29.7.08

meu pai me ligou hoje, eu disse que o caio tá com saudades de atibáia, ele explicou que podemos ir pra lá, mas não pra nossa casa, o carro tá quebrado, o fusquinha velho coitadinho, me contou que tá tentando comprar uma casinha por lá, juntar um dinheiro, tá difícil, putz, adoro meu pai, ele que me ensinou a gostar de verde e de praia e de acampar, acampar até dentro de casa, quando tudo era uma aventura e a gente era (parecia) uma família certinha, não, eu não ligo para isso, famílias certinhas estão falidas em todos os cantos, eu sei, isso não atrapalha a minha felicidade, eu não vou deixar, mas é que cada um vai para um canto e eu sinto saudades!!! engraçado como eu sei que isso é impossível, racionalmente inviável, mas no coração eu sinto assim, como quando era pequena e brincava de casinha e era gostoso, colocar todas as minhas coisas favoritas dentro de uma caixa forrada de pano cor de rosa e tudo era meu, e estava ao alcance da minha mão... eu sei, não dá, mas meu coração quer assim.
meu pai é o máximo, ele que fez a floresta de atibáia pra gente descobrir, não matava aranha e fez mil geringonças pra aproveitar água da chuva, ele que me ensinou a ser na minha e não cuidar da vida dos outros, aprender as coisas sozinha, nunca parar de estudar, me ensinou a conviver com as tralhas e fios elétricos, garantindo uma visão muito relativa do que é bonito de verdade...
ele não é perfeito, já brigou muito comigo, quando eramos pequenas e pentelhas e ele não tinha paciência e agente até ficava com medo, ele já bebeu muito, só ficava extrovertido quando bebia, eu era bobinha, achava graça, mas no final sempre acabava chorando, viajava muito, estava sempre looonge, minha mãe sempre fala, que quando eu nasci ele tava não sei onde fazendo a instalação de um show, já deu murro no armário, perdeu muita lente de contato, meu pai sempre trabalhou muito, eu sei que ele aproveita a vida do jeito dele e do jeito que dá... mas ele trabalhou e trabalha muito, queria que ele conseguisse tudo o que sonhou e sonha.
E tem a marcela, tenho que me controlar, mas quando vejo aquela menina eu vejo exatamente a yujujuyu que um dia escrevemos na porta do quarto, eu quero muito que essa menina tenha o melhor pai do mundo, adoro aquele jeitinho, nossa tenho que descobrir essa fórmula de criar filhos, filhos sem desejos compulsivos consumistas, desligados de quase tudo, uma simplicidade difícil de encontrar, uma menina que gosta de rosa e de barbie, mas que brinca de verdade e escreve na cara da boneca sem dó!!! cara, isso é demais, eu sei que não to conseguindo isso com o caio, não sei, não sei se é a fórmula "viver na dureza" ou "pouca tv muita viagem", pais hippies são um legado quase extinto, eu tive essa sorte, pro que veio junto de bom e de ruim, queria conseguir ser um pouquinho disso pro meu filho, só quem tem sabe o valor.