17.8.13

não me encaixo


Ana Mendieta - performance - 1972


tive um pesadelo: não existo pra você
e sempre foi assim

por um período
fui um reflexo mais nítido de espelho

uma voz confortável
uma mão suave
pra acariciar seus cabelos
um corpo
moldado por suas vontades

não existo pra você
acho
não
sei

você nunca tem a dimensão real do que acontece
se convenceu de suas regras
de sua ética bem fundamentada
verborrágica
perturbadora

não aguento mais uma palavra sua
suas certezas e pessimismos me irritam
profundamente
não te suporto

a personalidade que rabisquei
cheia de cores
de vida
não faz mais sentido nessa relação
fajuta

não quero mais contar mentiras
não quero desperdiçar meus sonhos surrealistas
não quero mais te desenhar
te enxergar
nem te usar

o seu olhar macera

na minha fraqueza
insisto
numa vingança ridícula
você não existe mais

da sua forma
nas suas formas
não me encaixo mais



2 comentários:

  1. Excelente força expressiva. coisa gutural. Adoro isso porque o desenho da poesia é tremendamente expressivo. Parabéns! ah! , as fotos trazem um aporte de composição perfeito a poesia e vice-versa....a arte é assim!.....beijos....obs: posso compartilhar?

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    1. obrigada Rogerio, sua passagem por aqui é sempre especial, mesmo! pode compartilhar sim. beijo!

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