12.3.11

diário

eu sou egoísta é minha natureza, talvez meu caráter
pessoas deprimidas são mais egoístas ainda, ou talvez eu seja mais egoísta ainda por essa ser a minha natureza
sendo egoísta como sou e não gostando nem um pouco de mim nesse momento, preferia não existir
minhas palavras me perturbam, minha voz soa tão covarde, a sensação de existir está doendo, minha pele coça e se irrita ao menor toque com o mundo, não suporto a sensação dos tecidos sobre a pele, da umidade em meus cabelos, o ar parece áspero e espinhoso.
não quero morrer, quero não existir
minhas cartas de pedido de socorro desesperadas são chatas demais para serem lidas até o fim, são ridículas demais para serem levadas a sério, são fracas demais para serem reais
não pertenço a mundo algum e os vínculos que tenho são resultado de um esforço absurdo em mascarar minha existência impertinente, insuportável, desprezível
no trabalho sou aquela pessoa tediante, isolada, esquisita, que fala sobre a sua coerência no meio de suas ações tão incoerentes quanto vazias e inúteis
em casa sou a filha mal humorada, fria, irônica e ingrata
a irmã egoísta (é claro), irritante, fútil, metodicamente viciada em limpeza e em colocar as coisas friamente alinhadas, paralela ou perpendicularmente
a mãe irresponsável, que chega tarde em casa e perde a paciência com coisas ridículas e insignificantes
a mulher que representou por tanto tempo ser uma menina, uma boneca, uma marionete sem vontades e sem personalidade, que agora aparece como louca, neurótica e amargurada por não ter mais ânimos para representar
sem sonhos
em altos e baixos, mais baixos que os altos que andam meio por baixo
minhas palavras não servem mais, estão gastas, sem valor, sem significado, numa verborragia desperdicei seus sentidos, assim o faço todos os dias em tentativas sem respostas
essa pessoa que acredita nas palavras, espera por elas, se ilude e desilude a cada tentativa, como uma viciada sem limites
jogando na cara dos outros a toda e qualquer oportunidade verdades frívolas que não deveriam ser ditas, por educação, são inconvenientes
não existe mais vergonha porque só existe a vontade de não existir, e como numa prece as palavras são usadas e abusadas, são vontades, são pedidos egoístas
o meu tempo não se encaixa no tempo de mais ninguém, o meu tempo é decompassado, sem ritmo, sem tom
minha voz é travada pela falta de espaço interno, pela falta de reflexo no mundo, os espelhos estão voltados para direções mais interessantes, mais divertidas, menos obscuras e sufocantemente intensas, pretenciosamente intensas
a intensidade pode derrubar, pode enterrar o que sobra de uma pessoa
o vazio pode consumir o ar rarefeito, pardo, pesado na superfície baixa
a vida é feita num caminhar, caminhar sozinho, em silêncio, na companhia dos pensamentos, não adianta falar tanto, não adianta falar alto, não adianta se entorpecer, a cada passo os olhos que se abrem ainda são os seus, os pensamentos não se dissipam, a existência insiste
isso é viver
não tenho a coragem para outra opção, só me resta desejar
não existir.

Um comentário:

  1. yuna,
    li seu texto até o final, e não sei direito o q dizer, mas espero q essa má fase passe logo; pq vc é uma ótima companhia e uma pessoa maravilhosa.
    e tenho certeza q não sou só eu q penso assim... muita gente!
    bjos

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