos latejando em nossa veias quando temos a coragem de encará-lo.
Afinal, estamos perdendo a coragem?
Eu perguntei pra Tabita, aquela da Torre no Porão, e ela acha que perdemos a coragem sim; de nos revelarmos. E curiosamente ela se traveste de medo, e o oposto também acontece. E as brincadeiras dos adultos são cada vez mais óbvias e entediantes! Como bem disse o Renato, tá Russo! oops, digo, "mas não sou mais tão criança a ponto de saber tudo".
ResponderExcluirAh! Eu adorei esse lugar. Obrigada por me trazer aqui!