12.12.10

Massacrados pela multidão, pela solidão

Está certo eu não sei bem o que quero  da vida, mudo o tempo todo, não sou uma, e a cada dia descubro outra dentro de mim, querer que alguém, um homem, acompanhe esse ritmo, se entrose nessas mudanças todas e me ame a cada nova mulher que resolva acordar em mim, deve ser, só pode ser, querer demais.

Não consigo e nem posso definir e delimitar o que sou e o que quero, simplesmente não posso porque não consigo, não sei bem, talvez não queira. A liberdade grita dentro de mim, querendo sair e ousar o tempo todo, ela não saiu ainda só porque o medo foi maior até agora. Sinto que o tempo do medo está acabando, não quero mais ter medo, não consigo mais me deixar dominar pelo medo, peguei o medo com as mãos e como carne crua o arranquei de mim, atirei pra longe. Posso sentir seu cheiro, me incomodo com sua presença, mas já não está dentro de mim. 

O mundo é outro agora, eu sou outra, a vida me parece vestida de chance, de sonho, de desejo. Quero agarrá-la nas mãos e deixar que me tome, que me envolva, que me devolva a alma, o espírito, o sentido... o significado de estar aqui.

Como é viver assim com os outros?

Ser estranha e não aceitar mais as amarras da vida de medo, ser sonhadora, e acreditar num outro jeito de existir, de ser e de estar no mundo. 

Tenho existido com um pé lá, outro cá, me dividindo numa democracia que não acredito e que não me faz bem. Outro dia, numa fala do Chico Whitaker, entendi o verdadeiro significado de democracia, decisão da maioria, representação, eleição - significa escolha, DIVISÃO, escolha entre necessidades legítimas, não me peça para escolher entre necessidades legítimas, eu quero e só posso existir inteira, eu sou mulher, sou mãe, filha, irmã, amiga, sonhadora, agente política, social, sou indivíduo, sou coletivo...

Pode ser complicado conciliar isso tudo, mas enquanto deixar algum desses "eus" de lado, me sentirei pouca, fraca, mentirosa, meia.

Paralelo à isso, diante disso, existe um mundo lá fora, caótico e conturbado, em uma ordem tão rápida quanto sem sentido, e não posso me desconectar desse mundo, escolhi estar conectada com seu destino e seu futuro, além de qualquer outra ligação que possa ter, tenho uma ligação concreta e indissolúvel, de carne e osso, o meu filho.

Que mundo estou construindo para meu filho, se hoje sinto que muitas coisas estão erradas, são injustas e impossibilitam uma forma de vida inteira e digna, se não bater o pé num outro caminho, que será da vida do meu filho e de todos os filhos do nosso tempo.

A minha geração está experimentando um massacre silencioso e doloroso, o de não poder existir inteiros. O de estar no meio da multidão, sufocados pela multidão e ser absolutamente sozinhos, sem laços sociais, sem empatia e sem felicidade.

"A felicidade só é real quando compartilhada" 
Na natureza selvagem, 2007, filme de Sean Penn baseado no livro de mesmo nome escrito por Jon Krakauer, sobre a vida de Christopher McCandless.

Não quero mais me isolar, simplesmente porque não posso, preciso existir e quero ser feliz, não me resta outra possibilidade, senão compartilhar...

(Está cada vez mais difícil dividir essa vida com esse homem, não temos uma grande solução, o que temos é só o caminho e não consigo dividir esse caminho com ele.
Em outros tempos ele seria o homem que me trancaria dentro de casa, me isolaria da vida, como louca, insana.)

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